Precursora da caipirinha, os escravos no Brasil contavam com a garapa, o caldo-de cana não fermentada e quando possível animavam as festas com cachaça que até em parte dada para os espíritos dos mortos. Os sucos de fruta misturados à cachaça originaram a famosa “batida”. A mais famosa era a batida-de-limão que podemos considerar como a caipirinha, faltando os pedaços de limão com casca que dariam a caipirinha o seu gosto original.
Passemos ao início do século XX. O mundo e o Brasil fervilhavam, os anos 20 eram de agitação cultural, o Brasil se achava inferior e buscava um caminho próprio. Surgiu o Modernismo Brasileiro, revoltando-se contra as amarras impostas pela Europa. Literatura, pintura e poesia tiveram nova rota a seguir a partir deste movimento cujo símbolo era a antropofagia, ou seja o que é mandado pelos gringos será literalmente comido e absorvido, assim como alguns de nossos índios fizeram com os europeus. Acima de tudo o Modernismo valorizava a cultura brasileira. De novo a cachaça entrava em cena para as elites.
Oswald de Andrade casou-se com Tarsila do Amaral, uma das maiores pintoras modernistas. Tarsila, em, biografia por sua sobrinha, relata que na década de 20, ela organizava famosas feijoadas em Paris. O feijão era fácil de arrumar nos mercadinhos mas a pinga para a caipirinha vinha do Brasil e passava pela alfândega francesa rotulada como “produto de beleza”, o que não deixa de honrar as origens do nome “Al Kuhul”.
O pré-modernista Monteiro Lobato em seu primeiro livro, Urupês, fala das “caipirinhas rosáceas” do poeta Fagundes Varela, criava o personagem Jeca Tatu que criticava por sua indolência. Posteriormente Lobato mudou sua visão ao descobrir que o Jeca Tatu não era indolente e sim pouco instruído. Da batida de limão evolui-se para o limão com casca em rodelas ou pedaços. A tecnologia ajudou e tínhamos gelo à vontade para torná-lo refrescante. Mas quando é que o nome de caipirinha foi usado pela primeira vez para rotular o drinque?. Caipira era o termo paulista que designava a “habitante do campo” segundo o Dicionário de Vocábulos Brasileiros de 1889 e mesmo a origem desta palavra é obscura. Aparentemente originou-se do Tupi de “caipora” ou “curupira”. Caipora ou em uma tradução literal do Tupi por significa “habitador do mato”. Curupira é um ente fantástico, um demônio que vagueia errante pelo mato. Talvez alguém tenha abusado da bebida e valorizando a mitologia nacional viu “curupirinhas” à sua volta ao invés dos tradicionais elefantes-rosa dos desenhos animados.
Mas isso tudo é especulação. Certo é que a caipirinha é hoje um drinque conhecido internacionalmente e incorporado ao nosso rico folclore. O “The Dictionary of Drink” da Tiger Books dá a receita da caipirinha como é conhecida no mundo: Uma dose de cachaça, um limão e açúcar à gosto. Corta-se o limão em pequenos pedaços, coloca-se o açúcar e se amassa. Serve-se em um copo padrão, enche-se de gelo e finalmente adiciona-se a cachaça. Deve ser servido com uma colher. Esta receita é a nossa legítima caipirinha com a pequena diferença que aqui no Brasil usa-se ao invés da colher um palito de madeira.
Fonte: http://www.umacoisaeoutra.com.br/viagem/caipirinha.htm
http://www.socialitecom.com.br/gastronomia/gastronomia_drinques.htm
Acesso em maio de 2002