O Governo do Estado, através da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) conclui em 2008 a instalação dos 27 fogões Geralux nas casas de famílias isoladas da Reserva Chico Mendes. O equipamento cozinha e produz eletricidade. Na mesma queima de madeira utilizada para o preparo dos alimentos, o fogão Geralux produz energia suficiente para acender três lâmpadas e ligar uma televisão ou outros equipamentos de baixo consumo, como rádio. Depois de dois anos de testes e adaptações na Funtac, o fogão passa à fase de experiência a campo. Até esta etapa da implantação, as famílias se dizem bem adaptadas à nova tecnologia e afirmam sentir se bastante beneficiadas.
Levar o equipamento até as casas foi a parte mais complicada devido à dificuldade de acesso ao peso do kit da mini –usina, que pode chegar a 140 quilos. Na maioria dos casos, o transporte foi feito nas costas e demandou o trabalho de vários homens em caminhas de muitos quilômetros pelos varadouros e mangas dos seringais. ”É uma operação de guerra”, disse Nadma Kunrath, coordenadora estadual do Programa Luz Para Todos e gerente do Centro de Referência de Fontes de Energia Alernativa da Funtac.
As fontes de energia podem ser classificadas em primárias, secundárias, renováveis e não renováveis. As fontes primárias são aquelas cujos combustíveis são substâncias naturais, como o petróleo, o carvão mineral, o gás natural e a lenha. As fontes secundárias são aquelas que trabalham com combustíveis derivados de outros combustíveis, como o óleo diesel e a gasolina (derivados do petróleo). As fontes renováveis são aquelas que têm seus combustíveis inesgotáveis ou que suas reposições são realizadas em curto prazo. O sol é uma fonte de energia renovável porque é considerada inesgotável. A lenha, o bagaço de cana e o álcool são fontes renováveis para as usinas termelétricas porque são produzidos e repostos em curto prazo. Os lagos são fontes renováveis porque a água é rapidamente reposta pelas chuvas. As fontes não renováveis são aquelas que têm seus combustíveis renovados em séculos ou milênios, como o petróleo e o gás natural.
No Acre, há vários estudos em andamento para geração de energia: o painel solar, o fogão Geralux, a biomassa, o biodiesel e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Até agora, os dois primeiros apresentaram o melhor resultado e a mais positiva relação custo\benefício para atender famílias isoladas. O Geralux é também mais ambientalmente correto do que os fogões tradicionais. Ele economiza até 50% da lenha empregada, além de reter toda a fuligem no próprio fogão – No entanto, o criador do fogão, Ronaldo Sato, e Nadma Kunrath aconselham os colonos a não abandonarem os fogões tradicionais para não gerar problemas de adaptação. O Geralux não utiliza caldeira, o que simplificou sua construção e reduziu riscos de acidentes. O vapor gerado no trocador de calor é transformado em energia mecânica e, a seguir, elétrica. A energia é armazenada em uma bateria comum de automóvel – cerca de 30% de sua carga é suficiente para a iluminação da residência em um período de 4 a 5 horas. Para recarregar a bateria utiliza-se o calor produzido no fogão durante o cozimento diário de alimentos.
Os kits foram levados em caminhões até a comunidade Rio Branco, no Seringal Floresta. Dali, seguiram conduzindo em camionetas até a entrada dos varadouros e levados até as residências carregados pelos trabalhadores dos programas Luz Para Todos e Centro de Referência de Energia Alternativa da Funtac, em caminhadas que duravam até um hora mata adentro. Devido ao peso, alguns foram transportados sem a caixa de madeira de 22 quilos. Um caminhão munk ajudou a remoção dos fogões. Trabalhadores do Luz Para Todos e da Funtac, além de moradores, ajudaram no transporte dos fogões. Beneficiados são ligados à extração de látex para a fábrica de preservativos.
As famílias beneficiadas são em geral vinculadas ao projeto de extração de látex para a Natex, a fábrica de preservativos de Xapuri. Elas vivem nos seringais Nova Vida, Floresta e Nazaré. O kit é composto pelo fogão, baterias e chaminés, além de duas panelas e um bule. O diretor-presidente da Funtac, César Dotto, investiu R$500 mil no projeto até esta fase. Na aquisição do kit foram aplicados R$135 mil. O formato atual é a quarta versão do protótipo da mini usina. A quinta, diz Ronaldo Sato, será definitiva. Ao invés do motor que faz algum ruído, virá com uma silenciosa turbina e será mais leve. Os testes de campo, que devem durar seis meses, indicarão novas adaptações.
Em 2008, o vice-governador e assessores do governo visitaram a casa de João Rinaldo e Raimunda Maia, na Colocação Rio Branco, no Seringal Floresta. A rede convencional do Luz Para Todos não consegue chegar à residência e a família recebeu o fogão. “Estou muito satisfeito. Com o fogão a gente faz comida e tem a luz”, afirmou Rinaldo, que viveu doze anos naquela casa sob a luz de lamparina à noite. Nesta fase, o fogão é capaz de manter três lâmpadas, um aparelho de som e uma televisão. Numa versão futura, pretende-se ampliar sua capacidade.
