A especialidade do gaúcho Eugênio Ferrão é inventar. Ele já criou sandálias sem tiras, tijolos ecológicos e até embalagens para produtos da Nestlé. São mais de 40 invenções na carteira – algumas não deram certo e outras tiveram suas patentes vendidas a terceiros. Mas foi a sua última ideia que o fez sair da condição de “cientista maluco” – como ele diz ser chamado por aí – para a de empreendedor. Ferrão criou uma máquina de fazer sushi e fez a invenção virar uma rede de franquias. Eugênio Ferrão apresentou seu invento em feira do Sebrae, em SPNuma feira de empreendedores promovida pelo Sebrae há duas semanas em São Paulo, o estande de Ferrão era um dos mais movimentados. Depois de verem a máquina em funcionamento, os curiosos queriam conhecer o inventor, mas custavam a acreditar que a engenhoca tinha saído da cabeça daquele homem que nem de longe lembrava um oriental.
Ferrão teve de contar e recontar sua história. Ele é dono de um restaurante japonês em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Montou o negócio há dois anos porque gosta de comida japonesa e precisava garantir uma renda que bancasse seus inventos. Mas não estava contente com os preços do cardápio. “Queria oferecer um produto mais acessível e não conseguia fazer isso bancando os custos do sushiman, uma mão de obra especializada e cara”, conta. Aí, entrou em cena, de novo, o inventor. Ferrão desenvolveu uma máquina que, operada por qualquer pessoa, faz sushis e sashimis padronizados. Há moldes para colocar a alga, o arroz e o recheio, um em cima do outro. Depois, com a ajuda de uma alavanca, faz-se um rolinho. Com outro molde é possível cortá-lo em tamanhos iguais. “Isso gerou polêmica: os sushimen dizem que estou quebrando uma tradição milenar”, conta Ferrão. “Mas acho que estou criando uma alternativa.” O empresário diz que, com a máquina, conseguiu reduzir o custo do cardápio em 60%. O combinado com 30 peças custa R$ 28.
Por enquanto, é o próprio Ferrão que fabrica a engenhoca. É o “Japa Express”. Com a ajuda do Sebrae, ele criou um modelo de franquia com três opções de investimento: R$ 36 mil, para empreendedores individuais; R$ 78 mil para o quiosque e R$ 88 mil para o “mini-restaurante”. O retorno, segundo ele, seria obtido entre 15 e 24 meses. A primeira parceria foi firmada com o grupo Pão de Açúcar, que vai adotar as máquinas em alguns supermercados da rede como projeto-piloto.
O vice-presidente da Gendai, uma franquia de comida japonesa com quase duas décadas de mercado, diz que o novo concorrente está no caminho certo. “A tendência, no nosso ramo, é cada vez mais reduzir a mão de obra. Esses profissionais estão ficando escassos e caros”, diz Carlos Sadaki. Até encontrar uma ideia com potencial para ganhar mercado, Ferrão viveu de altos e baixos. A patente da sandália sem tiras, por exemplo, foi vendida para uma empresa do Panamá porque não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Por conta de exemplos como esse, é comum que o inventor tenha dificuldades de passar à condição de empreendedor. “Sem capital para colocar o produto no mercado, a única alternativa que resta a essas pessoas é abrir mão do invento para que uma empresa aproveite por ele aquela oportunidade”, diz Reinaldo Miguel Messias, consultor do Sebrae-SP. Ele ressalta que mais importante do que ter uma boa ideia é saber apresentá-la ao mercado e convencer as pessoas de que o produto é útil, funcional e tem valor. “Criar é barato, difícil é vender”, diz Messias.
Fonte:
http://economia.estadao.com.br/noticias/not_45434.htm
acesso em fevereiro de 2011
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