Medicina

Diagnóstico da Morte

Um novo método que indica com maior precisão o horário de morte pode ajudar a Justiça a incluir ou não pessoas na lista de suspeitos de assassinato. Medir a temperatura de um corpo é o método mais utilizado pela perícia policial e sugere o horário de morte com uma variação de até duas horas para mais ou para menos. O novo método desenvolvido por Marcos de Almeida, chefe da Disciplina de Medicina Legal e Bioética da Unifesp, e Daniel Romero Munhoz, da Universidade de São Paulo, usa a microscopia eletrônica e diminui essa variação para até meia hora.

 

O estudo, por enquanto realizado apenas em cães, mostrou que é possível quantificar com menor margem de erro o momento em que ocorreu a morte por meio de uma análise das alterações das estruturas das células de tecidos de qualquer órgão. “As alterações são tão significativas que o método se revela bastante razoável como uma avaliação mais precisa da hora em que ocorreu a morte em seres humanos, principalmente, quando a informação é relevante para acusar ou inocentar pessoas de um crime”, afirma o pesquisador, que teve seu trabalho publicado na revista científica Forensic Science International, em maio de 1999.

Marcos de Almeida afirma que o método da temperatura tem limitações. Só tem validade até o momento em que a temperatura do corpo se iguala à do ambiente. “Quando uma pessoa morre, sua temperatura axilar fica em torno de 36,5ºC, e quando o perito vai medir, ela geralmente está em 34ºC”, diz. “A partir daí são feitos cálculos para saber em quanto tempo o cadáver perdeu os 2,5ºC”. Segundo ele, a queda de temperatura vai depender de uma série de variáveis que interferem na informação como, por exemplo, a massa corpórea da pessoa. Quanto mais obesa ela for, mais devagar cairá sua temperatura corporal. “Também temos que levar em conta se a pessoa não estava com febre no momento em que morreu”, diz o pesquisador.

Outra forma bastante utilizada para complementar o teste da temperatura é verificar a quantidade de manchas de sangue que se formam pelo corpo quando o coração para de funcionar. Essas manchas são perceptíveis e aumentam de número e de tamanho 40 minutos após a morte, dependendo da cor da pele e do tipo de morte. Em negros ou em casos em que a morte ocorreu depois de um acidente hemorrágico, elas geralmente são difíceis de serem localizadas ou aparecem em quantidades bem menores. Em função dessas incertezas, Marcos de Almeida buscou quantificar as alterações nas células do tecido do coração de quatro cães que estavam à disposição para estudos no Incor (Instituto do Coração), em São Paulo. A cada quinze minutos, num período de quatro horas, ele verificou que a estrutura celular mais suscetível a mensurações e que poderia ser transformada em números eram as mitocôndrias – pequenas estruturas localizadas dentro das células que são responsáveis pela produção de energia. “Sua dimensão aumentou em até quatro vezes, e suas estruturas foram rompidas”, explica. “Quanto maiores essas alterações, maior será o tempo de morte da pessoa”.

O pesquisador afirma que ainda é necessário realizar o estudo em seres humanos, numa escala maior de amostras. “Isso só será possível se o Instituto Médico Legal souber o horário exato da morte da pessoa, para podermos confrontar os dados”, explica. Marcos de Almeida acredita, porém, que a nova técnica ainda é inviável para a realidade das secretarias de segurança pública do país por se basear na microscopia eletrônica. “Dificilmente um instituto médico legal, sobretudo em território nacional, poderá fazer uso do aparelho”, explica. “Os institutos teriam de trabalhar em conjunto com as universidades para ter acesso aos equipamentos.”

 

 

 

Fonte:

http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed155/pesq6.htm

http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n376.htm

 

Acesso em janeiro de 2003