As pesquisadoras aposentadas pela UFMG Jane Magalhães Alves e Sheyla Maria de Castro Máximo Bicalho e a professora Ângela Leão Andrade desenvolveram tecnologia própria para produzir uma hidroxiapatita a baixo custo, utilizando como matéria prima, a calcita, um mineral abundante na região. Em 1983, a professora Jane concluiu sua tese de doutorado na área de Física do Estado Sólido, defendida na Universidade de Birmingham, Inglaterra. Tratava-se de um trabalho de interesse puramente acadêmico que investigava comparativamente defeitos da estrutura cristalina de apatitas de origem mineral, sintética e biológica, utilizando diferentes técnicas físico-químicas de análise. A apatita biológica mais comum, a hidroxiapatita, constitui a parte mineral de ossos e dentes dos mamíferos. Como são osteocondutoras, as hidroxiapatitas sintéticas são de grande utilidade em clínicas e centros especializados em ortodontia e ortopedia para a reconstrução óssea.
Após retornar à UFMG, onde era professora no Departamento de Química, Jane Alves continuou suas pesquisas. Depois, na década de 90, juntaram-se a ela nos trabalhos com hidroxiapatita, os professores Sheyla e Hermeto Barboza Machado e a bolsista de iniciação científica Ângela. Logo se deram conta do alto custo do produto disponível no mercado nacional e resolveram desenvolver um novo processo de síntese. Com os resultados animadores conseguidos na pesquisa do novo produto, viram ali uma boa oportunidade de negócio após se aposentarem. Até então as hidroapatitas comercializadas no país eram feitas de materiais como osso bovino, casca de ovo, corais, tendo como principal característica o alto custo. Assim nascia a JHS Laboratório Químico Ltda. uma empresa de biotecnologia hoje incubada na Fundação Biominas, em Belo Horizonte.
Os desafios porém não foram poucos “primeiro foi preciso desenvolver tecnologia para obtenção da hidroxiapatita, um trabalho que durou cerca de cinco anos. Nesse período, dependemos basicamente de investimento próprio e dos recursos técnicos disponíveis no Departamento de Química da UFMG. Além de algumas parcerias com outros setores da Universidade e outras entidades que acreditaram no nosso projeto e nos deram estímulo e apoio”, conta Sheyla. Entre essas, a Companhia de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), o Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) e o Laboratório do Coração. Numa segunda etapa, para garantir que o produto estava apto a ser utilizado, gastaram quase três anos com testes para verificar o comportamento da HAP-91, como foi batizada a hidroxiapatita desenvolvida, numa situação real. Foram feitos testes em animais de laboratório e implantes em cães, estes como trabalhos de mestrado e doutorado da Escola veterinária da UFMG.
Após um sacrifício pré-programado, os locais do implante foram estudados qualitativamente através de microscopia de luz, microscopia eletrônica de transmissão, de varredura e de retro dispersão. A partir dos testes comprovou-se que além de ser biocompatível, osseocondutora e de ser absorvida rapidamente pelo organismo, a HAP-91 podia ser produzida a custo inferior aos preços praticados no mercado. Para uso odontológico, o custo da HAP-91 fica em 25 dólares o grama, enquanto os preços de materiais similares disponíveis no país variam de 35 a 120 dólares o grama. De acordo com as pesquisadoras, o novo produto tem vários diferenciais em relação aos concorrentes, tais como a dureza. Por ser muito macia, a HAP-91 se aglutina na presença de qualquer líquido, tal como soro fisiológico, sangue e líquidos celulares, por exemplo, facilitando enormemente o manuseio. Outro diferencial é que devido à sua porosidade, não ocorre à formação de tecido conjuntivo fibroso. Um terceiro fator de diferenciação é que por permanecer retida dentro do tecido ósseo, ela dispensa o uso de membranas. Mas, sem dúvida, o maior diferencial é o tempo de absorção. Enquanto a HAP-91 desenvolvida pela JHS gasta em torno de três meses para se transformar em neo-osso, outros produtos similares demandam um tempo bem superior.
Fonte:
Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 66
Acesso em julho de 2003