Estão avançadas as pesquisas para a produção do cupulate, um produto análogo ao chocolate, feito com amêndoas de cupuaçu. Pouco conhecido no Sudeste, o fruto do cupuaçuzeiro (Theo broma grandiflorum), uma árvore da Amazônia, é ovalado, com peso médio de 1,2 kg. Fornece a polpa, usada em doces, sorvetes e licores, e as amêndoas, ainda mal utilizadas – normalmente, como adubo. A situação pode mudar. Os pesquisadores Jaime Aguiar e Giorgini Venturieri, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de Manaus, comprovaram que as sementes podem ser fermentadas e secas em uma caixa de madeira e em seguida torradas, moídas e moldadas. Tornam-se assim uma fonte de energia: de cada quilograma de amêndoas se obtém 350 gramas de chocolate bruto em bastão. O teor de gordura e o poder calórico são equivalentes aos do chocolate comum, feito com as amêndoas de uma planta do mesmo gênero, o cacaueiro (Theo broma cacao). Na Unicamp, um grupo conduzido por Marisa Jackix, Nelson Pezoa García e Lireny Gonçalves, em colaboração com Georginni Venturieri, da Universidade Federal do Pará, trabalham na otimização dos processos de fermentação, torração, temperagem e na caracterização físico-química e organoléptica da manteiga e pós de várias espécies de Theo broma.
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) obtiveram patente sobre uma tecnologia para fabricação de alimentos de chocolate à base do fruto amazônico, em lugar do cacau. Seis produtos já foram desenvolvidos: três “chocolates” e três “achocolatados” em pó. Segundo a pesquisadora Suzana Lannes, responsável pelo projeto, trata-se de um aprimoramento do cupulate, o chocolate de cupuaçu patenteado há quase dez anos pela Embrapa, mas nunca comercializado. “O cupulate é um produto ainda rústico, que precisa de modificações para ser levado ao mercado”, explica a cientista, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. “Ele derrete muito fácil; não resiste ao calor.” A nova tecnologia altera as propriedades de fusão da parte gordurosa do cupuaçu, dando mais consistência ao produto. A partir daí foram produzidos os três tipos de “chocolate” – ao leite, branco e meio amargo – e “achocolatados” – tradicional, dietético e enriquecido com cálcio. As aspas devem-se a um detalhe jurídico: o produto não pode ser chamado de chocolate (porque não leva cacau) nem de cupulate (nome já registrado pela Embrapa). A nova patente refere-se simplesmente ao “processo de formulação de produtos alimentícios à base de cupuaçu”. A receita é a mesma do chocolate, só que com cupuaçu em vez de cacau. O sabor e o aroma são quase idênticos, diz Suzana, mas o fruto da Amazônia traz a vantagem de ser um produto nativo brasileiro, com custo de produção muito reduzido. “É um bom negócio para o Brasil”, diz a pesquisadora. “O País tem cacau, mas não tem tecnologia sobre o chocolate.”
O Cupuaçu (Theo broma Grandiflorum) é uma árvore de porte pequeno a médio que pertence à mesma família do Cacau e pode alcançar até 20 metros em altura. A fruta de Cupuaçu foi uma fonte primária de alimento na floresta Amazônica tanto para as populações indígenas, quanto para os animais. Essa fruta tornou-se conhecida por sua polpa cremosa de sabor exótico. A polpa é usada no Brasil inteiro e no Peru para fazer sucos, cremes de sorvete, geleia e tortas. Amadurece nos meses chuvosos de janeiro a abril e é considerada uma delicadeza na culinária de cidades sul americanas onde a demanda ultrapassa o estoque. Povos indígenas assim como comunidades locais ao longo do Amazonas cultivaram Cupuaçu como uma fonte primária de alimento desde gerações. Nos tempos antigos, sementes de Cupuaçu foram negociadas ao longo do Rio Negro e Orinoco onde o suco de Cupuaçu, depois de ser abençoado por um pajé foi utilizado para facilitar nascimentos difíceis. O povo Tikuna utiliza as sementes do Cupuaçu para dores abdominais.
