Enxergar a vida em locais que, de tão pequenos, fogem à percepção dos olhos sempre representou um desafio para a ciência. Para ajudar a enfrentar esse obstáculo, a bióloga Andrea Da Poian, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vem desenvolvendo desde 1995 uma metodologia para observar os vírus, seus processos de infecção e a maneira como esses microorganismos afetam o metabolismo das células. A técnica permitiu visualizar, por exemplo, a proteína viral marcada no núcleo de uma célula uma hora após a infecção – um evento que nunca havia sido descrito anteriormente.
O processo de vizualização começa quando Da Poian liga, por meio de uma reação química específica, moléculas fluorescentes (chamadas fluoreceína ou bodipy) às proteínas formadoras da capa que protege o material genético dos vírus – o capsídeo. “Assim, quando olhamos as células contagiadas via microscópio, conseguimos ver exatamente onde as proteínas virais se encontram no decorrer do ciclo de infecção.”
Vírus são agentes parasitários cuja reprodução acontece necessariamente em uma célula hospedeira. São formados pelo seu genoma, constituído por uma ou mais moléculas de ADN (ácido desoxirribonucléico) ou ARN (ácido ribonucléico) protegidos pelo capsídeo ou ainda, em alguns casos, também por mais uma membrana lipídica que contém outras proteínas.
Enquanto estão no ambiente extracelular, os vírus são muito estáveis para proteger seu material genético, mas quando entram em contato com uma célula, eles expõem seu genoma que utiliza o material genético da hospedeira para produzir outros vírus. Há três conseqüências possíveis para a célula: ela pode morrer, permanecer intacta ou ter seu sistema funcional alterado de tal maneira que ela passa a se reproduzir incontrolavelmente (originando verrugas, por exemplo). Nem sempre os vírus agem da mesma forma em diferentes animais. “O da dengue mata as células de vertebrados (como as do homem), causando a doença, mas mantém as dos invertebrados intactas, não causando problemas para o mosquito transmissor”, exemplifica Da Poian.
A pesquisa enfoca três modelos de vírus: o vírus bovino que gera estomatite vesicular e pertence à família do vírus da raiva, o Mayaro, responsável por uma doença semelhante à dengue em seres humanos, e o Polivírus, causador da poliomelite. “Embora a poliomelite tenha sido erradicada nmo Brasil, este estudo possibilitará o entendimento de vírus semelhantes”, avisa Andréia.
Os biólogos atuam em duas linhas de pesquisa: na primeira estudam a estrutura do vírus, sua interação com a célula hospedeira e seu destino no interior da mesma. Na segunda analisam as alterações causadas pela infecção do metabolismo e no funcionamento da célula. “Muitas vezes, a replicação viral, responsável pelas infecções, se dá às custas de uma completa inibição das funções celulares. Em outras palavras: ao ser infectada, a célula passa a produzir somente moléculas virais. Alguns tipos de vírus chegam a utilizar a maquinaria enzimática da célula para produzir suas próprias proteínas, em vez de proteínas celulares”, conta Andrea Da Poian.
O próximo passo da pesquisa da bióloga é exatamente compreender o ciclo de infecção do vírus da dengue – até então o estudo só incluía o agente causador da estomatite vesicular no gado, considerado um vírus modelo. Da Poian acredita que seu projeto pode ser muito útil para investigar por que o vírus da dengue não mata células dos mosquitos. “Pretendemos estudar as diferenças nos dois tipos de casos de forma a tentar compreender as causas da dengue e desenvolver uma forma de combate à doença.”
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n244.htm
http://www.saudenainternet.com.br/noticias/noticias_377.shtml
acesso em fevereiro de 2002 envie seus comentários para otimistarj@gmail.com.