Há uma nova esperança para as vítimas de queimaduras e de acidentes que provocam lesões de grandes áreas da pele e que antes dependiam só de enxertos. A novidade vem da criação do laboratório de Cultura de Células de Pele e Epiderme Reconstruída, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que desenvolveu uma pesquisa de cultura de pele para a reconstrução da epiderme. O resultado do estudo, que demorou quatro anos para ser concluído, em 1999, surpreendeu e animou o meio científico. O cultivo de células de pigmentação da pele (melanócitos) e células-mãe (queratinócitos) que dão origem à formação de outras camadas da epiderme, resultou num processo de reconstrução da epiderme.
Isso na prática não só vai transformar o tratamento de pessoas com vitiligo, de queimaduras, lesões de grandes áreas da pele, reparação de cicatrizes e ulcerações como também facilitar o teste de novos medicamentos, em substituição aos com pessoas e animais. Coordenado pela médica dermatologista Maria Beatriz Puzzi, o laboratório é o primeiro do gênero no Estado.
As lesões provocadas pelo vitiligo – doença de fundo imunológico que se manifesta através de manchas brancas na pele- estão sendo tratadas com os melanócitos. A doença atinge 1% da população mundial, independente de idade ou raça. A técnica consiste em se fazer uma bolha com nitrogênio líquido no meio da lesão onde serão posteriormente injetadas as células cultivadas que vão se espalhando gradualmente, formando uma nova pigmentação da pele. A repigmentação ocorre mesmo nas lesões tratadas anteriormente, com resultados de até 70% de sucesso na repigmentação. O tratamento não funciona em estágios muito avançados da doença e em áreas despigmentadas.
Dependendo dos resultados de um estudo com os queratinócitos, que ainda devem demorar mais dois anos, muitas pessoas deverão ser beneficiadas através de enxerto de queratinócitos em ulcerações, principalmente as das pernas, provocadas por varizes. “Isso vai depender da avaliação do tempo que a reepitelização da úlcera demora para se recompor”, explica a médica.
Paralelamente ao estudo dos queratinócitos, está sendo desenvolvida uma pesquisa com epiderme reconstruída. Até agora, os testes realizados com restos de cirurgias plásticas de seio e de abdômen, tirando a epiderme da superfície e utilizando a derme como uns substratos para a cultura das novas células mostraram-se satisfatórios: em 45 dias a epiderme se espalhou até ficar reconstruída. Para evitar rejeições, o pedaço de pele sobre o qual se faz a cultura precisa ser da própria pessoa.
Outra vantagem em relação aos enxertos tradicionais, é que o pedaço de pele retirado, é muito menor, cerca de 2x1cm. Além disso, as culturas de pele poderão ser armazenadas, congeladas em nitrogênio líquido, com prazo indeterminado para utilização, dando origem ao tão sonhado “Banco de Pele”, que armazenaria culturas de células de doadores que beneficiaria a eles mesmos em caso de necessidade. O Banco de Peles será vinculado ao Banco de tecidos, que está sendo criado no departamento de Anatomia Patológica da Unicamp com previsão de um ano para estar funcionando. “O Banco de Peles representa um inestimável valor para o tratamento de queimados”, constata Maria Beatriz.
As pesquisas permitiram que se inaugurasse o Laboratório de Cultura de Células de Pele e Epiderme Reconstruída da Unicamp, primeiro “laboratório de pele” do Estado de São Paulo. O novo Laboratório irá dividir espaço com o Laboratório de Biologia Molecular, no Centro de Investigações em Pediatria (Ciped), no andar térreo. Ele recebeu financiamento da Fapesp e FCM para a aquisição de equipamentos como incubadora de CO2, centrífuga, geladeira, freezer de -40ºC e botijão de nitrogênio líquido, além de fluxo laminar e material de consumo. “Futuramente, iremos criar um Banco de Peles, de inestimável valor para o tratamento de queimados. Agora, estamos prestes a oferecer serviços de qualidade a outras universidades cujos projetos envolvam as atividades deste laboratório. Pela sua efetiva colaboração, agradeço muito a Biologia Molecular, a Cirurgia Vascular e a Plástica”, enfatiza Beatriz. No Laboratório, as peles ficam estiradas em placas dentro de uma estufa. Os produtos são testados dentro de um fluxo laminar.
O fato de as células cultivadas manterem as características genéticas do doador e da epiderme reconstruída formar todas as camadas da pele normal, o processo será usado para realizar teste de medicamentos como filtros solares e despigmentadores, dispensando o teste com animais e humanos.
Fonte:
http://www.unimeds.com.br/conteudo/qv100-pele.htm
http://www.estadao.com.br/ciencia/aplicada/2001/set/19/59.htm
http://www.estado.estadao.com.br/edicao/pano/99/06/23/ger747.html
http://www.hc.unicamp.br/boletim_hc_informa/numero14/mat2.htm
acesso em abril de 2002
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-2000, MDIC, Brasília, 2002, páginas 314, 330