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Medicina

“Detecção de Corpos Opacos por Raios-X”

Nascido na França em 1860, Henrique Morize veio para o Brasil com 15 anos de idade. Em 1884 naturalizado brasileiro, ingressou no Observatório Nacional Imperial e formou-se engenheiro em 1890 pela Escola Politécnica. Henrique Morize foi Professor Ordinário na Cátedra de Física Experimental e Meteorologia (1896-1918) e Lente Catedrático de Física Experimental (1898-1925) da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Sua tese para conseguir o posto de catedrático em física versou sobre os Raios catódicos e os raios Roentgen, na qual defendia a natureza ondulatória desses raios, que ainda era negada na ocasião por muitos físicos. Físico, astrônomo e diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, em seus arquivos encontra-se seu depoimento sobre as experiências que realizou com raios X, meses após a descoberta de Roengten: As primeiras radiografias executadas no Brasil o foram no Laboratório de Física da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, pelo então professor Dr. Francisco Carneiro da Cunha e seu Preparador Manoel de Queiroz Ferreira, logo que tiveram noticias pela imprensa do descobrimento do Prof. Roentgen. Utilizaram para isso um simples tubo de Crookes, do modelo chamado de “cruz” e destinado a demonstrar a marcha retilínea dos raios catódicos e uma pequena bobina de Gaiffe. Obtiveram assim radiografias muito incorretas, de uma chave e outros objetos metálicos encerrados numa caixa, é de uma mão, que exigiu uma hora de exposição. Os originais dessas radiografias ainda são conservados no mesmo laboratório, e trazem a data de 20 de março de 1896. O Dr. Henrique Morize mandou vir, mais tarde da Inglaterra dois pequenos tubos “focus” então recentemente inventados e um pouco de fluoreto duplo de uranulo e amônio, com o qual confeccionou um pequeno antepara fluorescente que serviu para as primeiras radioscopias, e depois executou as primeiras radioscopias realmente nítidas. Essas experiências realizadas num laboratório do Observatório Astronômico foram muito concorridas e a Escola politécnica ainda conserva diversas radiografias dessa época. Duas delas trazem indicação de terem sido executadas com centelhas de 10 cm e trazem a data “6 Nov. 1896”.

 

A pedido de alguns médicos que se interessavam pelo assunto, realizou diversas radiografias que infelizmente não foram conservadas, e á vista dos resultados obtidos os Dres. Camillo Fonseca e Araújo Lima o Convidaram para com eles, fundarem um gabinete radiológico que se estabeleceu, em primeiro lugar, na R. Gonçalves Dias. O material encontrado á firma alemã Reiniger demorou muito para chegar. A princípio constava de uma bobina de 25 cm de centelha com interruptor Deprez, alimentada por uma bateria de pilhas de bichomato de potássio, um anteparo de platino-cianureto de bário de formato 24 x 30 cm de um suporte articulado e de meia dúzia de tubos. Mais tarde, o interruptor metálico foi substituído por outro, de mercúrio e acionado por motor. As pilhas que eram muito incomodas, tiveram de ser abandonadas e em seu lugar foram utilizados acumuladores. Não existia então, como agora, energia eléctrica canalizada, por isso tornou-se necessário instalar-se um motor a petróleo Gartner, da potencia de 1 cavalo que acionava um dínamo Gramee, com o qual os acumuladores eram carregados. Pouco depois, acrescentou-se ao material radiográfico um equipamento completo de d’Arsenal, para o uso terapêutico das correntes de alta frequência, e um pequeno gerador de correntes sinuosidades.

Durante cerca de 1 ano e meio que durou esse gabinete, foram executadas muitas radiografias, cujas mais interessantes ainda existem, como clichés, em poder do Dr. Camillo Fonseca. Tendo se apresentado por diversas vezes a oportunidade de localizar projetis em pacientes, o Dr. Morize teve ensejo de Imaginar um processo radio métrico, simples e rápido, o qual forma o assunto de uma nota apresentada á Academia das Ciências de Paris, (C.R.31 de Janeiro de 1898 e reproduzida na conhecida revista “Eclairage Electrique, Vol XIV, 488). Esse processo, hoje bastante divulgado é também encontrado na obra clássica de Londe “Traité pratique de rádios copie et de radiographie”.Apesar de terem obtido satisfatório êxito técnico, com meios de ação muito limitados, os resultados financeiros foram muito desfavoráveis, e os associados se viram, com muito pesar, forçados a abandonar a tentativa, que talvez tivesse vindo prematuramente á luz, pois a produção da energia eléctrica era, naquele tempo, excessivamente dispendiosa, os tubos se deterioravam facilmente e eram obtidos do estrangeiro depois de longa demora. Outra circunstância desfavorável consistiu na relativa abundancia de casos raros trazidos pelos médicos das suas clínicas hospitalares que, embora interessantes, eram gratuitos, enquanto que os que podiam custear as elevadas despesas eram muito raros. O resultado natural foi que, quando os associados tiveram de convencer-se de que, embora dispostos a trabalharem sem esperança de lucros, ainda eram forçados a arcar com prejuízos por tempo indeterminado, deram por terminada a experiência”.

