Biotecnologia

Soja Emgopa 313

A produção de sementes sempre foi um setor muito importante e estratégico para a agricultura nacional. No passado para garantir o abastecimento, os próprios produtores reservavam a melhor parte da produção para o plantio do ano seguinte. A profissionalização da área veio com a criação da Embrapa e dos órgãos de pesquisa estaduais, que desenvolveram variedades adaptadas a cada região e muito mais produtivas. A partir daí os produtores de sementes passaram a multiplicar material de excelente qualidade. mas no início dos anos 90 a escassez de recursos nos órgãos públicos de pesquisa obrigou a revisão do modelo. A saída encontrada em várias partes do Brasil, como em Goiás, Minas Gerais e mato Grosso, foi a parceria entre esses órgãos e os produtores.

Um dos mais ativos é o Convênio Goiás, formado pela Associação dos Produtores de Sementes do Estado de Goiás (Agrosem), o Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Embrapa-Soja) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Goiás (Emater-Go). Fechado em 1994, pelo convênio acertou-se que um grupo de produtores da Agrosem bancaria financeiramente a pesquisa de soja. A Embrapa-Soja e Emater-Go entrariam com os técnicos, estações experimentais, máquinas e veículos. Além disso, elas tinham o fundamental nessa história toda: um fabuloso banco de germoplasma de soja (local com ambiente controlado, onde são armazenados os materiais genéticos de uma ou mais espécies, para fins de programas de melhoramento). Dele saiu por exemplo, a Emgopa-313, a terceira variedade de soja mais plantada no país e a mais utilizada em Mato Grosso.

 

Fundada na década de 60, a Agrosem reúne quase 3 mil produtores de sementes de arroz, milho, soja e outros cereais. Desde então aproveitou as evoluções tecnológicas fornecidas por empresas públicas, com a extinta Emgopa, a empresa de pesquisa agropecuária de Goiás, hoje chamada Emater-Go e a Embrapa-Soja “Vimos que se a Embrapa e a Emater ficassem sem dinheiro para a pesquisa, a sobrevivência dos produtores de sementes ficaria ameaçada. Aí decidimos propor uma nova forma de cooperação com esses órgãos”, explica Siguê Matsuoka, diretor executivo da Agrosem. A parceria entre as três entidades foi reforçada em 1997, com a criação do Centro Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias (CTPA) uma empresa privada dos produtores de soja da Agrosem. O CTPA coordena as pesquisas do Convênio Goiás com a Embrapa-Soja, a Emater-Go e a própria Agrosem. Todos os lucros provenientes dos contratos cobranças de royalties e venda de sementes são revertidos para a pesquisa. Metade do valor dos royalties retorna para a Embrapa, 35% para a Emater e os 15% restantes ficam no CTPA “Hoje as prioridades são o desenvolvimento de cultivares e linhagens de soja para o Estado de Goiás, estudos de pragas e resistência de doenças, avaliação de plantio e o desenvolvimento de sementes genéticas, básicas e certificadas”, afirma Luís Claudio de Faria, pesquisador da Embrapa-Soja e gerente de pesquisa do CTPA.

O caminho para a construção das novidades, porém é longo e exige investimentos constantes. No primeiro ano, os produtores, os produtores desembolsaram 80 mil reais. Em 1998 o valor chegou a 300 mil reais. Mas as primeiras variedades dessa parceria já estão no mercado, são a Emgopa-316 e a Emgopa-316. A primeira é uma variedade precoce de soja. a segunda é de ciclo médio, permitindo escalonamento do plantio e facilitando a colheita. As duas têm como benefícios diretos a maior produtividade por área, gerando um aumento da renda para os produtores de sementes e grãos. Elas também oferecem maior estabilidade de produção, ou seja, estão adaptadas a um número maior de ambientes, o que permite sua expansão para outras regiões. No aspecto físico, tem melhor qualidade de sementes de grãos de soja, tanto pela padronização do tamanho, forma e coloração, quanto pelo teor de óleos e proteínas desejados pela indústria.

Há ainda uma vantagem adicional na 315 e 316 por apresentarem naturalmente resistência ou tolerância à maior parte das doenças importantes da cultura de soja “Isso significa que exigem um uso reduzido de defensivos agrícolas, especialmente fungicidas, com vantagens para o produtor em termos de custo e especialmente para o meio ambiente”, diz José Nunes Júnior, pesquisador do CTPA. O maior desafio dos pesquisadores é manter todo o sistema competitivo num mercado cada vez mais disputado. No horizonte tem a concorrência da soja transgênica, que é geneticamente preparada para enfrentar quase todas as pragas e doenças. Mas a soja transgênica também tem limitações e ainda há muito espaço para boas sementes desenvolvidas de maneira convencional. Além disso, as próprias pesquisas conduzidas pelo CTPA devem chegar nesse material em pouco tempo. O fato é que esse modelo de parceria entre a Embrapa, as empresas estaduais de pesquisa e os produtores de semente de soja está dando certo. Prova disso é o fato de 80% dos campos de sementes para a safra 1997/98 em Goiás são de sementes provenientes do Convênio Goiás e de parcerias semelhantes feitas em Minas Gerais e Mato Grosso.

A soja é uma leguminosa domesticada pelos chineses há cerca de cinco mil anos. Sua espécie mais antiga, a soja selvagem, crescia principalmente nas terras baixas e úmidas, junto aos juncos nas proximidades dos lagos e rios da China Central. Há três mil anos a soja se espalhou pela Ásia, onde começou a ser utilizada como alimento. Foi no início do século XX que passou a ser cultivada comercialmente nos Estados Unidos. A partir de então, houve um rápido crescimento na produção, com o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais. No Brasil, o grão chegou com os primeiros imigrantes japoneses em 1908, mas foi introduzida oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. Porém, a expansão da soja no Brasil aconteceu nos anos 70, com o interesse crescente da indústria de óleo e a demanda do mercado internacional.

O interesse do Governo brasileiro pela expansão na produção da soja para atender à indústria fez com que a leguminosa ganhasse cada vez mais incentivos oficiais. Para atender às exigências de produção de uma cultura de alta tecnologia, foi criado, em 1975, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja, como uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estrategicamente localizada para que pudesse atender às demandas da produção nacional. Sua principal incumbência era conquistar a independência tecnológica para a produção brasileira, que até então estava concentrada nos estados do Sul do País, aproveitando a entressafra da cultura do trigo que, na época, recebia incentivos do governo. A boa adaptação da soja nas terras do Sul do país e a crescente demanda dos mercados interno e externo, deram estabilidade aos preços do produto no mercado, o que incentivou o aumento de área.

Em pouco tempo, os cientistas da Embrapa Soja não só criaram tecnologias específicas para as condições de solo e clima do País, como conseguiram criar a primeira cultivar genuinamente brasileira, a Doko, que permitiu que a soja produzisse em regiões tropicais (Cerrados), onde antes a planta não se desenvolvia. A criação da cultivar Doko fez muito mais que desbravar as novas fronteiras agrícolas do Brasil, até então consideradas improdutivas. A Doko, e mais tarde a cultivar Tropical, levaram a soja a todas as regiões de clima tropical do mundo. Hoje, a soja tem uma utilização diversificada no mundo todo.

 

Fonte:

http://www.apassul.com.br/cultivares/soja_emgopa313.htm

http://www.cnpso.embrapa.br/cinco.htm

Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 38

acesso em julho de 2003

http://www.redetec.org.br/repict/download (5 Encontro do REPICT)

acesso em agosto de 2003