Hoje, não é mais tão simples tratar uma infecção como após a descoberta da penicilina, em 1928. Naquela época, bastavam cinco a sete dias de tratamento à base de antibiótico e a recuperação era completa. Dos antibióticos hoje comercializados, a maioria atua seletivamente sobre um grupo de bactérias, inibindo seu crescimento e assim as destruindo. Sua ação, porém, é lenta, se comparada à velocidade de duplicação de uma bactéria, que é de apenas 20 minutos. Essa diferença de ritmos leva à formação de gerações cada vez mais resistentes de bactérias e põe em xeque a eficácia dos antibióticos convencionais.
Segundo Sirlei Daffre, pesquisadora do ICB que coordena o subprojeto voltado à identificação e caracterização dessas novas substâncias, a gomesina tem ação mais rápida que os antibióticos convencionais porque atua diretamente na membrana da bactéria. Os experimentos indicam que os peptídeos antimicrobianos fazem buracos na membrana da bactéria e assim a levam rapidamente à morte. Os antibióticos convencionais têm outro mecanismo: atuam no interior das células, em processos de formação de proteínas e na síntese de ácidos nucléicos como o DNA e o RNA. Por isso, são mais lentos.
Além da baixa concentração necessária para obter o efeito desejado, o gomesina é um forte candidato a ser utilizado como antibiótico peptídico por ter um largo espectro de atividade. Testes realizados em cultura de células demonstraram que esse peptídeo apresenta uma forte ação contra diversas bactérias e fungos, entre as quais as bactérias que causam infecções no trato urinário, em queimaduras, meningite, furúnculos, febre reumática, pneumonia e leishmaniose.
Os peptídeos exercem um papel importante no sistema imunológico de animais e plantas. Constituem as primeiras barreiras contra bactérias e fungos invasores, antes que o organismo elabore respostas mais específicas, por meio da produção de anticorpos e de células de defesa. Para os invertebrados, que contam somente com o sistema imunológico inato, os peptídeos são vitais. “Diferentemente dos vertebrados”, conta Sirlei, “os invertebrados não produzem anticorpos e a resposta a um microrganismo invasor é sempre a mesma”.
Segundo Sirlei, o estudo das aplicações dos peptídeos, para avançar, teria de contar com uma estrutura de pesquisa mais sofisticada e o interesse das indústrias farmacêuticas. Além de resultados consistentes, atestados por revistas científicas de circulação internacional – a mais recente é o Journal Biological Chemistry, que aceitou para publicação o estudo de determinação da estrutura da gomesina –, a equipe do ICB dispõe de outro trunfo para negociar essa próxima etapa: a gomesina está patenteada há já dois meses.
Fonte:
http://www.fapesp.br/ciencia566.htm
acesso em dezembro de 2001