Deficientes visuais e profissionais da área de música têm, a partir de agora, a oportunidade de se aproximarem ainda mais, graças a um programa de computador desenvolvido por uma pesquisadora da Escola de Música de Brasília. A professora Dolores Tomé desenvolveu um programa, batizado do Musibraille, que traduz partituras musicais em braille, permitindo sua leitura e manuseio por deficientes visuais. O programa será disponibilizado gratuitamente.
O Musibraille é o primeiro programa de computador em português capaz de transcrever partituras musicais para o braille, que é o sistema de leitura adota internacionalmente para os cegos. “A partir de agora, poderemos atender a todos os cegos que têm como língua o português e acabar com a história de professores de música se recusarem a dar aulas para cegos por não saberem o braille”, disse a professora. Dolores desenvolveu o Musibraille em conjunto com os professores Antônio Borges e Moacyr de Paula Rodrigues Moreno, do Núcleo de Comunicação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O programa, que demorou nove anos para ficar pronto, teve custo total de R$ 20 mil.
O projeto Musibraille destina-se a criar condições favoráveis à aprendizagem musical das pessoas com deficiência visual que sejam equivalentes às dos colegas de visão normal. A técnica de Musicografia Braille é uma das principais ferramentas que permitem essa equivalência. Ela foi desenvolvida em 1828 por Louis Braille, que adaptou a técnica para transcrição de textos anteriormente desenvolvida para a transcrição musical. Através desta técnica um texto musical de qualquer complexidade pode ser transcrito para a forma tátil e facilmente assimilado pelos deficientes visuais.
Apesar desta vantagem, existe um grande problema para os deficientes visuais: a escassa quantidade de obras transcritas para esta técnica. Existem alguns poucos programas disponíveis no mercado para transcrição musical. Esses programas permitem de forma bastante limitada que uma pessoa cega (ou não) introduza o texto musical através de um teclado alfanumérico ou de uma interface digital para um instrumento musical (MIDI). O texto digitado pode ser escutado musicalmente e a transcrição se dá de forma automática. Alguns desses programas conseguem ler uma partitura e fazer uma pré transcrição, através de uma técnica chamada OCR (Optical Character Recognition), economizando tempo no processo de entrada de dados musicais.
Para contexto brasileiro, entretanto, estes programas estão fora da realidade, pois além de caros são incompletos. Mais importante: não existe conhecimento disseminado nem para sua utilização direta nem para o ensino qualificado. A situação hoje é que, como os professores de música não têm conhecimento da musicografia Braille, acabam por recusar-se a lecionar para estudantes cegos por julgarem impossível passar para eles o conteúdo das partituras com efetividade. Desta forma, torna-se muito difícil a inclusão de músicos cegos nas escolas de música regular.
Segundo a criadora do programa, qualquer pessoa pode usá-lo. É necessário apenas digitar a partitura e, com um simples toque, o programa converte todo o conteúdo para a linguagem braille. De acordo com os professores, a meta é distribuir versões do Musibraille em todas as universidades e escolas de música no país. O software já pode ser baixado pela internet no site www.intervox.nce.ufrj.br/musibraille e também será distribuído a partir de hoje em diversas cidades do, por meio de oficinas de capacitação de professores de música que serão realizadas em Brasília (de hoje até amanhã) , Recife (de 4 a 7 de agosto), Belém (de 2 a 5 de setembro), Rio de Janeiro (de 6 a 9 de outubro) e Porto Alegre (de 10 a 13 de novembro) em 2009.
Dolores Tomé é coordenadora do Curso de Musicografia Braille da Escola de Música de Brasília, desde 1986. É flautista licenciada em Educação Musical pela UnB, Master in Science em Musicografia Braille, pela Universidade Internacional, Lisboa – Portugal. É filha de João Tomé, músico cego, com quem aprendeu as primeiras noções do Braille. Funcionário Público da Rádio Nacional, João Tomé nasceu cego e foi criado para ser um homem sem complexos, preparado para a vida. Foi um músico de reconhecida habilidade, deixou como patrimônio musical cerca de 400 composições de sua autoria: valsas, polcas, choros, sua especialidade maior. Chegou em Brasília em 1960. No mesmo ano, como Professor, funda o Colégio de Brasília (CASEB). Em 1963, funda a Escola de Música de Brasília. Assim familiarizada com a rotina musical de seu pai, Dolores aprendeu que o deficiente visual não é dotado de poderes mágicos, nem possui memória extraordinária. Dolores Tomé resolveu se dedicar ao ensino de música para os cegos. Sua dedicação faz com que os deficientes consigam se impregnar de uma das mais belas artes: a Música. A arte que não conhece barreiras de idiomas e que, segundo alguns, é a forma como Deus se comunica com os homens.
Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=programa-converte-partituras-musicais-sistema-braille&id=010150090709
acesso em julho de 2009