Aeronáutica

“Blindagem de Painéis Laterais”

O CTA homologou em maio de 2002 o desenvolvimento da blindagem do primeiro avião brasileiro, o turboélice de treinamento militar ALX, que está sendo produzido pela Embraer para a FAB. O Instituto de Fomento à Indústria do CTA já iniciou a seleção de empresas que irão participar do processo de transferência da tecnologia desenvolvida no Brasil e dominada por um grupo restrito de países, a um custo direto de apenas US$ 100 mil. O fornecimento da blindagem dos painéis do ALX seria feito inicialmente pela Embraer, por meio da contratação de uma empresa especializada no mercado externo. A solução da Embraer, no entanto, segundo o diretor do IFI, coronel José Carlos Argolo, acabou não sendo adotada porque o fornecedor externo não atendia às especificações técnicas do projeto da FAB e porque o custo era alto “Se fôssemos comprar lá fora pagaríamos US$ 5 milhões só pelo projeto, sem o direito de acesso a tecnologia. No CTA o custo total do desenvolvimento chegou a US$ 500 mil, incluindo a infraestrutura de laboratórios já existente”, explicou o engenheiro e major da Aeronáutica Diniz Pereira Gonçalves, principal mentor da tecnologia de blindagem do ALX.


Cinco empresas nacionais – Inbrafiltro, Guardian, Gepco, Avibrás e Alltec – já se candidataram como interessadas em absorver a tecnologia do CTA, capaz de resistir ao impacto de projéteis de calibre 0,50 polegada. Após a avaliação da capacidade técnica das empresas, a Aeronáutica abrirá concorrência pública para escolher o fornecedor que fará a blindagem dos painéis das portas de 40, das 76 aeronaves que a FAB encomendou da Embraer. O ALX é uma versão avançada do treinador EMB-312 Tucano, que a companhia já exportou para 13 forças aéreas, num total de 650 unidades. Só a FAB possui uma frota de 120 Tucanos. A aeronáutica pretende utilizar o ALX para treinamento avançado de pilotos e para complementar a estrutura operacional do Sivam, em missões de interdição de fronteira e combate ao narcotráfico. A blindagem do ALX foi desenvolvida a partir de um estudo da FAB que constatou que as aeronaves Tucano operadas pelos países da América Latina eram abatidas pelo narcotráfico com metralhadoras calibre 0,50. Colômbia, Peru, Venezuela, Argentina e Paraguai, que possuem mais de 100 aeronaves Tucano em operação em suas forças aéreas já registraram vários episódios como esses: “O objetivo da blindagem, nesse caso, é proteger o piloto contra armamentos calibre 0,50, especialmente nas regiões afetadas por conflitos de baixo impacto, comandados por guerrilheiros”, explicou.

A homologação dos painéis blindados do ALX marca o fim de um projeto iniciado em 1999 na Divisão de Materiais do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), vinculado ao CTA. A blindagem usada nos painéis é feita do material cerâmico carbeto de silício e tecido de aramida. A blindagem convencional feita com aço representa o peso de dez passageiros, enquanto a desenvolvida pelo CTA representa o peso de apenas dois passageiros. A blindagem dos painéis laterais do ALX também já despertou o interesse de outros países. A República Dominicana encomendou 10 ALX da Embraer com as portas blindadas. A empresa que for qualificada pelo CTA para receber a tecnologia, no entanto, segundo Argolo, poderá exportar seus serviços para a Embraer e para o mundo inteiro: “O domínio da blindagem aeronáutica é um mercado que se abre para as empresas brasileiras, que em breve poderão competir com países como EUA, Alemanha, Japão, França e Rússia, os mais qualificados nessa área.

Fonte:

Acesso em abril de 2003

Jornal Gazeta Mercantil de 21.05.2002 página C-8 (Ciência e Tecnologia)