A proposta da Funtac é incluir o Geralux no Programa Luz Para Todos como energia alternativa. Junto com a placa solar, que já atende a dezenas de famílias, o fogão chega aos isolados como o grande instrumento de inclusão elétrica no Acre. Coordenadora tanto do Luz Para Todos como do projeto de implantação do Geralux, Nadma Kunrath calcula que 20 famílias ainda vivam na escuridão em todo o Estado. Moradores antigos relembraram os tempos difíceis na reserva, quando, sem ramal, caminhavam seis horas desde Rio Branco até Xapuri para resolver negócios e fazer compras. ”Hoje, faço o mesmo trajeto em meia hora com minha moto”, disse Raimundo Barros, o Raimundão, morador do Floresta desde a década de 1980 e líder comunitário. Antônia Soares tem 67 anos e mora desde 1965 no Seringal Boa Vista, vizinho do Floresta, e, ao lado da neta, Miriam Pereira, 17, disse que todos em sua família estão bastante motivados com a vida na reserva porque os benefícios estão chegando cada vez mais. Antônia passou praticamente a vida toda tendo como uma única fonte de luz as lamparinas a querosene ou óleo diesel. Em muitas ocasiões, o sernambi, sobra de látex nas árvores de seringueira, servia como combustível fornecendo, durante algum tempo, uma luz amarela e tênue. ¨Mas eu não vou abandonar minha lamparina, não¨, disse Raimunda Maia, da Colocação Rio Branco, alegando que a velha luminária ainda pode servir.
O sernambi produz luz fraca e, por isso, nos dias atuais é pouco utilizado para combustão. O “combustol”, nas palavras dos seringueiros, vem dos postos de gasolina de Xapuri. Mesmo caro, o óleo diesel sai mais em conta que o querosene vendido nos armazéns. O diesel alimenta motores, que são ligados de dia para serviços e por um curto período à noite -e as lamparinas, com as quais é possível caminhar pela casa. Um dos primeiros a receber o fogão em casa, na Colocação Santa Clara, no Seringal Nazaré, Adagmar de Souza Franco gasta R$30 a cada dois meses apenas para recarregar a bateria de 12 volts que usa para acender um bico de luz e ligar o som de vez em quando. Com o fogão, acenderá mais três lâmpadas e ouvirá o rádio a hora que quiser sem custo algum.
Instalada no Distrito Industrial de Rio Branco, a empresa mineira DAMP Eletric, ligada ao Grupo BMG, irá investir na implantação de uma indústria para a produção inicial de 300 unidades ao mês. É possível que o fogão receba o nome de BMG Lux. Após todos os testes, o fogão deverá ser licenciado para fabricação em série. A partir daí, os custos serão bastante reduzidos. “É previsível que o preço do fogão caia a um terço do valor da placa solar”, exemplificou César Dotto, da Funtac. Principais vantagens do fogão: O fogão produz energia para ligar cinco lâmpadas e uma tv ou rádio, evitando assim a falta de informação e o maior isolamento da população; Não há contato com a fuligem ocasionada pela queima da lenha, que é a oitava causa de morte no Brasil; Há total aproveitamento do calor, o que não ocorre nos fogões a lenha tradicionais; Não produz fumaça; Consome 50% menos lenha; É ambientalmente correto.
Projetado pelo engenheiro paraense Ronaldo Muneo Sato, esse fogão tanto agradou que a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) ofereceu-o à empresa mineira BMG Lux, responsável por sua fabricação no Parque Industrial de Rio Branco. Com o invento, Sato é vencedor do Prêmio Finep da Região Norte. Para a Funtac, o Geralux é também “mais ambientalmente correto do que os fogões tradicionais”: economiza até 50% da biomassa hoje empregada, além de reter toda a fuligem no próprio fogão. A inalação de fuligem é apontada pela Organização Mundial de Saúde como a 8ª causa de morte no Brasil. Lá se vai a fumaça pela chaminé, sem poluir o interior da casa. E o consumo de lenha cai pela metade. O Geralux não utiliza caldeira. Isso simplifica sua construção e reduz riscos de acidentes. O vapor gerado no trocador de calor é transformado em energia mecânica e, a seguir, elétrica. A energia é armazenada em uma bateria comum de automóvel – cerca de 30% de sua carga é suficiente para a iluminação da residência em um período de quatro a cinco horas.
Fonte:
http://www.ecoeacao.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=6695&Itemid=44 (Edmilson Ferreira)
http://www.gentedeopiniao.com.br/ler_noticias.php?codigo=48070
acesso em agosto de 2009
Mais 300 famílias ganham fogão ecológico, Agência Amazonas de Notícias, 18-08-2009