Fármacos

Glicoproteína GP43

Estudiosa das endemias brasileiras, Rosana Puccia (1959) desenvolveu pesquisas rigorosas sobre a blastomicose sul-americana, micose profunda que lesiona principalmente as vias respiratórias, atingindo, com maior freqüência, pessoas do sexo masculino que vivem ou trabalham em zonas rurais no Centro-Sul do país. Realizou também pesquisa pioneira sobre a paracoccidioidomicose, micose endêmica de caráter sistêmico que atinge grande número de pessoas em várias regiões do Brasil e da América Latina. Nesse trabalho, Rosana Puccia identificou e procedeu à caracterização química do principal antígeno do Paracoccidioides brasiliensis, denominado de GP43 ou glicoproteína de 43.000 daltons. A padronização desse antígeno vem sendo efetuada pela Sociedade Internacional de Micologia Humana e Animal, que o distribui para vários laboratórios no mundo. Paralelamente, pesquisadores e estudantes de pós-graduação da Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal de São Paulo, e de outras instituições do Brasil e do exterior estão avançando na busca da cura para essa doença a partir dos resultados conseguidos pela pesquisadora. 

O verão, quando o calor e a umidade aumentam, é a época própria das micoses. Se localizadas nas mãos ou nos pés, podem ser tratadas mais facilmente. Às vezes formam manchas brancas na pele ou até coçam, numa preciosa indicação de sua gravidade. A paracoccidioidomicose ou, simplesmente, PCM é causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis, é difícil de ser detectada, até se manifestar em colônias que se formam normalmente nos pulmões. Um trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp, antiga Escola Paulista de Medicina) levou ao isolamento e ao estudo da ação biológica de um componente molecular do fungo e agora abre caminho para a detecção da infecção, antes que ela se manifeste clinicamente, e para uma vacina contra a PCM. É a glicoproteína gp43 (a abreviação gp refere-se à estrutura de uma glicoproteína: além dos aminoácidos formadores da proteína, há uma cadeia de caboidratos). Já se sabe que essa molécula permanece frouxamente ligada à parede que reveste a membrana celular do fungo e é desprendida para o meio externo, mas suas funções, em relação ao próprio fungo, permanecem pouco conhecidas. 

Como resultado do seu mestrado e doutoramento, concluído em 1990, Rosana identificou a gp43 como uma molécula protéica do P. brasiliensis que inicia as reações imunológicas no organismo humano contra a PCM, um marco em sua carreira científica, registrado em 1986 com a publicação de artigo na revista Infection and Immunity. No papel de antígeno, como são chamados os elementos estranhos ao corpo, a gp43 aciona a produção de anticorpos, como ela demonstrou. Rosana não parou. Tornou-se professora da disciplina de Biologia Celular da Unifesp em 1993 e uma das pesquisadoras do grupo reunido por Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos, seu orientador no mestrado e doutorado. Os pesquisadores da equipe de Travassos aprofundaram as descobertas de Rosana. Ao encerrar o doutoramento, Rosana Puccia ficou com a impressão de que a gp43 poderia ter uma atividade enzimática, por meio da qual poderia quebrar proteínas. Como verificou posteriormente, não era bem assim. Rosana, em colaboração com Adriana Carmona, do Departamento de Biofísica da Unifesp, encontrou outra molécula, uma serino-tiolprotease, esta sim uma enzima do fungo que faz o que a gp43 não poderia fazer. Não parece estar associada diretamente a reações do sistema imunológico, mas se constitui provavelmente em um fator de virulência do P. brasiliensis. “É possível que essa enzima tenha uma ação degradando compostos da matriz extracelular e ajude desta forma o fungo a invadir os tecidos”, diz a pesquisadora.

Fonte: 
http://www.fapesp.br/ciencia50.htm 
http://www.unifesp.br/dmip/rosana.htm 
http://www.fundacaobunge.org.br/fundacaobunge/galeria/areas.asp?1 
acesso em agosto de 2002
http://www.dmip.ecb.epm.br/detdoc.php?ID=22 
http://www.dmip.ecb.epm.br/detdoc.php?ID=16 
acesso em dezembro de 2002