Deficientes Físicos

“Cadeira de Rodas Vertical – Astemius”

Dois engenheiros mecânicos recém-formados pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) resolveram investir em uma ideia surgida ainda nos tempos de estudante. Astemius Pereira da Costa e Milton Vieira dos Santos assumiram para si a tarefa de desenvolver um produto que melhorasse a produtividade e a mobilidade de pessoas sujeitas a conviver com o incômodo de uma cadeira de rodas O desafio era produzir uma cadeira de linhas simples, design inovador e que, ao mesmo tempo, possibilitasse a seu usuário esticar o corpo e permanecer em pé, usando, como apoio, além da cadeira, a estrutura óssea de suas próprias pernas.

Na fase atual, está sendo feita a avaliação dos custos de produção da cadeira. De acordo com estimativas dos engenheiros responsáveis pelo projeto, seu preço para comercialização poderá girar em torno de R$2.000,00 (valor normalmente cobrado para cadeiras especiais, com menos funções). A Cadeira de Rodas Múltipla vai chegar ao mercado custando um terço do valor dos produtos similares importados, o que a tornará acessível a usuários de menor poder aquisitivo. A próxima prova que a cadeira terá que encarar é uma bateria de testes com usuários reais de cadeiras de rodas. A aplicação do protótipo às necessidades dos verdadeiros interessados deverá preparar o produto para o lançamento definitivo no mercado, até agosto de 2002. Os benefícios gerados por este projeto vão muito além do âmbito econômico ou comercial. Existe um alcance humanitário, uma vitória da sociedade sobre suas próprias limitações e a certeza de que, com boas ideias, somos capazes de oferecer maior acesso para as pessoas que, por acaso, foram privadas da plenitude de seus movimentos.

 

A ideia teve início em 1996, quando um grupo de estudantes de engenharia da UFMG, o Paramec, resolveu lançar um projeto chamado CVP (Cadeira com Verticalização de Posição). O estudo tinha cunho acadêmico, voltado exclusivamente para análises técnicas do grupo de trabalho dentro da universidade. Como a ideia mostrou-se interessante o suficiente para merecer atenção mais continuada, Astemius e Milton, que pertenciam àquele grupo, resolveram assumir o projeto e colocar a teoria em prática. Após a formatura, os dois engenheiros trocaram o nome do projeto inicial de CVP para CRM (Cadeira de Rodas Múltipla) e retomaram as pesquisas com objetivos mais específicos e intenções comerciais.

Com poucos recursos próprios e sem o apoio de empresas particulares, Astemius e Milton tomaram conhecimento do sistema de incubação, criado justamente para servir como “embrião” para indústrias de base tecnológica. “Quando decidimos ‘tocar’ o projeto, fizemos uma análise das possibilidades e acabamos conhecendo o Sistema de Incubadoras. Imediatamente, enxergamos que essa era uma ideia muito boa para nós, recém-saídos da universidade”, lembra Astemius. Essa identificação é justificada, uma vez que as chamadas “incubadoras de empresas de base tecnológica” oferecem todas as condições de espaço físico, estrutura, laboratórios e equipamentos básicos para o desenvolvimento dos projetos, até que as pequenas e microempresas nela instaladas possam se auto sustentar. Finalmente, após avaliar as propostas de diversas incubadoras, eles optaram por desenvolver o trabalho no Centro de Inovação Multidisciplinar (Cim), que funciona no Departamento de Física da UFMG. No início de 2000, os pesquisadores apresentaram o projeto e logo foram informados de sua aprovação.

Acertadas as bases do apoio que receberiam da incubadora da UFMG, os amigos tornaram-se sócios e criaram a Adaptec que, desde então, responde legalmente pelo projeto da “Cadeira de Rodas Múltipla”. O próximo passo seria buscar apoio para viabilizar a produção de um protótipo. No primeiro semestre de 2001, a Adaptec participou do processo de seleção do Promitec, programa lançado pela FAPEMIG para apoio financeiro a projetos de pesquisa e desenvolvimento nas pequenas empresas de base tecnológica. Como filosofia, o Promitec espera auxiliar no desenvolvimento e no lançamento de produtos inovadores, desenvolvidos com tecnologia mineira. Aprovado o projeto, a empresa recebeu um financiamento em condições especiais, disponibilizado pelo BDMG (Banco do Desenvolvimento de Minas Gerais). Além da fonte de recursos gerada pela FAPEMIG, a Adaptec contou ainda com o Patme (Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas), do Sebrae.