Recentemente, a ONG Amazonlink, criada em 2001 com o objetivo de colaborar com a preservação da Amazônia e com a melhoria das condições de vida de seus habitantes, decidiu comercializar produtos de cupuaçu do Acre, como bombons artesanais, com uma empresa alemã. Acabou descobrindo coisas interessantes embora não se constituam em grande novidade. O negócio não pôde ser feito porque a empresa japonesa Asahi Foods Co. Ltda. era dona das patentes de óleo da semente de cupuaçu e do cupulate, que vem a ser chocolate de cupuaçu, na Europa. Não bastasse isso, a empresa também havia registrado o nome cupuaçu na União Europeia e nos Estados Unidos, o que significa que, nesses lugares, a comercialização de qualquer produto de outra empresa com o nome da fruta é proibida.
Unidos ao GTA _ Grupo de Trabalhos Amazônicos, tais instituições deram entrada na ação administrativa de invalidação da marca no Japão. O eixo da argumentação dos autores girou em torno do caráter descritivo da denominação cupuaçu, que nada mais é que o nome popular indígena tipicamente brasileiro para a árvore e seus frutos, conhecida na comunidade científica por Theo broma Grandiflorum. O problema com a marca cupuaçu é que não se pode registrar um nome genérico que tem a função de designar a matéria prima do bem comercializado, já que não é deixado aos concorrentes outro meio alternativo possível para designar aquela matéria prima. A ação foi julgada no Japão em março de 2004, onde os examinadores japoneses concordaram com a argumentação das ONGs brasileiras, cancelando-se pois a marca. Resumidamente os argumentos que fundamentam a decisão são: i) a designação cupuaçu é o nome da fruta pelo qual se extraem óleos e gorduras comestíveis, portanto designação comum da matéria prima o que incide na proibição do artigo 3 da Lei de marcas do Japão, II) por razões de proteção à concorrência e do consumidor os examinadores consideraram a marca cupuaçu capaz de ludibriar o público uma vez que foi registrada em 1998 pela empresa Asahi para designar alimentos que utilizassem quaisquer gorduras e óleos naturais em sua composição. Logo neste caso específico, a empresa poderia vir a fabricar um alimento sem a gordura ou óleo do cupuaçu, mas com a designação comercial cupuaçu em sua embalagem.
O cupuaçu é uma fruta tipicamente nacional. Do mesmo gênero do cacau, é alimento dos povos indígenas da região amazônica. Dela se fazem sucos, cremes, sorvetes, geleias, doces e, mais recentemente, chocolate. O projeto para transformar o cupuaçu em fruta nacional, de autoria do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), tramitava no Congresso Nacional desde setembro de 2003. À época, ONGs que atuam na Amazônia compraram uma briga pela paternidade da fruta, mobilizadas pela contestação à concessão dos direitos de comercialização da marca “cupuaçu” à empresa japonesa Asahi Foods. A Asahi criou uma espécie de subsidiária, a Cupuaçu International [sem cedilha], que pediu também o registro de patente para os métodos de produção industrial do cupulate, o chocolate obtido a partir da semente da fruta. A campanha “O Cupuaçu é Nosso” virou, à época, um símbolo da luta de ONGs contra a biopirataria. Depois de uma série de disputas que se estenderam por seis anos, o Brasil pode, finalmente, dizer: “O cupuaçu é nosso”. A lei que estabelece o produto como fruta nacional foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada em 20 de maio de 2008 no Diário Oficial.
Fonte:
http://www.fapesp.br/ciencia497.htm
Acesso em abril de 2002
http://www.amazonlink.org/biopirataria/cupuacu.htm
Acesso em fevereiro de 2003
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-2000, MDIC, Brasília, 2002, página 328
http://www.portalintelectual.com.br
Acesso em janeiro de 2003
Jornal Valor Econômico de 10.03.2003
http://www.diariodopara.com.br/Cidades/Ci_08.asp
Acesso em agosto de 2003
“Embrapa ganha briga por patente” Daniela Christovão, De São Paulo, Valor Econômico – 6/02/04
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO DATA: 13/04/04 ON-LINE “Chocolate de cupuaçu tem nova patente”
Revista da ABPI, n.72 set/out 2004 “A quem pertence o cupuaçu”, pág. 59-60
21/05/2008 – 08h43 Símbolo da biopirataria, cupuaçu ganha status de fruta nacional do Brasil da Folha de S.Paulo, em Brasília