Agropecuária

“Colheitadeira de Sementes de Capim”

A Prata 1000 Indústria e Comércio Ltda. revolucionou através da mecanização, a forma de colher sementes de forradeiras, que era totalmente manual, criando a colheitadeira de sementes de capim no chão, única no mundo, que trouxe benefícios, rapidez, eficiência, redução de custos com a produção, além de destacar o Brasil como o maior produtor mundial de sementes de forrageiras.


Mecanizar a lavoura de capim elimina custos, mas o investimento inicial assusta os produtores. A máquina colhedora custa R$ 35 mil. Seu funcionamento depende de quatro tratores, ceifador e enleirador. Tudo não se compra por menos de R$ 155 mil. A empresa Prata 1000 recebeu o primeiro registro de patente de uma colheitadeira de sementes de capim, construída com tecnologia nacional e com um preço de R$ 35 mil. Diretores da indústria Prata 1000, com sede em Campo Grande (MS), dizem que a empresa levou 15 anos para desenvolver o projeto e agora está ampliando a fábrica e se associando a grupos estrangeiros para aumentar a produção em série. Existem 200 unidades desse equipamento em atividade nos campos de produção de sementes, mas os diretores da empresa acreditam que o mercado seja maior.

O inventor da máquina é o ex-mecânico da Varig Edison Morelis Coca. Ele começou observando o trabalho que os operários tinham para retirar as sementes de capim, quando visitou a fazenda de um parente em Mato Grosso do Sul durante as férias. Deixou o emprego e decidiu investir no invento. Coca conta que usou o dinheiro da indenização recebida da empresa aérea, mas também vendeu carro e casa para gastar com a experiência. Construiu duas dezenas de protótipos até chegar ao modelo definitivo e chegou a trabalhar de boia-fria para sustentar a família. Agora, Coca é reconhecida pela conquista. A máquina colhe as sementes do chão pelo sistema de varredura, com leve sucção. Em sociedade com Jânio Pereira Padilha, Coca instalou a indústria com capacidade para produzir até quatro máquinas por dia. Além da colheitadeira, sua indústria fabrica o enleirador e o ceifador. Para tudo isso se movimentar são necessários três tratores.

A Prata 1000 Indústria e Comércio (MS) é líder no mercado da indústria de máquinas agrícolas, no segmento de sementes de forrageiras. A empresa tem como carro-chefe a colheitadeira de sementes de capim Prata 1000. Além da colheitadeira de capim, a empresa desenvolveu a ceifadeira Prata 1000 e o enleirador GR300. Nos últimos três anos, a Prata 1000 faturou R$ 23,6 milhões e investiu em P&D R$1,2 milhão.

Nas mãos, os calos, e na lembrança os tempos difíceis que ficaram para trás. Até hoje, Edison Morelis Coca tem sob a mesa do escritório o maior símbolo de sua perseverança, o instrumento que utilizava para cortar cana-de-açúcar. Nessa época de dificuldades, nem a chuva dava trégua. Insistia em correr pelas paredes, inundando o pequeno apartamento onde morava com a família. Mas nada disso tirou o desejo de alcançar o objetivo de inventar a primeira colheitadeira de sementes de gramíneas e leguminosas do mundo. Mais tarde, o equipamento agrícola feito com tanto sacrifício seria o principal produto fabricado pela Prata 1000, empresa que criou em 1995.

Para iniciar o desenvolvimento do projeto, em 1983, ele vendeu o telefone e o carro, criando o primeiro protótipo. Utilizou peças de uma turbina de avião e a adaptou em um trator para aspirar as sementes do chão. Mas não deu certo. Junto, subiu uma nuvem de poeira que quase sufocou o motorista. No ímpeto de ver seu invento funcionando de forma adequada foi investindo tudo o que tinha. Depois de várias tentativas frustradas ficou sem dinheiro nem casa e desempregado. Vendeu até um carrinho de churros, que usava para complementar a renda familiar. Deixou a capital para morar no interior paulista, na pequena cidade de São Manuel, e acabou virando bóia-fria em um canavial para sobreviver. Contra a iniciativa também pesava a falta de credibilidade. “Era recordista em repetições na escola primária. Contava apenas com o apoio da minha mulher e com minha determinação”, diz.

