Ari Rocha desenvolveu o projeto no ano de 1963/64, tendo conquistado o Prêmio Lúcio Meira de design automobilístico, no Salão do Automóvel de 1964. Em novembro do ano seguinte, o protótipo construído na “Carrozzeria Fissore”, na Itália, foi agraciado como proposta mais inovadora do “47º Salone Internazionale dell’Automobile” de Turim. Atualmente está sendo considerado como o primeiro “mono-volume” em forma de cunha, solução hoje muito difundida em praticamente todas mini-vans e em veículos como o Smart e o Mercedes classe A. Paulistano, Ari cursou Arquitetura na FAUUSP (1964) antes mesmo de serem criadas as escolas de Design no país, em virtude do grande interesse por automóveis.
Com Mestrado em Design na Itália (1966) Ari concluiu o doutorado em Design no Brasil na USP (1973), tendo como tema “O Veículo e a Cidade”. O inusitado é que foi a primeira defesa de tese de Doutorado em Design realizada no Brasil; desse modo, para conseguir montar uma banca, foi preciso trazer examinadores, como o Andries Van Onck, do exterior. A proposta consistia em limitar o acesso ao centro urbano de São Paulo, criando bolsões de estacionamento, a partir de onde as pessoas utilizariam ônibus circular ou um veículo “auto-serviço”, uma espécie de evolução do Aruanda com motor elétrico criogênico (funciona a baixas temperaturas), que as próprias pessoas dirigiriam e deixariam na rua para que, a seguir, outro usuário pudesse utilizar. O maior questionamento da banca girou em torno da proposta de que a carteira de motorista fosse um cartão magnetizado para permitir a identificação do condutor e responsabilizá-lo em caso de acidente, assim como para enviar uma conta de serviço público (do mesmo modo que as de telefone ou energia). Como ainda não existiam nem os cartões de crédito, essa solução foi considerada uma idéia impossível de se concretizar…
Ari em seus 40 anos de profissão realizou muitos projetos, que passam desde dinamômetros até veículos que incluem uma Maseratti-Osca e a coordenação geral da etapa de definição do projeto de Design do trem que atualmente é fabricado para o Metrô de São Paulo. Membro da Academia de Ciências-RN e do Comitê de Educação da UIA-UNESCO. Pesquisador e consultor do CNPq, desde 1973, Ari dedicou a maior parte da vida profissional à melhoria e renovação do ensino e das tecnologias educacionais, por considerar urgente a necessidade de promover uma mudança de mentalidade, que hoje considero decisiva para o próprio desenvolvimento nacional.
Já no início da década de 1960 era possível perceber o acelerado adensamento do tráfego nas grandes cidades, mesmo que São Paulo tivesse então uma frota em torno de 350 mil veículos (hoje supera os 5 milhões). A melhoria e incentivo ao uso do transporte público, associada a propostas de veículos individuais mais adequados (e seguros) para uso urbano, foi a idéia adotada no projeto desse carro. Uma pesquisa (empírica) realizada pelo inventor Ari Rocha em 1962, com a ajuda de colegas da universidade, mostrava que quase 2/3 dos carros circulavacom somente UM passageiro e dos restantes, a maioria absoluta levava no máximo DUAS pessoas. Sem perder de vista que eram, em grande parte, veículos de origem norte-americana com mais que 5 metros de comprimento. Além disso, oferecerem uma visibilidade reduzida em virtude das pequenasdimensões dos vidros, ao abrir as portas era necessário grande espaço lateral, as manobras de estacionamento eram dificultadas, enfim, uma série de fatores que me fizeram definí-los, à época, como “dinossauros” (enormes e em extinção). A partir da “provocação” do professor de Urbanismo, professor Lauro Birkholz, para que encontrasse uma solução atenuante, pensei um carro urbano e, achando a idéia promissora, Ari acabou projetando o Aruanda, que acabou vencendo o Prêmio Lúcio Meira, no Salão do Automóvel de 1964, cujo protótipo foi premiado no Salão de Turim (Itália) em 1965. Não havia uma premiação específica como no Salão do Automóvel brasileiro, mas ele foi considerado como a proposta mais inovadora, ganhando a capa da revista oficial dos “Carrozzieri”, o que me valeu uma homenagem especial no almoço oferecido pela FIAT a todos os expositores. Como estagiava na fábrica Vemag, que começava a produzir o DKW-Fissore, Ari recebeu um convite do Mário Fissore para construir um protótipo em Turim, na Itália.
