Medicina

Diagnóstico de Câncer na Bexiga

A medicina pode estar mais próxima de um método não invasivo para o diagnóstico e o acompanhamento do câncer de bexiga. Uma pesquisa da Unifesp mostra que testes com uma substância presente na urina são eficientes para indicar a presença dos tumores. Atualmente, o diagnóstico da doença exige cistoscopia (endoscopia urinária) e biópsia. Para tentar aliviar o sofrimento dos doentes e evitar que pacientes saudáveis passem desnecessariamente por esses dolorosos exames, pesquisadores do mundo inteiro têm buscado identificar uma substância que ateste a existência desse tipo de câncer.

 

Em sua pesquisa de doutorado, o médico Luiz Eduardo Café verificou que o ácido hialurônico urinário (AH, uma substância produzida pelo tumor) é um dos mais fortes candidatos a ser esse marcador. O teste com o AH tem a mesma capacidade de detectar pacientes doentes (sensibilidade) que os exames para marcadores usados nos Estados Unidos – considerados centro de excelência na atividade – e possui poder de indicação dos casos negativos (especificidade) significativamente maior, muito próxima de 100%. Quando o paciente tem câncer, o exame consegue apontar a doença em 66,7% dos casos – quando o grau de malignidade do tumor é mais alto, a sensibilidade salta para quase 90%. A alta especificidade beneficia aqueles que não possuem a doença: o teste dá o resultado negativo em 95,8% dos casos.

O médico Luiz Eduardo Café, 34 anos, explica que o ácido hialurônico é um velho conhecido da ciência, nem sempre associado ao câncer. “Ele está presente normalmente no organismo, integrando a matriz extracelular (o espaço que existe entre as células)”, afirma. O problema é quando a substância se manifesta em excesso: isso indica a multiplicação descontrolada e desordenada das células, que é a marca registrada do câncer. Por conta dessa bagunça fisiológica, a própria matriz extracelular aumenta, o mesmo ocorrendo com a quantidade do ácido. “Isso já permitia que ele fosse usado para detectar a presença do câncer, mas apenas quando eram retiradas amostras do tecido”, conta Café. Mas, no caso específico do câncer de bexiga, a coisa poderia ser bem mais simples.

“O tecido que eventualmente poderia conter o tumor é lavado pela urina”, explica Café. Passando pelas células tumorais, o líquido arrasta consigo o ácido hialurônico em excesso, que é comodamente recolhido numa simples ida do paciente ao banheiro. Foi com base nessa percepção que o trabalho de Café começou, em 1998. Foram selecionados 52 pacientes do sexo masculino, com mais de 40 anos de idade e com traços de sangue na urina -um possível grupo de risco para esse tipo de câncer. Embora não tenham conseguido escapar do doloroso exame endoscópico, esses pacientes (28 dos quais acabaram mesmo tendo câncer) deram aos médicos a correlação entre o nível do ácido hialurônico e a presença da doença, atestado pelo exame tradicional do tecido. Se a substância aparecia em quantidade inferior a cinco nano gramas (cada nano grama equivale a um bilionésimo de grama) por mililitro de urina, era quase certo que não havia câncer.

O seguimento dos doentes com tumores superficiais (invasão do câncer ainda restrita à mucosa e à submucosa da parede da bexiga) é outro grande potencial do exame. Após a cirurgia endoscópica, é necessário acompanhar os pacientes com cistoscopias periódicas durante um período mínimo de cinco anos. Outra possível aplicação do teste, sugere o estudo de Café, é na determinação de um nível crítico de AH, capaz de diagnosticar precocemente uma “volta” do tumor. A substância pode ser também um aliado no prognóstico do câncer de bexiga. O aumento do AH pode ser ainda maior nos casos de tumores mais agressivos. Isso significa que, a partir de certo valor do ácido, existe uma chance de quase 100% de haver um câncer de alto grau de malignidade. Em tese, portanto, seria possível estabelecer o grau de perigo que o câncer representa e as perspectivas sobre seu desenvolvimento. O câncer de bexiga é o segundo mais comum no trato urinário, depois do câncer de próstata. Nos EUA, onde a doença é a quarta maior causa de câncer em homens, estudos apontam 261 mil novos casos diagnosticados anualmente e estima em 115 mil as mortes mundiais por ano.

 

Fonte:

http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed168/pesquisa5.htm

http://www.looksarado.com.br/saude/ago-teste%20de%20urina.htm

 

Acesso em janeiro de 2003