Um modelo de bicicleta leve, bonita e rápida. A notícia não teria nada de interessante não fosse um detalhe: a estrutura do equipamento é de bambu, e não de metais ou fibra de carbono. A bambucicleta ainda não é totalmente feita em bambu: suas juntas e aro são de alumínio. Flávio, no entanto, pesquisa formas de utilizar cada vez menos materiais metálicos na sua invenção. Ele espera utilizar um aro de bambu na próxima versão da bambucicleta. O produto foi idealizado e desenvolvido por um brasileiro, o desenhista industrial Flavio Deslandes, 30 anos, como projeto de conclusão de seu curso, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Hoje ele tenta fazer seu invento ganhar mercado em um dos lugares do mundo onde existe uma das maiores concentrações de bicicletas: a Dinamarca. O bambu tem propriedades que o tornam extremamente resistente. Se bem tratado, pode durar anos. Para se ter uma idéia, o único edifício que sobreviveu a um terremoto em 1992, na Costa Rica, era feito com base no vegetal.
Outro dado curioso: depois que a bomba atômica devastou a cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945, a primeira planta que floresceu na região foi o bambu. Uma das grandes vantagens do bambu é o seu formato: ele vem da natureza praticamente pronto, em forma tubular. Para não apodrecer, precisa passar por um trabalho quase artesanal. ‘‘É todo feito à mão. Não se pode confundir essa bicicleta com o modelo desenvolvido pela indústria. É quase como se fosse um móvel’’, explica Flavio. Após passar por um processo de impermeabilização, o caule do bambu fica mais imune às variações do clima. ‘‘Algumas pessoas escreveram recentemente que eu disse que o bambu era mais resistente que o aço. Não é bem assim. Cada material tem seus pontos positivos. Mas o bambu pode ser tão eficiente e durável quanto os outros materiais, se for exposto às mesmas condições climáticas’’, explica Deslandes.
O desenhista mora em Christiania, na Dinamarca há três anos. Uma das razões para a mudança foi a expectativa de desenvolver o projeto da bicicleta, que já está no sétimo protótipo. O equipamento ainda não é vendido em larga escala, principalmente devido ao preço final — 15 a 20 mil coroas dinamarquesas (R$ 5 a R$ 10 mil). Parece absurdo, mas para os padrões dinamarqueses o preço não é tão diferente dos modelos de alumínio existentes por lá, observa Flavio. Ele leva de duas a três semanas para montar uma bicicleta e já vendeu mais de dez unidades. ‘‘As pessoas pedalam muito aqui, principalmente no verão. É um mercado exigente’’, diz. Apesar de estar morando em um país que lhe dá amplas condições para pensar em criar diferentes modelos de bicicletas, o desenhista sofre com a dificuldade para encontrar a matéria-prima, que existe em abundância no Brasil mas não é muito comum nas frias terras nórdicas.
Fonte:
http://www.seligagalera.com.br/noticias/visualizarnoticia.asp?ID=110&EOF=115
http://www.nr-tvede.dk/jon/bambuscykel.html
acesso em novembro de 2003
JORNAL CORREIO BRAZILIENSE DATA: 14/09/03 ON-LINE “Os inventores do Distrito Federal”
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