Docemel e Lili são os dois primeiros híbridos simples de milho doce desenvolvidos pela Embrapa com o objetivo específico de atender à agroindústria. Pelas excelentes características organolépticas e agronômicas, ambos os híbridos também se apresentam como excelentes opções para o cultivo em pequena escala (consumo in natura). O programa de melhoramento que gerou estes híbridos foi iniciado em 1979/1980, e a ausência de geadas permitiu que mais de 2 ciclos de seleção fossem realizados por ano. Este mesmo programa gerou as cultivares Superdoce (BR-400), Doce-de-Ouro (BR-401) e Doce Cristal (BR-402), materiais com grande aceitação pelo mercado nacional.
As características agronômicas de Docemel e Lili foram avaliadas em distintas regiões do país e as características de interesse industrial foram avaliadas pelo CNP Hortaliças, sob a responsabilidade do Dr. Albano S. Pereira. As avaliações de resistência a insetos foram realizadas pela Dra. Geni L. Villas Bôas.
Com base na diversidade de clima, solo, luminosidade e pluviosidade do país, o Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo da Embrapa começou em 1988 um projeto para acelerar o desenvolvimento e a difusão de sementes de milho. O centro, instalado em Sete Lagoas, MG tinha condições de desenvolver variedades mais produtivas e adaptadas para cada situação, embora não fosse sua intenção comercializar sementes em larga escala. Para isso seria preciso um sócio adequado, que apareceu através de uma criativa e pioneira associação com o setor privado. Precisamente com 20 empresas que formam a União dos produtores de Sementes de Milho da Pesquisa Nacional (Unimilho). Por esse sistema de integração, a Embrapa desenvolve novos cultivares através de melhoramento genético e biotecnologia, autoriza o uso da marca e fornece a semente básica. A Embrapa transfere a tecnologia e fornece treinamento e assistência técnica, além de manter um rigoroso controle de qualidade. As empresas do Unimilho reproduzem as sementes, fazem a propaganda e comercializam os produtos, obedecendo regras estabelecidas no contrato de franquia.
“Essa fórmula permitiu aumento na velocidade de transferência de novas tecnologias em genética vegetal para os produtores rurais”, afirma Antônio Fernandino de Castro Bahia Filho, chefe geral da Embrapa Milho e Sorgo. Em 10 anos, foram disponibilizados 11 cultivares de alta qualidade nutricional ou adaptados a condições de estresses múltiplos, capazes de suportar veranicos fora de época, solos com alta acidez ou baixa disponibilidade de fósforo e nitrogênio, ou áreas encharcadas, tais como o BR 3123, BR 2121 (sua alta qualidade proteica recebeu elogios do Dr. Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz), BRS 3060 e a saracura (própria para plantio em áreas de várzea).
Nos últimos cinco anos, a participação de cultivares de milho da Embrapa no mercado nacional de sementes de milho híbrido tem variado entre 10% e 15%. na safra 1997/98 esse mercado movimentou 230 milhões de reais. A fatia do sistema Embrapa/Unimilho ficou em 11%. Na área de sorgo que funciona da mesma forma, o sistema tem 30% do mercado brasileiro de sementes. Dos valores recebidos com a comercialização, parte retorna à Embrapa através da venda de sementes básicas e de royalties sobre o valor comercial das sementes. O sistema apresenta muitas vantagens para todos os envolvidos. Ele tem contribuído para o fornecimento de cultivares adaptadas as mais variadas condições de cultivo de regiões tropicais. Também permitiu aumentar a competitividade no mercado de sementes através da melhora do desempenho e da redução do preço médio das sementes. E viabilizou empresas que não dispõem de recursos para manter programas próprios de geração de cultivares.
A associação da biotecnologia com o melhoramento genético tradicional para adaptar plantas a ambientes restritivos e obter aumento de qualidade tem grande possibilidade de sucesso comercial. Poucos países no mundo apresentam condições tão favoráveis para o crescimento do agronegócio como o Brasil. Além de um mercado consumidor atrativo para alimentos, ele oferece um potencial de crescimento da produção via produtividade. Sem contar com a incorporação de novas áreas ao processo produtivo. Só no cerrado são cerca de 80 milhões de hectares. Vale lembrar que o chamado agronegócio brasileiro movimentou 321 bilhões de dólares em 1997, ou 40% do PIB, gerando 27 milhões de empregos. A Embrapa Milho e Sorgo foi pioneira na introdução e adaptação da tecnologia de transgênicos para a engenharia genética do milho no Brasil, o que está permitindo a inserção de novos genes de valor agronômico na espécie, o que levará ao desenvolvimento em futuro próximo de cultivares com novas utilidades para o produtor, a indústria e o consumidor.
Fonte: http://www.cnph.embrapa.br/cultivares/docemel.htm
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 208
Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 30
acesso em março de 2002