Hoje, responsável direto pelo sucesso do empreendimento, Coca, como é conhecido pela maioria dos produtores de sementes forrageiras, está sempre disposto a ouvir outras experiências. Também aprendeu a contornar uma situação desfavorável e tirar dela algo como nova lição. Isso ajudou a enxergar a oportunidade de negócio e o motivou a acreditar que ela era possível de ser colocada em prática. E mais: o pioneirismo contribuiu para dinamizar e tornar mais produtivas as colheitas de sementes, transformando a atividade em uma das principais fontes de recursos do estado do Mato Grosso do Sul. “Eram necessárias 200 pessoas para um hectare e cada uma colhia em média dois sacos de sementes por dia. A máquina faz o mesmo serviço com uma pessoa só.”

A ideia para o invento surgiu quando foi visitar a tia, que morava na área rural de Botucatu, interior paulista. De manhã cedo, levantou e como de costume foi à estrebaria tomar leite, tirado na hora, misturado com conhaque. Caminhando por uma trilha feita pelo gado na grama, viu que havia nela uma porção de sementes no chão. Achou que era alpiste e perguntou ao primo se poderia levar para a criação de canários do pai. “Ele riu e disse: nem pardal come isso. É semente de capim. Se descobrir um jeito de facilitar a coleta das sementes do chão vai ficar rico.” A desilusão profissional trouxe a motivação que faltava para embarcar em seu sonho. Ele trabalhava na Viação Aérea São Paulo (Vasp), no aeroporto de Congonhas, como técnico em turbinas de avião e foi escalado para fazer um curso nos Estados Unidos junto com outros funcionários. Dias antes do embarque, todos receberam as passagens menos ele. Foi perguntar se tinha acontecido algum problema com o seu passaporte e descobriu que não iria mais. “Fui cortado porque colocaram o meu chefe no lugar. Ele ganhou a viagem como prêmio de aposentadoria”, diz.

 

Depois do episódio, voltou para a casa da tia para ver como colhia as sementes. Foi atrás de uma máquina que fizesse a coleta e descobriu que não existia nada parecido no Brasil nem no resto do mundo. Determinado a inventar o equipamento, foi em busca de informações e de cursos específicos, aprendendo a trabalhar com solda e a fazer corte de chapas e utilizando os conhecimentos da profissão. Continuou na Vasp por mais seis anos, saindo somente em 1989. Para a conclusão do projeto levou 12 anos. Finalmente conseguiu fazer o equipamento funcionar como queria, após testar 17 protótipos. Coca foi morar em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde conheceu Jânio Padilha, atual sócio, que mesmo sem recursos acreditou no empreendimento. Com a máquina pronta, faltava viabilizá-la comercialmente. Acertados os detalhes e aprimorados os processos de fabricação, em 1995 começaram a produzir em escala a primeira colheitadeira de sementes de capim no chão.

Em pouco tempo, houve resultados. Coca recebeu o prêmio de Qualidade e Produtividade da Federação da Indústria do Estado do Mato Grosso do Sul (Fiems), em 1995, menção honrosa no prêmio CNPq 50 anos e primeiro lugar em inovação tecnológica pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2001. Em 2004, ganhou o prêmio Empreendedor do Ano na categoria Indústria, concedido pela Ernst & Young, entidade que presta consultoria mundial em diversas áreas. O invento ajudou o Brasil a se tornar o maior produtor e exportador de sementes do mundo. Antes o título era da Austrália. Mas, hoje, esse país compra a tecnologia desenvolvida pela Prata 1000, que também tem acordo comercial com o México. O lema é: “Quem cultiva tecnologia colhe lucros”. Para continuar inovando, Coca faz parcerias com instituições de ensino, fornecedores e entidades representativas. Também participa de feiras nacionais e internacionais e de seminários sobre o tema.

