Um aluno inventor pode ser encontrado no quinto semestre do curso de Engenharia Mecânica da Universidade de Brasília (UnB). Carlos André Cosac, 23 anos, colocou seus conhecimentos em prática, juntou sucata, fabricou peças e equipou seu Chevette ano 85 com a suspensão que desenvolveu. A idéia surgiu para suprir uma necessidade sua. O Chevette rebaixado não tinha condições de chegar à fazenda da família, onde ele gosta de passar os finais de semana. “Precisava de um automóvel polivalente”, explica. O estudante mergulhou em livros de mecânica, aproveitou conhecimentos de física do Ensino Médio e da Universidade e percebeu a viabilidade de seu projeto. Assim, teve início um processo que duraria sete meses.
Carlos decidiu instalar um sistema hidráulico que elevaria o chassi do carro sem alterar o comprimento das molas e a regulagem dos amortecedores. Ou seja, o projeto original da suspensão permanece intacto. Durante a pesquisa, deparou-se com a opção de um sistema pneumático, que foi descartado pela falta de confiabilidade e segurança. Teria ainda, com esse sistema, que remover molas e amortecedores do conjunto. Após cinco meses de desenhos, cálculos, fabricação e compra de peças, o Chevette foi levado à oficina para a instalação do equipamento. “Tenho em vista sempre o uso de materiais baratos”, conta o inventor. Como não tinha condições financeiras para encomendar as peças, a saída seria usar itens existentes e “fabricar” apenas o estritamente necessário.
Para criar pressão suficiente para levantar o carro, Carlos adquiriu em um ferro-velho a bomba da direção hidráulica do Omega. Um radiador de ar quente do Honda Civic foi colocado para resfriar o óleo do sistema hidráulico. Servo-motores de trava elétrica de portas foram usados para abrir e fechar as válvulas. A tubulação do sistema hidráulico e as válvulas foram fabricadas artesanalmente. Foram necessários dois meses na oficina e investimento de R$ 1,6 mil para Carlos conseguir instalar a suspensão hidráulica. O carro está em fase de testes desde março, quando voltou às ruas. Em novembro, quando terminar essa etapa, ele pretende desmontar o sistema e analisá-lo com professores da UnB. A avaliação poderá confirmar o sucesso do projeto ou a necessidade de uma nova fase de testes.
O estudante desenvolveu o projeto do Chevette com o objetivo de aplicá-lo em outras situações. Ele explica que o sistema hidráulico da suspensão pode ser usado em carros de corrida, off-roads, veículos rabaixados, macacos hidráulicos e maquinário pesado como tratores.“Quero que minhas invenções tenham serventia para as pessoas”, conta Carlos. A suspensão instalada no Chevette tem capacidade para levantar 450 kg em cada roda. Com uma bomba mais potente e o dimensionamento certo dos cilindros, a capacidade do sistema pode ser ampliada para suportar cargas mais pesadas. Tratores, por exemplo, poderiam utilizar o sistema em terreno irregular para manter a estabilidade.
A potência necessária para encher os cilindros e elevar o carro é proveniente da polia do motor. Ao atingir dois mil giros a bomba da suspensão descarrega o máximo de força e faz o veículo voltar a sua altura de fábrica. Para levantar diferentes equipamentos, a suspensão pode se valer de outras fontes de energia. Um motor elétrico forneceria, por exemplo, força para levantar um macaco hidráulico. Carlos ainda tem planos de instalar um dispositivo de aceleração lateral no Chevette usando um sistema de pêndulos, e aquecer a piscina com o calor da churrasqueira enquanto assa um churrasco. Onde ele quer chegar com tudo isso? “Quero trabalhar no centro de desenvolvimento tecnológico da NASA”, confessa o humilde inventor.
O projeto de Carlos André pode parecer familiar. O sistema hidractive, que ficou famoso com o Citroën Xantia e que hoje equipa o C5, funciona de maneira semelhante à suspensão do aluno de engenharia mecânica. Há, no entanto, grandes diferenças no conceito do equipamento. A versão da fábrica francesa é hidropneumática. Um compartimento com nitrogênio substitui as molas para dar flexibilidade à suspensão. Enquanto outro com fluido faz as vezes do amortecedor, absorvendo os impactos do terreno. O projeto de Carlos, sem remover molas ou amortecedores, trabalha com cilindros hidráulicos localizados entre o suporte das molas e o chassi, para erguer o veículo. Em seu sistema o funcionamento e o desenho original da suspensão permanecem inalterados.
Fonte: http://www.jornaldebrasilia.com.br/anteriores/31-07/automoveis_7.htm
acesso em outubro de 2002
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