O IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de são Paulo, em parceria com o IZ – Instituto de Zootecnia de Nova Odessa (SP), a Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (RJ), USP – Universidade de são Paulo (SP), Unesp – Universidade Estadual Paulista, de Botucatu (SP), e as empresas Copersucar – Cooperativa dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (SP), Companhia Siderúrgica de Tubarão (ES), Cimento Portland Itaú e Jumil, está desenvolvendo um projeto conhecido como PIB – Projeto Integrado de Biomassa, visando a obtenção de energia através de uma biomassa não explorada até então como fonte energética: o capim-elefante, uma gramínea de alto porte, que chega a medir de 3 a 4 metros altura. A parceria entre as instituições e demais empresas foi firmada em 9 de fevereiro de 1998 e, a partir de então, deu-se início ao projeto. No mesmo ano o IPT assinou um contrato com a Finep – Financiadora para estudos e Projetos, instituições que até o momento já repassou US$ 175 mil dólares do total de US$ 300 mil disponibilizados para o projeto.
Desde 1993, uma equipe de pesquisadores do IPT e do IZ trabalham com plantios experimentais de gramíneas e foi a partir desses experimentos que comprovou a alta produtividade do capim-elefante, que possui um rendimento de até 40 toneladas de massa seca ( massa vegetal da qual se reduz a 0% de água) por hectare/ano, uma produtividade de 5 a 7 vezes superior a do eucalipto. De acordo com Vicente Mazzarella, diretor técnico do IPT e animador do projeto, o Instituto já vem tentando viabilizar o PIB há dez anos, mas existem usos e costumes arraigados que, para ele, são difíceis de mudar. “As pessoas costumam olhar para o capim apenas como uma fonte de alimentação do gado, mas ele pode ser ainda uma fonte energética. Nossa proposta segue duas vertentes: uma é produzir ração através da extração da precipitação da proteína contida no capim (que contém 2/3 de proteína total do capim) para alimentar galinha, peixe, porco e gado. A Segunda é a utilização do bagaço do capim como fonte renovável de energia”, explica.
O PIB constitui-se em dez sub-projetos, sendo que cada uma das instituições e empresas envolvidas respondem por uma ou mais etapas: a Embrapa está estudando a interação bacteriana para fixação de nitrogênio, que pode reduzir os gastos com uso de fertilizantes nitrogenados; o IZ vem acompanhando, há cerca de um ano e meio, diferentes campanhas de corte, pois acredita-se que o rendimento pode variar com a idade do capinzal. A Unesp está trabalhando no sentido de utilizar resíduos de gramínea para a produção de alguns produtos, como painéis para a indústria automobilística. O IPT, por sua vez, está desenvolvendo três sub-projetos: a extração de proteínas, moagem e acompanhamento na alimentação de frangos; a verificação da viabilidade técnica e econômica do projeto e a aplicação, na prática, da queima direta do capim elefante em um usuário (para isso, o Instituto está em contato com o Sincal – Sindicato dos Produtores de Carvão e Lenha do Estado de São Paulo). A idéia, nesse caso, é aplicar esse processo em uma indústria de artefatos cerâmicos, localizada em Mogi Guaçu (SP), que, durante dois anos caso essa parceria se concretize), irá plantar o capim e queimá-lo em seus fornos, o que possibilitará mostrar, na prática, a economicidade desse sub-projeto.
A Unicamp, que também é responsável por três sub-projetos, está verificando a colheita, a picagem e o armazenamento, a secagem e a queima direta do produto, o carvoejamento e, por último, a gaseificação do capim. A CTS é responsável pela aglomeração (processo pelo qual transforma-se carvão em pó em carvão aglomerado, os chamados pellets, que podem ser usados para diversas aplicações, como a utilização em fornos industriais, churrasqueiras, lareiras, entre outras). Por outro lado, existe ainda um outro sub-projeto, que pode vir a incorporar o projeto inicial: é a interação do esgoto domiciliar com o plantio do capim-elefante. De acordo com Mazzarella, se o capim for plantado em um terreno ligeiramente inclinado, pode-se despejar o esgoto domiciliar nesse terreno, conseguindo assim ministrar água, micro e macro nutrientes às gramíneas de forma controlada. “Além disso, basicamente não haveria a necessidade de utilização de fertilizantes e, ao mesmo tempo, ao fim de 70 metros de percurso, esse esgoto escorreria na forma de água compatível com qualquer rio brasileiro, ou seja, o esgoto seria tratado e ainda promoveria um crescimento explosivo do capim”, diz. Segundo ele, isso já foi feito experimentalmente no interior de São Paulo pela Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, porém com outras espécies de gramíneas.
“Vamos desbravar as variáveis desse processo desses diferentes sub-projetos do PIB. Quando tudo estiver definido, esse conhecimento será passado para o público, pois nada disso é patenteável. Ao mesmo tempo, a cultura extensiva do capim-elefante poderia trazer diversos benefícios para o país, como a fixação do homem no campo, a geração de empregos e a criação de independência em relação a alguns combustíveis que ainda são importados, como o petróleo”, salienta Mazzarella. Hoje em dia, a biomassa representa 30% da matriz energética no Brasil (levando em conta também a utilização do álcool e do bagaço da cana-de-açúcar) e 14% no mundo. “Por isso, o que pretendemos é que o capim-elefante possa Ter uma participação razoavelmente expressiva nessa matriz energética brasileira”, resalta o pesquisador. O plantio do capim-elefante pode ser feito em qualquer lugar onde haja condições mínimas de fertilidade do solo, luz do sol e pluviosidade, condições essas existentes em diversas regiões brasileiras.
“Em termos de tecnologia, deve-se considerar esse plantio uma cultura permanente que vai, portanto, necessitar de adubação continuada. Isso já é uma relativa novidade, porque a maioria dos agricultores acha que o capim, depois de plantado, não necessita mais de adubação. O capim-elefante não funciona assim. Como vai ser cortado pelo menos duas vezes ao ano, é preciso alimentá-lo com fertilizantes”, explica Mazzarella. Conforme ele, alguns aspectos constituirão mudanças mais radicais. “A interação com o esgoto familiar, por exemplo, Ter que ser feita segundo uma tecnologia muito bem controlada. O corte e picagem do capim em grande escala são tecnologias conhecidas, mas exigem a adaptação dos equipamentos a serem utilizados. A queima direta, apesar de também ser conhecida, exigirá algumas adequações na forma de secagem e no sistema de alimentação”, conclui ele.
O descrédito na geração de energia com o capim impede uma rápida difusão do método. Os cientistas tiveram a idéia de usar o capim-elefante quando notaram os altos índices de massa seca combustível que ele gera, dado que consta na literatura específica há décadas. “É algo muito evidente o potencial do capim-elefante. Mas às vezes, coisas óbvias, justamente por serem óbvias, demoram 20, 30 anos até serem utilizadas” comenta Vicente Mazzarella, diretor técnico do IPT. Segundo Mazzarella, no futuro será possível fazer uma espécie de Pró-Álcool com o capim, só que sem subsídios do governo. É uma alternativa de energia ecológica, já que o capim é renovável, e não esgota o solo como a cana. Com ele, é possível adubar o solo com determinados tipos de bactérias e não com produtos químicos. Existe ainda um projeto de adubá-lo com esgoto doméstico, o que pode criar uma solução de saneamento.
Fonte:
http://www.unilivre.org.br/centro/experiencias/experiencias/348.html
http://www.lsi.usp.br/~aun/arquivo/33_2000/ano33-03.ht
acesso em agosto de 2002
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