O inventor Sebastião de Carvalho Leme residente em Marília (interior de S.Paulo) trabalhou como diretor do Departamento Fotográfico da Companhia Cinematográfica Vera Cruz na década de 50 e já fez diversas exposições pelo Brasil com as imagens produzidas pelo seu invento, e muito premiado em concursos fotográficos diversos. Foi o Fundador do “Foto Clube de Marília” e participou ativamente da Comissão de Registros Históricos da Cidade de Marília e da União dos Treze. Também ministrou cursos no Clube de Cinema de Marília . O invento da máquina foi patenteado por ele em 26/11/1957 no Departamento Nacional de Propriedade Industrial.
Em 1957 um empresário solicitou uma fotografia de seus prédios em uma confluência de 3 esquinas e o seu interesse era mostrar o conjunto dos prédios em uma só foto, o que necessariamente teria de ser em 360º. Usando uma Rolleiflex com cabeça panorâmica foram tirados 10 negativos que, ampliados e montados, resultaram numa foto com 360º. Daí surgiu o desafio: Por que não tirar num só negativo uma foto 360 graus? Leme pôs este desafio na “agenda” de sua mente e passou a cogitar uma solução. O embrião de uma ideia surgiu. Numa latinha de massa de tomate instalou uma objetiva, um dispositivo interno que é o princípio da invenção e um pedaço de filme fixo dentro da lata. Com a mão fez girar a objetiva, fazendo, assim, o primeiro teste para sentir as possibilidades. Este teste foi feito em frente ao Senai. Revelando o filme foi comprovada, precariamente, a possibilidade de se tirar fotos em 360º. Feito o primeiro protótipo, já mecanizado, veio à confirmação. Foram feitos 3 protótipos que consumiu cerca de um ano de aperfeiçoamento.
Neste ínterim, certo de ter conseguido a solução para tirar fotos com 360º, Leme providenciou o processo de patente que tramitou durante alguns anos no Departamento Nacional da Propriedade Industrial, tempo em que são pesquisadas a viabilidade do sistema e a existência de similares, concedendo a patente em 23/4/62 sob nº 61.472. Cerca de 20 anos após a concessão da patente surgiu nos Estados Unidos um sistema similar, sem, contudo, o dispositivo interno acima referido. A máquina esteve inativa durante 15 anos. No final de 1997 foi reativada e aperfeiçoada, passando, novamente, a ser usada. O inventor procurou de diferentes formas de industrializar seu invento.
Sebastião relata: “Logo no começo de uso da máquina, já patenteada, fotografando um comício pró Carvalho Pinto a governador em Osvaldo Cruz, no qual estava presente Jânio Quadros, então governador, ele, Jânio, se interessou pela máquina e mandou me chamar para saber o que eu precisava para desenvolver meu projeto. Disse-lhe que dependia de um projeto de miniaturização da máquina e que o IPT podia fazê-lo (órgão do Governo do Estado). Imediatamente determinou que o IPT iria fazê-la. Alguns dias depois recebi uma carta do Prof. Maffei, então Diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, me convocando por ordem do governador para tomar conhecimento do meu caso. Fui lá com a máquina e o contatei tendo ele pedido que fosse ao Butantã e tirasse uma fotografia com a presença do fotógrafo do Instituto. Respondi que não precisava. Convidei-o para descer ao jardim que circundava o prédio, atrás da Estação da Luz, para tirarmos uma foto 360º na qual ele e eu apareceríamos para comprovar. Feita a tomada fiz uma tremenda ginástica em São Paulo para revelar o filme e imprimir uma cópia para no dia seguinte lhe mostrar. Comprovado a veracidade me informou que em 15 dias receberia uma carta sua. A carta recebi, mas dizendo que o IPT não tinha verba e assim que a tivesse me convocaria. Aguardo essa convocação até hoje.”
Uma nova tentativa foi feita: “Contando com a colaboração solidária do Dr. Argolo Ferrão, Prefeito Municipal de Marília, fui encaminhado ao Cel. Faria Lima, ex-prefeito de São Paulo e então Secretário de Obras Públicas do Governo Estadual Carvalho Pinto, para que, com seu prestígio, tentasse outra solução. O Cel. então me encaminhou ao ITA em São José dos Campos com apresentação ao Prof. de física da escola, Dr. Paulus Saulos Pompéia. Recebido cordialmente ele fez consultas a livros e constatou que de fato tratava-se de uma invenção. Disse que o ITA nada podia fazer pois tinha uma programação estabelecida e não podia elaborar um projeto de terceiros, mas que ele, pessoalmente, poderia fazer um memorial descritivo da invenção, em inglês e português, para publicação na Revista Ciências afim de salvaguardar os direitos. Isto, naquele momento, não atendia as minhas aspirações. Dispensei. O Cel. Faria Lima disse que voltasse a ele se nada conseguisse. Voltei.” No entanto, este novo contato, desta vez com o Cel. Milanez comandante do Parque da Aeronáutica com sede no Campo de Marte em São Paulo, também não logrou qualquer êxito em contar com apoio do ITA.
Ainda em sua peregrinação na tentativa de industrializar seu invento, Sebastião desta vez, foi indicado para um empresário do setor: “O Cel. Faria Lima através de um amigo me encaminhou à indústria de ótica D. F. Vasconcelos, fabricantes de teodolitos, binóculos e da pioneira máquina fotográfica de caixão que tinha o nome de Kapsa. Recebido atenciosamente pelo dono, Dr. Décio Vasconcelos, o mesmo tomou conhecimento do caso e marcou uma reunião para o dia seguinte. Nessa reunião, no dia seguinte, estavam presentes, além do Dr. Décio, a cúpula da área de produção, inclusive o engenheiro projetista. Mostrei a máquina e fiz uma explanação sobre o princípio e funcionamento da mesma. Daí foram consultar livros de física e outros referentes à ótica e fotografia, concluindo (modéstia a parte) que se tratava de verdadeiro “ovo de Colombo” (expressão deles no momento). Diante das conclusões que chegaram o Dr. Décio decidiu que iriam fabricar a máquina”. No entanto a empresa não possuía estrutura para montar um protótipo. O engenheiro chefe da empresa lhe informou: “Sr. Sebastião aqui na indústria sou o único engenheiro projetista que pode fazer o seu projeto. Se for fazê-lo terei que ficar uns dois meses na prancheta e a fábrica pararia porque toda a coordenação aqui dentro está aos meus cuidados. Diariamente pomos anúncios nos classificados convocando projetistas para contratar, e não aparecem. Daí a impossibilidade de iniciarmos a construção da máquina. Se o Sr. nos trouxer um projeto pronto tornará possível fazê-la”.
Fonte: http://www.fundanet.br/cultural/quadros/leme/leme.htm
http://www.fotoemfoco.art.br/historia.htm
Acesso em outubro de 2002
http://www.fotoclub.art.br/360graus.html
Acesso em março de 2003
Agradeço ao inventor Sebastião Lemos (foto360g@terra.com.br) pelo envio de material para composição desta página em agosto de 2005