O professor José Moura Gonçalves pode ser considerado um dos precursores da bioquímica brasileira. Na década de 30, ainda estudante de medicina em Belo Horizonte, começou a trabalhar no laboratório de química fisiológica do professor Baeta Vianna. De Minas, Moura Gonçalves seguiu para o Instituto de Biofísica da antiga Universidade do Brasil, no Rio de janeiro, a convite do professor Carlos Chagas Filho, e lá começou a trabalhar com físico-química de proteínas e enzimas. Viajou em seguida para a Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, onde realizou talvez o trabalho mais importante de sua carreira: o isolamento de uma nova proteína tóxica, do veneno de cascavéis, a crotamina. Por seu trabalho Estudos sobre a crotamina, teve seu nome indicado por unanimidade para receber o prêmio Lafi de ciências médicas em 1965.
Em 1945, como bolsista da Fundação Rockefeller, Moura Gonçalves foi estudar química de proteínas no departamento de química coloidal na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, onde permaneceu por um ano. Ele dedicou-se ‘a físico-química de proteínas, empregando técnicas de eletroforese, ultracentrifugação e difusão. Nessa época, um professor de química orgânica havia descoberto o dicumarol, a antivitamina K, que provocou enorme impacto científico no campo da bioquímica. Em Madiso, Wisconsin, Moura Gonçalves publicou como pesquisador-assistente, seu primeiro trabalho sobre constituição química de venenos de serpentes, com a colaboração de Alfred Polson, que na época, era o “rei da difusão”. Moura havia levado uma boa quantidade de veneno da Bothrops jararaca, e Polson uma amostra de veneno da Crotalus terrificus terrificus, da Argentina.
Moura Gonçalves relata suas pesquisas: “A partir da sugestão de Polson, fiz eletroforese dos venenos de Bothrops e Crotalus e pude ver, pela primeira vez, a proteína básica que mais tarde, no Rio de Janeiro, chamaria de crotamina. Quando levei o material para o exterior, já tinha a intenção de analisar seus componentes. Sabia que o veneno era rico em proteínas, pois em 1939, no Instituto Butantã os pesquisadores Karl Slota e Fraenkel Conrat haviam descoberto a crotoxina, primeira proteína tóxica isolada do veneno da cascavel.Nessa ocasião, quando comecei a trabalhar no assunto, só alemães faziam química no Brasil. . Em 1938, dois pesquisadores do Instituto Butantan, K.H. Slotta (1895-1987) e H. Fraenkel-Conrat, publicaram na revista Nature artigo em que descreviam o isolamento, a caracterização e a cristalização da crotoxina, enzima extraída do veneno da cascavel.
Fonte:
http://www.fmrp.usp.br/informativo/2000/informat01/page04.htm
acesso em julho de 2002
http://www.canalciencia.ibict.br/notaveis/txt.php?id=28
acesso em julho de 2008
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 389 e 572