 

 

Faz investimentos na capacitação dos funcionários, incentivando o ingresso em cursos técnicos ou superior. No comando da empresa, ele encontra tempo para aprender e estar sempre se atualizando. Mesmo sem terminar o ensino médio, já tem três MBAS na área de Administração e Gestão Empresarial, como aluno ouvinte. Ele participa de todas as atividades e presta os exames necessários para concluir e se formar no curso, e apenas não pode receber o certificado. Ciente dos tempos difíceis para diversas famílias brasileiras, Coca desenvolve um trabalho social com crianças dentro da empresa. Dá oportunidades para meninos de rua, através de um programa implantado na Prata 1000, que oferece educação escolar e ensino profissionalizante. Também trabalha com alunos do Senai que tiram notas abaixo de cinco. Bem-humorado ele diz: “Sou formado quatro vezes na quinta série e pós-graduado em catecismo”. Ele acredita que não teve oportunidade de mostrar o seu valor. “A sociedade exclui os que estão abaixo da média. Tive que conquistar a credibilidade e provar que podia contribuir e ser bem-sucedido.” Atualmente, Coca assume o cargo de diretor da Fiems. É também diretor da Câmara e Comércio Brasil–Itália, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e faz parte do Conselho de Energia do Estado do Mato Grosso do Sul. “Se a pessoa não acreditar nela mesma, ninguém vai.” É junto da família e praticando o hobby preferido, a pesca, que ele recarrega as energias e motivação para superar qualquer dificuldade.

A Prata 1000 hoje, detém o mercado da Indústria de máquinas agrícolas no segmento de sementes de forrageiras. A empresa Prata 1000, líder de mercado no segmento, tem como “carro-chefe”, a colheitadeira de sementes de capim Prata 1000, porém, cada equipamento pela empresa desenvolvido, foi imprescindível para que o produto rural tivesse acesso ao mundo da globalização através da tecnologia e tecnificação de sua lavoura e melhoria de qualidade do seu produto final, deixando de ser considerada uma cultura desvalorizada ou mesmo como um subproduto da atividade na produção de sementes. A Prata 1000 com cerca de 100 funcionários, investe em média 6% (seis por cento) do seu faturamento em P&D, totalizando um total de cerca de R$ 1 milhão de reais nos últimos três anos.

Além de ter desenvolvido a colheitadeira de capim, sendo a única no Brasil e do mundo, também desenvolveu e comercializa com sucesso os seguintes principais equipamentos integrantes da colheita: Ceifadeira Prata 1000: Equipamento que vem em primeiro lugar na ordem da colheita, tem a função de cortar bem rente ao chão, o capim em pé ainda com a semente, depositando-a no chão através do processo de ceifagem. Enleirador PQ-200 e ou Enleirador GR-300: Equipamento que vem em segundo lugar na ordem de colheita, desenvolvido dento de padrões modernos de tecnologia com relação à eficiência e resistência de seus componentes, tem a função de enleirar o capim cortado pela Ceifadeira Prata 1000, melhorando ainda mais a deposição da semente contida na massa ao chão, enleirando lateralmente à sua faixa de trabalho, toda a massa que cobria a semente, ficando esta semente exposta e pronta para o processo de colheita “sistema-varreção”, pela colheitadeira Prata 1000.

 

 

Fonte:

http://www.estado.estadao.com.br/jornal/suplem/agri/98/09/16/agri015.html

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileriro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 277, 355, 362, 402

acesso em abril de 2002

http://www.prata1000.net

acesso em setembro de 2004

http://www.finep.gov.br/premio/folhas_inovacao_premio_2004/centro_oeste_tela.pdf

http://www.empreendedor.com.br/ler.php?cod=794

http://www.ms.sebrae.com.br/sucesso/view.htm?ma_id=2462

acesso em julho de 2005

http://www.finep.gov.br/premio/fotos_brasilia_final_2005/julgamento/pages/Foto%20João%20Luiz-FINEP%2035_jpg.htm

acesso em outubro de 2006