Automóveis

“A4”

No primeiro semestre de 2006, o Brasil poderá ter seu segundo automóvel nacional, 11 anos depois da falência da empresa brasileira Gurgel e dez anos após o surgimento da Troller, produtora de jipes. A Tecnologia Automotiva Catarinense (TAC) começará a produzir no ano que vem o lote-piloto do projeto A4, um veículo fora-de-estrada desenvolvido por um grupo de empresas de Santa Catarina, a partir do projeto de lideranças locais para haver uma indústria automobilística no Estado. A TAC é resultado de uma parceria entre as empresas Tecnofibras, Engefibra, Fast Parts e Wiest, todas do setor de autopeças de Santa Catarina. Até o final deste semestre, a TAC espera ter definido em que município instalará a planta industrial do A4, que deverá empregar 60 pessoas e fabricará 15 unidades por mês, no começo de suas operações. Neste mês, o grupo espera colocar cotas no mercado para concluir a capitalização da empresa. Do investimento de R$ 15 milhões necessários para a fábrica — construção do prédio e compra de maquinário — faltam R$ 3 milhões. Entre o final deste ano e o início de 2006 os protótipos definitivos para testes estarão concluídos. O jipe deverá ser lançado oficialmente no Salão do Automóvel de 2006, em outubro. Ao término do terceiro ano de produção, a empresa deverá atingir o limite de fabricação planejado: cem unidades por mês. 

O A4 deve ser produzido de forma semi-artesanal. Concebido para o mercado de luxo e de consumidores de renda elevada, deverá custar mais de R$ 60 mil. O projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação, bancado pelas empresas associadas, baseou-se em engenharia e no uso de peças disponíveis no mercado nacional, feitas pelas empresas de autopeças catarinenses — daí o baixo investimento necessário, segundo a empresa. O veículo “nasceu” de uma pick-up Ford Ranger toda avariada depois de capotar. O então empresário da construção civil Adolfo César dos Santos, formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comprou essa pick-up por conta de sua paixão pela mecânica e pelos veículos fora-de-estrada. Desmontou a Ranger, remontou-a com várias adaptações e esse protótipo, o Trilha, foi a inspiração do grupo de empresários da TAC, organizados a partir de uma iniciativa de José Fernando Xavier Faraco, presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Hoje, Santos é o diretor-presidente da TAC. “A primeira premissa desse projeto é que ele tivesse itens de mercado que atendessem às suas características. A segunda: qualquer coisa que tiver de ser fabricada ou ter serviço agregado deverá ser feita prioritariamente por empresa catarinense, para usarmos o potencial do Estado”, conta Santos. “Queremos mostrar a capacitação tecnológica de Santa Catarina, de forma que as empresas que estão participando desse projeto conquistem mais mercado. O projeto ajudará também na atração de novos investimentos para nichos de mercado”, explica. 

Essa necessidade de “divulgar” Santa Catarina veio do fato do Estado deter uma forte indústria, na qual o setor de autopeças se destaca, e não ter conseguido atrair nenhuma empresa automotiva nos anos 90, quando da abertura do mercado nacional. “Entramos em todas as disputas, mas por razões relacionadas à guerra fiscal não conseguimos trazer nenhuma empresa para cá. Daí pensamos: por que não desenvolver a nossa própria indústria?”, comenta. O A4 requereu muito mais um esforço de desenvolvimento do que de pesquisa propriamente dita, já que partiu da premissa do uso de componentes existentes no mercado. O P&D é terceirizado: a TAC contratou um grupo de engenheiros-consultores, egressos da Ford, e uma empresa de design, a Questto Design. O conhecimento produzido pelo Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC deu o norteamento inicial para o projeto básico de desenvolvimento do A4. “Pretendemos fazer uma parceria com a UFSC quando começarmos os testes relacionados a ruídos e vibrações”, afirma Santos. A universidade tem um moderno laboratório para esse tipo de teste, resultado da parceria que fez com a empresa de compressores Embraco, que precisa realizar os testes e desenvolver tecnologia para diminuir ao mínimo o ruído e vibração de seus produtos, atendendo às normas internacionais de fabricação de compressores. 

“Nosso maior desafio do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico do produto foi estabelecer as alianças estratégicas com os fornecedores, porque é difícil despertar a atenção das empresas para projetos de fornecimento de baixa escala”, destaca Adolfo Santos. O chassi do veículo ficou sob responsabilidade da fábrica de escapamentos Wiest, que o produzirá. Já a carroceria, modelada pela Fast Parts, será confeccionada na Engefibra e na Tecnofibras. O motor é um Volkswagen 2.0 e a tração é 4×4. “Esse segmento está crescendo no Brasil: em 2004, foram vendidos 40 mil veículos e para este ano a expectativa é de 50 mil”, aponta. Entre os diversos esforços, a equipe de P&D precisou desenvolver modelos matemáticos para o projeto de estrutura e dos principais componentes mecânicos, softwares específicos para desenho e desenvolvimento de superfícies, a elaboração da carroceria e do interior do veículo; também usou softwares de última geração para os cálculos das geometrias de suspensão e direção, e tecnologia virtual para modelagem, construção e desenvolvimento dos protótipos. O jipe adota o moderno sistema de suspensão independente nas quatro rodas, permitindo que as mesmas permaneçam a maior parte do tempo em contato com o solo, melhorando a velocidade e estabilidade do veículo, aumentando ainda o conforto dos passageiros, já que o A4 foi idealizado também para o trânsito urbano. Boa parte dos fora-de-estrada tem suspensão independente dianteira, apenas. Um dos desafios da empresa será a prestação de serviço de assistência técnica e mecânica para seus clientes. A TAC estuda três modelos. Um envolveria uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Nacional, outro com empresas já estabelecidas. Por fim, a TAC estuda a possibilidade de fazer um investimento próprio, montando uma pequena rede. “Isso será definido até abril de 2006”, finaliza Santos. 

