Em 1960 Theodore Maiman apresentou ao mundo o primeiro laser. Nesse mesmo ano, um físico brasileiro chamado Sérgio Pereira Porto chegava nos Estados Unidos para trabalhar no Laboratório Bell, um dos maiores centros de pesquisa aplicada do mundo. Porto tinha se doutorado na Universidade John Hopkins e, desde então, cultivava um grande interesse pelo efeito Raman. Na época, essa técnica era limitada pela dificuldade na obtenção de uma boa e intensa fonte de luz monocromática. O brasileiro logo vislumbrou o enorme potencial dos lasers para suprir essa lacuna. Usou seu talento de experimentalista na melhoria dos dispositivos de detecção e dispersão dos equipamentos Raman e, com a utilização dos novos lasers passou a obter espectros de amostras sólidas com alta qualidade e resolução. Logo, seu laboratório se tornou líder nessa área de pesquisa.
Voltou ao Brasil em 1962, ansioso para mostrar aos pesquisadores brasileiros a novidade tecnológica. Sérgio Porto teve carta branca na Unicamp e trouxe vários brasileiros que haviam terminado seu doutoramento nos EUA. Tiveram recursos fantásticos e entre 1966 e 1971 construiu-se na Unicamp o maior Laboratório de Física do estado Sólido do hemisfério Sul. É considerado o pioneiro no uso do raio laser na espectroscopia Raman – técnica em que a frequência do laser é absorvida e reemitida numa frequência diferente, fornecendo valiosas informações sobre a estrutura do material em estudo. A técnica é especialmente útil na medicina. Mas, quando Porto enaltecia suas virtudes, foi violentamente atacado. Havia o temor de que o laser pudesse causar malefícios. Nos anos 60, a revista O Cruzeiro batizou-o de “descobridor do raio da morte”. Restou a Porto retornar às pesquisas nos Estados Unidos. Em 1967, foi trabalhar na Universidade da Califórnia do Sul.
Porto aplicou o efeito Raman ao estudo de inúmeras propriedades de sólidos, como polaritons em cristais, ondas de spin, sólidos desordenados e fônons oblíquos. E, finalmente, em 1972 voltou ao Brasil para ensinar e pesquisar na Universidade de Campinas, que desde essa época transformou-se em um dos mais importantes centros de pesquisa do Brasil. Porto direcionou a aplicação do laser nas cirurgias oftalmológicas. Então, as desconfianças haviam se diluído. As primeiras experiências foram realizadas em Campinas para o tratamento de glaucoma. No Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o laser logo passou a ser utilizado para desobstruir as artérias coronárias. A seguir, o uso da técnica se difundiu em todo o País. Hoje, o raio laser é tido como um poderoso auxiliar da medicina, sem contestação.
Em 1979, aos 53 anos, no intervalo de uma conferência em Munique, Porto organizou um jogo de futebol. Como se fosse o dono da bola, separou o time entre os especialistas da ex-União Soviética e “o resto do mundo”. Porto morreu no meio da pelada, de um ataque cardíaco
Fonte:
http://www.fisica.ufc.br/raman/raman5.htm
http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/brasileiro/ciencia/ciencia15.htm
Acesso em dezembro de 2001
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 528