A locução do Professor Dulcidio Pereira durante seção da Academia Brasileira de Ciências em 1930, em homenagem a Henrique Morize, seu primeiro presidente relata sobre sua invenção: “A tese que, então, apresentou, sobre Raios Catódicos e de Röetgen, é um trabalho de alto valor, e se pode afirmar que a ele se devem os primeiros trabalhos de caráter verdadeiramente científico efetuados sobre esse assunto no Brasil. Aliás, nessa tese se encontra uma parte absolutamente original – aquela em que ele descreve o seu processo de determinar a posição de um corpo opaco, situado no interior de um organismo. O processo foi por ele ulteriormente explicado em um atraente artigo que se publicou nos “Comptes-Rendus”, da Academia de Ciências de Paris. É interessante lembrar, que, durante a guerra, o Professor Morize teve de reivindicar a autoria do processo que um usurpador europeu pretendia atribuir a si mesmo, o que provocou o pronunciamento de Branly, favoravelmente ao sábio brasileiro”

Esse processo está descrito na tese do Dr. Edésio da Silveira: “Opera-se assim: fixa-se o membro de forma que o corpo estranho continue visível. Colocam-se então na pele dois pequenos discos de metal de forma que a sua sombra coincida com a do corpo estranho, tendo-se assim um primeiro plano; muda-se depois de posição, afastando o membro o mais possível e procurando formar um ângulo. procede-se como para se obter o primeiro plano, tendo-se assim o segundo. Na intercessão desses planos se acha o corpo estranho. Marca-se o ponto exato a nitrato de prata ou ponta de fogo para não se apagar quando fazer-se a assepsia, antes da intervenção cirúrgica”.

Além de ter obtido as primeiras radiografias da América do Sul, Morize organizou o primeiro gabinete de radiografia médica, depois cedida ao eminente médico e cientista Álvaro Alvim. Foram também notáveis os seus trabalhos sobre telegrafia sem fios, realizados logo após as experiências de Marconi. Em 1908, nomeado diretor do Observatório Nacional, onde desenvolveram muitos trabalhos, sobre magnetismo terrestre, variações do potencial elétrico, tendo também instalado a primeira rede de observações meteorológicas no Brasil, depois transformada em Instituo de Meteorologia. Foi o fundador em 1916 e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Ciências (antecessora da atual Academia Brasileira de Ciências) e fundador junto com Roquete Pinto uma das primeiras estações de radiodifusão. Foi membro do Instituo Histórico e Geográfico, Instituto Politécnico, Sociedade de Geografia entre outras Instituições. Em maio de 1919, Morize chefiou a expedição brasileira ao Ceará para a observação do eclipse total do Sol, onde pela primeira vez, foi confirmada experimentalmente a teoria da relatividade de Einstein. Ainda hoje, o Museu da Escola de Engenharia, no novo prédio da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, bloco A, são preservados muitos dos instrumentos utilizados nos laboratórios da antiga Escola Politécnica, entre as peças de maior valor encontram-se as primeiras radiografias feitas no Brasil e na América do Sul, pelo prof. Morize, em 1896

 

 

Fonte:

http://www.cbpf.br/FISCUL/descobertaRX.html

http://www.abc.org.br/historia/h_morizet1.html

http://pub2.lncc.br/mast/did.htm

Acesso em maio de 2003

História da Engenharia no Brasil, sec. XVI a XIX, Pedro Telles, Segunda Edição, Clube de Engenharia, página 489 e 506

Pelos caminhos da medicina, Lourival Ribeiro, Rio de Janeiro, 1976, página 34