Pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba descobriram que, a partir da resina do Cajueiro, chega-se a uma sustância que substitui a mundialmente famosa Goma Arábica, um produto de múltiplas finalidades que o Brasil e outros países do mundo importam do Senegal. O produto que se origina da resina pesquisada no LTF, dentre outras finalidades serve para colagem e para a fabricação de outros produtos como o comprimido, à semelhança do que se faz com a Goma Arábica.
O professor José Maria Barbosa, do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da UFPB explica porque o novo produto também é útil na fabricação de comprimidos: para não se esfacelar durante o processo de prensagem, em que adquire forma definitiva, é preciso que o seja aplicada no comprimido substâncias como a goma arábica. A Goma Arábica é importada inclusive pelo Brasil, para estas e outras finalidades. Dentre outras utilidades ela também é aplicada como cola e, até os anos 60, foi bastante consumida em escritórios. O trabalho foi desenvolvido no final da década de 70 para a CEME (Central de Medicamentos), hoje extinta, que se intitulava “Aproveitamento da goma resina do cajueiro como sucedâneo da goma arábica”.
Esse projeto não gerou nenhuma publicação em revistas científicas apenas Relatório Técnico apresentado na época a CEME. Resumidamente o projeto envolveu os seguintes aspectos: (1) Estudo botânico e fisiológico do cajueiro: Objetivando aumentar o teor da goma produzida pela planta. Envolveu estimulação por incisão física (cortes na própria planta), estimulação por agentes químicos e por fumigação. (2) Purificação da goma resina do cajueiro: Apresentou uma variação de 65 a 80 % dependendo da procedência. (3) Análise física e química da resina: Através do teor de umidade, cinzas, espectroscopia de chama e determinação do índice de acidez (pH); (4) Estudos farmacotécnicos: Com a goma purificada foram confeccionados comprimidos que puderam ser comparados com comprimidos de idêntica formulação feitos com a goma arábica, que possibilitaram testes de dureza e tempo de desintegração; (5) Estudos farmacológicos e de toxicidade: Foram observados as reações dos animais quanto aos efeitos da goma do cajueiro sobre o organismo dos mesmos, exames anatomo-patológicos no final do experimento e de toxicidade aguda e crônica. “O professor José Barbosa explica: Na época, estávamos iniciando as atividades de pesquisas aqui no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da UFPB e os experimentos foram os mais preliminares e simples possíveis”.
O uso de gomas naturais, provenientes dos extratos de plantas, vem tomando grande impulso pelas múltiplas e lucrativas possibilidades de industrialização e pelo excelente mercado internacional: um bilhão de libras-peso é consumido nos Estados Unidos, onde o crescente uso excede 8% ao ano. Por exsudação natural ou através de incisões, aparece no tronco e ramos da árvore do cajueiro uma goma ou resina de coloração amarelada, solúvel em água, a qual apresenta grande potencial de industrialização. Possui característica semelhante à goma arábica, podendo substituí-la como cola líquida para papel, na indústria farmacêutica, em cosméticos e como aglutinante de cápsulas e comprimidos, e na indústria de alimentos, como estabilizante de sucos, cerveja e sorvetes, bem como clarificante de sucos, podendo ser utilizada na fabricação da cajuína.
Além de se mostrar como poderosa cola de madeira quando misturada à água, apresenta ação fungicida e inseticida, sendo por isso muito usada na encadernação de livros. Também já existem pesquisas para sua utilização na fabricação de tintas e vernizes. A extração da goma do cajueiro representa mais uma fonte de lucros para o produtor, além da castanha e do pedúnculo, bem como uma alternativa para o aproveitamento dos cajueiros improdutivos, em fase de declínio e senescência. Num universo maior, a goma do cajueiro não só pode acabar com a importação da goma arábica, que custa ao País cerca de 1 milhão e 900 mil dólares/ano, como também pode vir a ser um produto de exportação. O Cajueiro é originário do Brasil, e diz a história que foi introduzido em Moçambique e também na Índia pelos portugueses, no século XVI, juntamente com muitas outras espécies vegetais. O maior produtor mundial é a União Indiana seguindo-se Moçambique, embora aqui o plantio do cajueiro não obedeça ainda a qualquer plano nacional. Um erro frequente, é considerar que o fruto do Cajueiro é a parte suculenta de cor amarela ou avermelhada. Trata-se sim de um pedúnculo que é vulgarmente designado por caju. O fruto do cajueiro é a castanha.
Fonte: http://www.correiodaparaiba.com.br/especial4.html
http://www.embrapa.br/pesquisa/tecnolog/gomcaj.htm
http://www.terravista.pt/Bilene/1156/cajueiro.html
acesso em março de 2002
Agradeço ao pesquisador José Maria Barbosa Filho (jbarbosa@ltf.ufpb.br) por ter contribuído com informações para elaboração deste texto em janeiro de 2003