Está sendo desenvolvido no Brasil o primeiro coração auxiliar artificial para uso por pacientes que aguardam transplante. Criado em 1998, após pesquisas no Baylor College of Medicine, em Houston (EUA), para sua tese de doutorado, concluída na UNICAMP como bolsista do CNPq e apresentado na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp pelo engenheiro mecânico especialista em biomédica Aron de Andrade, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, atual Divisão de Bioengenharia da Fundação Adib Jatene, a peça é implantada dentro do corpo humano e possui dois ventrículos, ao contrário de equipamentos similares. O CAA não irá substituir o órgão natural. Ele é indicado para pacientes que têm como única solução o transplante de coração. “Naturalmente essas pessoas estão com o coração debilitado e, muitas vezes, não conseguem sobreviver até conseguir a doação para transplante. Com o coração artificial, esta espera será mais tranquila, já que podemos garantir a vida útil de seu funcionamento de até 5 anos e o tempo médio, no Brasil, para aparecer um doador é bem menor”, explicou Andrade.
Pouco maior que uma bola de tênis, o coração artificial é feito de um plástico especial – o poliuretano. Suas paredes internas são revestidas por colágeno, para que o sangue não entre em contato com o plástico e coagule. A peça é alimentada por um motor elétrico, localizado entre dois diafragmas (membranas de silicone que formam os dois ventrículos). “O Brasil já conta com um dispositivo com apenas um ventrículo. Foi desenvolvido e está sendo testado, pela primeira vez, um completo com dois ventrículos”, afirmou o engenheiro.
O coração auxiliar é ligado ao natural por válvulas biológicas de pericárdio bovino (membrana que envolve a válvula artificial para evitar rejeição). O ventrículo artificial direito auxilia seu equivalente natural bombeando o sangue com mais pressão para o pulmão. O ventrículo artificial esquerdo envia o sangue com mais força para a aorta, que o distribui pelo corpo. Assim, as limitações provocadas pelo coração doente diminuem e o paciente tem mais tempo para aguardar o transplante. Em casos de parada cardíaca, o coração auxiliar pode assumir por tempo limitado as funções do natural, permitindo que o paciente seja socorrido a tempo.
O valor do novo coração – R$ 30 mil – é muito inferior ao do similar americano (R$300 mil), pois além de utilizar um circuito mais simples, as despesas com mão-de-obra, implante e manutenção são menores. A peça foi testada com eficácia em carneiros e funcionou por cinco horas. Aron de Andrade acredita que o equipamento possa ser usado em humanos no final de 2001. “Na cirurgia de implante, o coração natural continua funcionando e não é preciso manter as funções do paciente por meio de aparelhos.” As vantagens deste aparelho em relação ao que substitui o coração natural são várias, de acordo com o pesquisador. A cirurgia é mais simples; a recuperação é mais fácil; e é possível manter o controle da frequência cardíaca e da pressão arterial mais facilmente, já que o coração do paciente continuará funcionando. Além disso, Andrade ressalta que, numa eventual falha do aparelho, o paciente ainda tem o coração natural para mantê-lo vivo enquanto forem feitos os reparos necessários. Já os pacientes que têm apenas o coração artificial, no caso de problemas, é preciso uma intervenção de emergência.
O projeto está em sua última fase de testes, ainda com animais, quando é avaliado o comportamento da circulação sanguínea com o uso do CAA. São verificadas funções como a coagulação do sangue, a irrigação de todos os órgãos do corpo e eventuais rejeições ao dispositivo. Por enquanto, as respostas têm sido bem positivas e a perspectiva é de que em dois ou três anos já se poderá utilizar o aparelho em pacientes. “Já sabemos que será inevitável à necessidade do uso de anticoagulante, mas o paciente poderá levar uma vida normal, sem excessos”, concluiu Andrade. Em 2005 o equipamento deve ser testado em humanos e colocado no mercado. Depois de aprovado, o CAA poderá ser indicado para pacientes que tem como única solução o transplante de coração, com expectativa de garantir vida útil de pelo menos cinco anos.
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n220.htm
Acesso em fevereiro de 2002
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 316
Revista Fornecedores Hospitalares, dezembro 2004, seção Em Foco, página 12
Agradeço ao inventor prof. Aron Andrade (aandrade@fajbio.com.br) pelo envio de sua foto em junho de 2005 para composição desta página