Foi montada uma equipe, com uma estagiária de design, um professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, dois profissionais da área de Terapia Ocupacional – um com doutorado e outro mestrando. A parte estética, ergonômica e funcional da cadeira passou a ser estudada com rigorosa supervisão técnica, e todos os detalhes traçados de maneira profissional. Os recursos solicitados junto à FAPEMIG e ao Sebrae viabilizaram a construção do primeiro protótipo, que já passou incólume pela primeira fase de testes. Realizada com os profissionais da área médica que integram o grupo, foram testados os níveis de usabilidade, mobilidade, acessibilidade, conforto, beleza e integração do usuário com o produto. A Adaptec estava procurando “desenvolver um produto com melhor apelo visual, com a melhor qualidade possível e com preços mais justos que a concorrência, tanto interna quanto externa”, segundo os pesquisadores. Entretanto, a novidade e o atrativo principal da ideia não seria especificamente a confecção da cadeira de rodas, já que outros similares existem no mercado. Na visão dos engenheiros, a grande vantagem em criar um modelo com tecnologia 100% nacional seria a possibilidade de substituir a importação do produto. Até então, as cadeiras semelhantes só chegavam ao cliente brasileiro por meio de importação, a custos proibitivos e cercados de entraves burocráticos por todos os lados. A intenção dos estudantes era diminuir drasticamente a distância entre o consumidor e o produto.

Para desenhar um quadro fiel do público potencial para utilização da Cadeira de Rodas Múltipla, foram feitos diversos levantamentos estatísticos, levando-se em conta, inclusive, dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). Pelas estimativas da OMS, pode-se afirmar que cerca de 10% da população possui algum tipo de limitação. No Brasil, este número corresponde a cerca de 17 milhões de pessoas, dentre as quais pelo menos três milhões possuem limitações físicas severas e fazem uso de equipamentos como cadeiras de rodas, andadores e muletas, dentre outros. Na fase atual, está sendo feita a avaliação dos custos de produção da cadeira. De acordo com estimativas dos engenheiros responsáveis pelo projeto, seu preço para comercialização poderá girar em torno de R$ 2.000,00 (valor normalmente cobrado para cadeiras especiais, com menos funções). A Cadeira de Rodas Múltipla vai chegar ao mercado custando um terço do valor dos produtos similares importados, o que a tornará acessível a usuários de menor poder aquisitivo.

A próxima prova que a CRM terá que encarar é uma bateria de testes com usuários reais de cadeiras de rodas. A aplicação do protótipo às necessidades dos verdadeiros interessados deverá preparar o produto para o lançamento definitivo no mercado, até agosto de 2002. Os benefícios gerados por este projeto vão muito além do âmbito econômico ou comercial. Existe um alcance humanitário, uma vitória da sociedade sobre suas próprias limitações e a certeza de que, com boas ideias, somos capazes de oferecer maior acesso para as pessoas que, por acaso, foram privadas da plenitude de seus movimentos.

O projeto de extensão Paraplégico /Mecânica (Paramec) se dedica à engenharia de reabilitação, com o propósito de criar equipamentos para facilitar a vida de pessoas com deficiência. Ao completar dez anos, a proposta inicial do projeto – a de desenvolver equipamentos capazes de dar maior comodidade e acessibilidade aos que deles precisam – está viva e mantém a tônica original de projetar equipamentos que possam ser fabricados a baixo custo. “Nossa preocupação maior é a de proporcionar soluções alternativas de fabricação para os aparelhos que existem, e não, necessariamente, criar novos aparelhos”, lembra o professor Alexandre Bracarense, criador e, durante muito tempo, coordenador do Paramec. Segundo Bracarense, o projeto surgiu, em 1996, numa aula de Processos de Fabricação. “Um aluno levou uma órtese fabricada por fundição. Ele queria estudar a produção dessa mesma órtese utilizando o processo de soldagem, muito mais barato”. Da conversa com o, então, aluno Eduardo Jardim, acabou sendo criado o Paramec, com a participação inicial de nove estudantes. De início, foram definidas três áreas preferenciais de trabalho – próteses e órteses, mobilidade e fisioterapia – e o primeiro equipamento projetado foi uma cadeira de rodas, adaptação de um projeto norte-americano, de domínio público, visando ao barateamento do produto. Na época, o projeto contou não só com o apoio do empresário Pedro Keachele, proprietário de uma indústria mecânica, mas também com parcerias firmadas com o governo do Estado de Minas Gerais e com empresas privadas.

 

Fonte:

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010170020628

http://revista.fapemig.br/materia.php?id=169

http://www.ufmg.br/diversa/10/paramec.html

acesso em julho de 2008