Segundo Ari “O conceito se apoiava na premissa de que, como não se pode ampliar indefinidamente a quantidade e dimensões das ruas, para atender ao aumento do número de carros em circulação, a solução ideal seria melhorar o transporte público para incentivar seu uso, ao mesmo tempo em que se reduziria os veículos privados a uma dimensão muito compacta. A concepção básica foi de “vestir” uma pessoa (cerca de 75kg) e bagagem mínima com um carro para uso essencialmente urbano, de dimensões muito reduzidas (aproximadamente 2,40m X 1,70m X 1,40m) e pesando cerca de 400kg. Isso em contraposição aos enormes automóveis norte-americanos (que eu chamava de dinosauros, pois em previsível extinção) com quase 6 metros de comprimento e mais que 2 toneladas de peso, que precisavam motores enormes e potentes, de elevado consumo, praticamente só para levar o peso do próprio veículo. A forma de cunha, mais aerodinâmica, provocando menor resistência ao ar, reduzia ainda mais o gasto com combustível”.
Com a repercussão alcançada em Turim, houve várias propostas tanto de trabalho, quanto para estudar a fabricação. A mais importante veio através da visita do Presidente do Senado da Austrália, para produzí-lo com motor elétrico, em parceria com a CAV daquele país. No Brasil foram várias possibilidades que acabaram não se concretizando, porque naquela época haviam muitos interesses em jogo e, segundo Aro Rocha, com a conivência do Governo, a ANFAVEA evitava qualquer concorrência que pudesse colocar em risco a situação das (poucas) montadoras que aqui atuavam. As três iniciativas mais importantes foram: a) Um grupo independente, que era representante no país de um fabricante de motos e veículos leves da Itália, demonstrou forte interesse em fabricá-lo em São Paulo; b) Através de um empresário da Bahia (Jean Karr), o Centro Industrial de Aratú, Governo da Bahia em um “pool” de bancos ofereceu as condições para que se instalasse uma fábrica naquele estado. Cheguei a fazer contato com o Sr. Soichiro HONDA, para fornecimento do motor, em troca de participação no empreendimento (que foi aceita), mas não se obteve aprovação do (então) GEIMEC, com os mesmos argumentos que já haviam impedido a entrada da Fiat e da Peugeot no Brasil; c) A FNM, através de seu presidente, manifestou interesse (na mesma época em que se falou da instalação da Citroën, na fábrica de Duque de Caxias-RJ). Depois me confidenciou que essa ousadia havia lhe custado o cargo.
Segundo Ari Rocha “Minha avaliação pessoal hoje, já superada a fase das análises “emocionais”, é que sendo uma solução avançada demais para o seu tempo, certamente encontraria dificuldades para sustentação como um produto no mercado. Creio que acabada a “novidade” de uma solução (então) muito arrojada, só ocuparia uma estreita fatia do mercado. O prêmio, promovido por Caio de Alcântara Machado, teve importância decisiva na carreira de designer de Ari Rocha: “Muitos dos designers mais festejados surgiram nesse processo objetivo e eficiente”. Atualmente Ari está acertando detalhes da doação do protótipo para o Museu do Automóvel da ULBRA, em Canoas-RS, onde esperamos que em breve, os aficionados por automobilismo tenham a oportunidade de apreciá-lo. Ari Rocha esta trabalhando na criação de um Curso sobre Design da Mobilidade, em universidade paulista, que deverá iniciar as atividades já em 2006.
Fonte: Agradeço a Ari Rocha (ari@digi.com.br) pelo envio de material em outubro de 2003 para composição desta página
envie seus comentários para otimistarj@gmail.com.