O protótipo nasce com motor Volkswagen 2.0 e 112 HP, mas não há acordo formalizado com a montadora para fornecimento dos motores quando o veículo for produzido em escala industrial. O coordenador do projeto, Adolfo Cesar dos Santos, engenheiro mecânico e um dos vice-presidentes da Fiesc, explica que a idéia de fazer um veículo tem intenção de dar maior visibilidade às indústrias catarinenses de autopeças para novos negócios e atrair investidores ao Estado. Hoje, são cerca de 120 indústrias de autopeças no Estado. “Esse será o terceiro veículo em uma família. Ele é um carro de lazer direcionado ao público A e B. É aliás mais que um veículo, é algo lúdico”, comenta Santos. O veículo envolve componentes de indústrias como a Fast Parts Protótipos, Tecnofibras – do grupo Busscar -, Engefibra, Wiest e Elmeca. Cada uma entrou com o produto ou serviço mais adequado para a fabricação do veículo. Ao todo, o Projeto A4 contempla investimento de R$ 15 milhões, feito pelas indústrias associadas.

Neste momento, estão em caixa R$ 12 milhões e com a apresentação do protótipo a Fiesc espera atrair interessados que possam entrar com os R$ 3 milhões que ainda faltam, incluindo investidores pessoa-física. Jamiro Wiest, presidente da empresa, aposta no sucesso do projeto, que começou praticamente em uma reunião de amigos na Fiesc. “Nos encantamos com a engenharia do veículo. E os melhores engenheiros do Brasil foram contratados para fazer parte do projeto”, afirma. A Wiest está fornecendo toda a parte tubular e, segundo seu presidente, também pretende ganhar dinheiro com o projeto no futuro. Neste começo, o atraiu a empresa foi desenvolvimento tecnológico embutido no carro. Jamiro não revela quanto investiu. A Wiest já fabrica os mesmos componentes para outras montadoras, mas como este tipo de carro não está no core-business dessas empresas, não houve impedimento para o seu apoio ao projeto catarinense.

Os R$ 15 milhões dos investidores serão prioritariamente para a criação de uma pequena linha de montagem, mas ainda não está definido nem seu tamanho exato nem localização. Santos explica que depois de acertados os R$ 3 milhões que ainda faltam, em 24 meses o novo veículo poderá chegar ao mercado. A expectativa é chegar ao terceiro ano de fabricação produzindo 1,2 mil unidades. Santos conta que está sendo estruturada neste momento uma empresa, a Tecnologia Automotiva Catarinense S.A., de capital fechado, exclusiva para o projeto. O plano de negócios, segundo ele, prevê a divisão dos lucros entre os participantes de acordo com as fatias investidas no projeto. A empresa, ele explica, está sendo estruturada para uma possível abertura de capital no futuro.

Júlio Menezes, diretor operacional da Tecnofibras, diz que a companhia especializada em componentes plásticos definiu peças para o carro, materiais parecidos ao que a empresa já desenvolve para outras montadoras, não havendo, portanto, grande soma de investimentos. Menezes explica que a companhia não entraria no desenvolvimento do carro se não acreditasse no seu potencial de mercado. “As pessoas envolvidas têm tratado o projeto com muito profissionalismo e seriedade. Por isso acredito que vai dar certo”, diz. O carro, ainda sem nome definido, terá um design diferente. Parte de sua tubulação será aparente. O veículo deverá chegar ao mercado com preço entre R$ 55 mil e R$ 75 mil. Atualmente, 20 pessoas estão diretamente ligadas à sua montagem. E três empresas de engenharia participaram do desenvolvimento: G. Coelho, Improvement e Ortiz. Santos, que é um apreciador de corridas de off-road, era sócio de uma pequena construtora em Santa Catarina. Vendeu sua participação e hoje está dedicado apenas ao projeto. Ele diz que acredita no sucesso do veículo porque se trata de um modelo desenvolvido por profissionais com experiência em grandes marcas, como Porsche e Ferrari, e porque é um veículo 4X4 com potência e boa resistência. O modelo entra num nicho de mercado que tem potencial de crescimento no Brasil e que, na opinião de Santos, é ainda pouco explorado.

Fonte: 
http://www.inovacao.unicamp.br/report/news-jipe.shtml
 
http://www.abraboca.com.br/novidades_abraboca.htm
 
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/374/negocios/jipe_catarinense.htm
 
http://www.panoramabrasil.com.br/noticia_completa.asp?p=conteudo/txt/2005/01/12/21232531.htm
 
acesso em julho de 2005
 
envie seus comentários para otimistarj@gmail.com.