O outro único carro 100% projetado e manufaturado no Brasil, além do Gurgel BR-800, foi o CBT Javali, lançado em 1990. A CBT (Companhia Brasileira de Tratores), como seu nome sugere, era uma fabricante de tratores, que resolveu criar um off road, um verdadeiro utilitário, que fosse forte, ágil e brasileiro.
A autonomia da CBT no projeto foi levada às últimas conseqüências, até o turbo era produzido por ela. O carro era um tosco utilitário de um despojamento franciscano. Feio e barulhento. Mas era extremamente forte, seu motor era um turbodiesel de três cilindros que rendia brutais 25,5 kgmf de torque a apenas 1600 rpm. Por ser ciclo Diesel, o motor trazia as vantagens de ter muito torque em baixas rotações e de não ter distribuidor (para molhar ao cruzar rios) nem carburador (para a cuba desnivelar em aclives); características muito convenientes para a proposta do carro. O proprietário de um CBT Javali, Fernando Almeida, de Santa Vitória do Pomar no Rio Grande do Sul dá seu depoimento: “Logo que comprei foi uma alegria, que durou pouco, assim que comecei a tentar domar aquele porco, digo Jipe, descobri porque do nome Javali. A começar pelo conforto, não existe posição de dirigir adequada, pula mais que burro xucro, a direção é dura como a de um caminhão carregado, e se desgoverna pros lados, o motor 3 cilindros faz uma barulheira e tremedeira infernal, se soltam os parafusos, racha e quebra a lataria, treme até os dentes da gente, não tem estabilidade, a caixa de mudanças estava sempre quebrada, juntamente c/a caixa de transferencia, nunca tem freio, a embreagem é uma desgraça, chega a doer a sola do pé, o escapamento esta sempre quebrado, o arranque toca para o lado contrario, pifa e não tem peças, todo o projeto é mal feito, parece tecnologia dos anos 30”.
Outro proprietário Alexandre Valle contesta: “Tenho um veiculo Javali a muitos anos e descordo dos comentarios feitos, pois com pequenas adaptações ele se tornou um excelente off road, melhor que a maioria dos concorrentes, pois é extremamente resistente e dificilmente quebra, normalmente ele é que puxa os demais dos atoleiros em trilhas e em rios, por ser diesel e não ter distribuidor, nada para esse veiculo, sem falar na força de seu 4×4 e reduzida da até para puxar mais de 1 jeep de atoleiro.”
O Javali dispunha de um câmbio de quatro marchas, com tração 4×4 e reduzida acionadas por alavanca e roda-livre de acionamento manual junto ao cubo das rodas dianteiras. Suas suspensões eram eixos rígidos com feixes de molas semi-elípticas e amortecedores. Um conjunto feito para a terra, resistente, com curso grande o bastante para sobrepor qualquer obstáculo.
Sem dúvida era um carro com inegável vocação para o trabalho, evocando a força dos seus ancestrais (os tratores da CBT) sem o apelo esportivo e de lazer dos sport-utilities tão comuns hoje. Seus concorrentes diretos àquela época eram o Toyota Bandeirante e o Engesa. O Javali foi vendido ao exército e produzido em série para civis (em uma única cor, um tom entre o cinza e o bege). Mais tarde passou a estar disponível somente por encomenda.
Fonte:
http://www.montadorasbrasileiras.hpg.ig.com.br/carreira/40/index_int_8.html
acesso em março de 2002
http://freehost18.websamba.com/rodrigao/brasileiras/brcbt.htm
acesso em novembro de 2002
Agradeço a colaboração de Fernando de Almeida (almeidarroz@hotmail.com) que prestou seu depoimento por e-mail em dezembro de 2002
Agradeço a colaboração de Alexandre Valle (alexandre.vallecasa@terra.com.br) que prestou seu depoimento por e-mail em abril 2005
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