O Almirante Severiano Antônio de Castilho foi engenheiro naval da especialidade de artilharias, tendo organizado instruções relativas ao material de artilharia que guarnecia os navios do primeiro programa depois da proclamação da república e produziu vários inventos dos quais se destacam um aparelho de fechamento de culatra; sistema de cunha; outro sistema de parafuso; um projetil; uma estopilha combinada; uma metralhadora e um sistema de barragens com minas para passos estreitos, todos designados pelo nome – Castilho – de seu inventor.
O parafuso de culatra Castilho foi patenteado sob número 17491 em 1912 na Inglaterra e combina as vantagens dos parafusos Vavasseur e Welin. Para isso o parafuso Castilho é constituído de duas porções filetadas em escalão como no parafuso Welin, sendo que os setores lisos dessas duas porções não se correspondem longitudinalmente como é exemplo o parafuso Vavasseur. Os setores lisos de cada porção são os de menor diâmetro e esses setores na porção posterior correspondem aos e tem o mesmo diâmetro que os filetados de maior diâmetro da porção anterior. Isso se dá nos parafusos cujas porções são ambas cilíndricas. Essas porções podem no entanto serem ambas cilíndricas ou troncônicas ou uma (qualquer delas) cilíndrica e a outra troncônica; a porção de menor base, porém, é sempre a anterior salvo no caso em que esta é a troncônica e a outra cilíndrica e em que ambas tem a mesma base. As porções troncônicas tem sempre a base voltada para a parte posterior. É óbvio que o alojamento do parafuso de culatra dos canhões que usam o parafuso Castilho é filetado correspondentemente. O aparelho de culatra Castilho sistema cunha foi adotado em um dos canhões pertencentes ao armamento da Fortaleza de Willegaignon. Este aparelho é de ação semiautomática, esta ação determinando a abertura da culatra e ejeção do estojo metálico. As experiências realizadas em Silloth provaram um excelente funcionamento da cunha Castilho e deram com um canhão de 120mm de calibre uma velocidade de 25 a 30 tiros por minuto conforme o grau de adestramento da guarnição. O projetil Castilho foi submetido em Risdale (Inglaterra) a experiências de dezembro de 1912 e provou grande superioridade sobre seus congêneres.
A estopilha combinada Castilho regulamentar na Marinha do início do século XX, representa a forma mais simples e mais prática que se poderia dar aos dispositivos para ação elétrica ou por percussão no corpo de uma das nossas estopilhas regulamentares, sem a menor alteração nas suas dimensões e formas externas. Nessas condições, quando a ação elétrica falhar a estopilha Castilho poderá ser explodida pela percussão imediatamente e sem precisar ser substituída. Isto representa uma vantagem inestimável quer quanto a rapidez do tiro e quer quanto à segurança das guarnições.
A metralhadora Castilho apresenta na opinião de uma comissão que a estudou por nomeação do Clube Naval, grande superioridade sobre a conhecida metralhadora Nordenfelt em visto de sua maior simplicidade e de sua maior facilidade de manobra para o tiro. Dessa comissão fizeram parte os sócios daquele Clube: Júlio Cesar de Noronha e Frederico Ferreira de Oliveira (almirantes reformados), Carlos Cesar Sampaio (prefeito da Capital Federal), Henrique Pinheiro Guedes e João Batista das neves (almirantes) e Antão Correa da Silva. Além de este parecer favorável, a metralhadora Castilho mereceu os comentários do Diretor Batista: Julgo tão engenhoso simples e forte o sistema empregado pelo inventor da metralhadora para abrir e fechar a culatra, que se estivesse em minha alçada, mandaria construir uma metralhadora sob as vistas e direção do inventor, aproveitando essa parte do mecanismo para submetê-la a experiências comparativas aos outros sistemas. Durante a construção poderia o inventor fazer as modificações que julgasse necessárias em algumas outras peças e é muito provável que conseguisse apresentar uma arma capaz de competir em vantagem com as do mesmo gênero até hoje conhecidas. Uma amostra desta metralhadora existe na Diretoria de Armamento da Marinha.
O sistema Castilho para barragem de passos estreitos tinha como características as propriedades de conservar as minas a uma distância prefixada e constante do lume da água e de poder fazer as ditas minas submergirem para dar passagem franca a qualquer embarcação inimiga, voltando depois à devida profundidade. A constância na profundidade das minas era obtida por meio de um flutuador a que eram fixos um dos chicotes de cabos cada um tendo o outro chicote fixo a cada uma das minas de barragem, esses cabos passando por diversos retornos em poutas no fundo do mar e em fortes turcos em terra. A submersão das minas para permitir a passagem de embarcação inimiga era obtida acionando-se um molinete em que se enrolava um cabo convenientemente aboçado aos acima referidos.
O sistema Castilho de isolamento contra o calor pode ser usado em paióis de pólvora ou de projetis e em caixas de fumaça de caldeiras, sendo mais simples, mais barato e mais eficiente que qualquer outro sistema. Ele é constituído por uma câmara ou espaço estanque envolvendo o paiol ou a caixa de fumaça, conforme for. Nesse espaço é feito vácuo mais ou menos perfeito. Devido a esse vácuo, a elevação ou o abaixamento da temperatura não transpõem o espaço estanque que assim age como isolador do calor. Este sistema de isolamento pode ser usado juntamente ou não com os outros artifícios anteriormente empregados como sejam algodão silicado, rolha granulada e forros de madeira. Tem a patente inglesa n.4852.
Fonte:
Os inventos da Marinha de Guerra Brasileira, Rogério Augusto Siqueira, Imprensa Nacional, 1923
Acesso em maio de 2003