Pequenas Empresas

Mosquito I

Meio mecânico, meio eletricista, amante dos motores e das máquinas, o joalheiro João Corso Neto, 67 anos, costuma brincar com os amigos em Xanxerê, no Oeste do Estado, dizendo que tem mais 20 de profissões. Desde que chegou na cidade, em 1952, para apreender o ofício da montagem e conserto de jóias, ele já fez um pouco de tudo. Nas horas vagas trabalhou como pedreiro, carpinteiro e torneiro mecânico. Como só freqüentou a escola até a terceira série do primário, tudo o que apreendeu foi por conta própria, através de estudos e pesquisas em livros e revistas. O dom nato para o conserto e construção de peças e mecanismos o ajudou cuidar da família e a concluir, a grande obra de sua vida: seu próprio avião. Fabricado numa pequena oficina de fundo de quintal, o Moskito I pesa cerca de 280 quilos, têm autonomia de vôo de 5 horas e atinge uma velocidade máxima de 160 quilômetros horários. 

A máquina foi testada e aprovada no último sábado pelo projetista e piloto Mark Willian Nies, que veio de São Paulo especialmente para vôo experimental. Se estivesse vivo, Santos Dumont certamente teria orgulho do inventor catarinense. João Corso moldou com extrema precisão cada uma das peças da aeronave a partir da planta desenhada por Nies em três dimensões e escala reduzida. Ele só não construiu o motor, importado da Áustria. O avião já foi legalizado pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) e recebeu o prefixo PP-XBE. O Moskito começou a ser construído em 1992 e consumiu mais de três mil horas de esforço. Corso conheceu o primeiro avião na década de 40 quando sua família morava em Joaçaba. “Na primeira chance que tive deitei por baixo dele e comecei ao observar como funcionava”. Ele jamais esqueceu esse momento, que o transformou num apaixonado pela aviação. Ao longo dos anos, adquiriu centenas de livros, milhares de revistas e publicações sobre o tema. O material ensinou ao inventor o básico sobre os mecanismos que movimentam o avião, as formas de pilotagem e os caminhos para a aquisição dos materiais necessários. Desde a lona que reveste as asas até o relógios e indicadores do painel da cabine, tudo foi cuidadosamente escolhido e instalado para funcionar com se tivesse saído de uma grande linha de montagem. 

O avião foi chamado de Moskito devido às asas retráteis, que facilitam a acomodação no hangar, e vem chamando a atenção de investidores, que estariam interessados na produção em série. O que impediu o fechamento do negócio, pelo menos até agora, segundo o inventor, foi o baixo valor oferecido pelo que pode ser considerado o trabalho de uma vida. João Corso Neto explica que, sem contar as horas de trabalho – que não têm preço – o avião não teve um custo muito elevado. Todos os materiais para a estrutura, da cabine até a cauda, foram comprados por pouco mais de R$ 5 mil. O motor aeronáutico Rotax 912 foi a peça mais cara: custou cerca de US$ 7,5 mil – originalmente seria equipada com um motor Wolkswagem 1.600, que seria totalmente adaptado para poder garantir uma potência e uma rotação ideal. “O motor hoje é o principal problema de quem entra num projeto como esse”, diz o inventor. No caso do motor Wolkswagem, o grande dilema à resolver é o do superaquecimento. O motor aeronáutico Rotax é refrigerado à água, o que evita o superaquecimento e mantém a confiabilidade sem a necessidade de adaptações. 

Mesmo que não chegue a ser produzido em série por alguma empresa especializada, o Moskito já têm pelo menos um descendente direto, que está sendo montado pelo protético Vitalvino Santian, 43 anos, com a ajuda de João Corso. O avião, equipado com um motor Wolkswagem, mas com algumas mudanças para evitar o superaquecimento, está praticamente pronto graças a amizade mantida pelos dois. Santian se interessou pela construção do avião quando junto com Corso ajudou a fundar o Aeroclube de Xanxerê, em 1994. Ele passou a integrar o projeto em 1996 e agora, com o Moskito praticamente pronto, têm se dedicado ao seu próprio avião e a outros projetos, como o de montar uma escolinha de construtores. “Seu João foi meu professor. Foi como um pai. Ele acompanha a aviação há pelo menos 40 anos”. Antes mesmo de concluírem o projeto do novo avião, Corso e Santian já trabalham numa terceira aeronave, um Uirapuru, ano 75, que pretendem reformar por inteiro. O avião está na garagem da casa de Santian, totalmente desmontado. Um motor japonês marca Subaru deve ser adaptado no avião, que têm espaço para duas pessoas e uma pequena bagagem. Santian vêm tomando aulas no aeroclube de Chapecó. Também está buscando a sua habilitação como piloto aerodesportista e em breve estará completando seu sonho, voando no seu próprio avião. 

Fonte: 
http://www.an.com.br/2000/mai/14/0ger.htm
 
acesso em agosto de 2002
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