Física

“Chave Ótica”

Um dispositivo óptico capaz de mudar a direção de propagação de um feixe de luz está sendo desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pela equipe do físico Anderson Gomes. O defletor óptico (ou chave óptica) utiliza uma proteína estudada há anos – a bacteriorodopsina -, que tem a propriedade de absorver luz e pode aumentar a capacidade de transmissão de dados por fibra óptica. Um protótipo do defletor já está sendo desenvolvido.

A bacteriorodopsina é produzida pela bactéria Holobacterium salinarium, encontrada em ambientes salinos, ou sintetizada em laboratório. Para a realização do protótipo do defletor, a proteína foi dissolvida em água e colocada em uma caixa retangular de vidro de poucos centímetros para os primeiros testes. Os pesquisadores pretendem elaborar a partir do líquido um filme de cinco micrômetros de espessura, que será colocado em uma pequena placa de vidro. Quando um feixe de luz passar pela película de proteína, um laser (chamado feixe de controle) que incide fixamente sobre o filme provocará a deflexão da luz, direcionando-a para o ponto desejado. Em função da variação de sua intensidade, o feixe de laser altera a direção do outro feixe. O custo estimado do protótipo é de US$ 200 mil.

 

A deflexão ocorre porque, quando submetida à luz, a bacteriorodopsina sofre uma mudança em sua estrutura molecular, tendo a posição dos átomos alterada. Além disso, seu índice de refração não linear (capacidade de induzir vários efeitos, como a deflexão ou a mudança de cor) fica bastante elevado.

A chave totalmente óptica pode substituir os defletores usados atualmente, que convertem na entrada o sinal óptico em eletrônico para transmiti-lo; na saída, ele é novamente transformado em sinal óptico. Além disso, o novo defletor é mais rápido e se adapta a qualquer taxa de transmissão de informação. Os sistemas eletrônicos só acompanham transmissões de até cem gigabits. Já os dispositivos ópticos podem alcançar capacidades da ordem de terabits (mil vezes maiores que um gigabit). O novo dispositivo pode melhorar o sistema de transmissão de dados das centrais telefônicas, em que os dados chegam por cabos de fibra óptica e precisam ser direcionados para seus destinos. Segundo Anderson Gomes, “tornar o roteamento da luz completamente óptico é o grande desafio das telecomunicações”.

O método pode substituir os defletores convencionais, que transformam o sinal óptico em eletrônico para depois transformá-lo de novo em sinal óptico. Esse processo é comum nas centrais telefônicas, onde as informações chegam num cabo de fibra óptica e precisam ser direcionados para o seu destino final. Com a utilização da proteína, a equipe também espera aumentar a capacidade de transmissão de dados. Nos sistemas convencionais, o volume de informações transmitidas gira em torno de gigabits. “Com o defletor óptico, pode alcançar terabits”, garante o professor Anderson Gomes, chefe do Departamento de Física e orientador da pesquisa. Os testes estão sendo realizados pelo doutorando em Física Renato de Araújo. Ele publicou os primeiros resultados na revista científica Eletronic Letters, dos EUA. Em setembro, após a apresentação no Congresso de Laser e Eletro-óptica, na França, a pesquisa foi divulgada como uma novidade industrial por uma revista virtual especializada (www.optics.org).

 

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n237.htm

http://www2.uol.com.br/JC/_2000/1710/cm1710_1.htm

Acesso em fevereiro de 2002 envie seus comentários para