Natural da Amazônia, e cultivado quase que exclusivamente no Brasil, o guaranazeiro é um cipó que se enrosca no tronco das grandes árvores e sobe muito, podendo atingir até 10m. Suas flores são brancas, de formato parecido com as do café. Quando a flor cai, aparece o fruto, pouco maior que um grão-de-bico e fortemente colorido: vermelho em cima e amarelo embaixo. Desse fruto de aparência estranha, semelhante a um olho humano, é extraído o pó de guaraná, encontrado em drogarias, casas de produtos naturais e supermercados. Hoje, a extração do pó do guaraná é altamente industrializada, mas entre os índios tinha o caráter de uma verdadeira festa, da qual todos participavam, inclusive as crianças: Há muitos anos, vivia na selva um casal de índios muito felizes. Os dois eram jovens, davam-se bem e toda a tribo gostava deles. Apenas uma coisa faltava, para que fossem completamente felizes: um filho. Resolveram pedir esta graça a Tupã, que os premiou com um menino forte e sadio. Pouco a pouco, o menino foi conhecendo a vida e os segredos da floresta, aonde ia sempre acompanhado. Havia uma coisa que o deixava muito intrigado. Era Jurupari, o espírito do mal. Tanto correu a boa fama do menino, que chegou aos ouvidos de Jurupari. E, a partir daquele momento, ele começou a observar cuidadosamente a criança. Como Jurupari podia ficar invisível, ninguém percebia que ele andava por perto. Quanto mais o malvado observava o menino, mais raivoso ficava. Morria de inveja. Não podia suportar que alguém fosse tão inteligente e bondoso. Como o menino gostava muito de frutas, procurava sempre ficar perto das árvores, escolhendo e comendo os frutos maduros. Ao descobrir este seu costume, Jurupari teve uma ideia: – Vou transformar-me em cobra! Quando menos esperar, será picado e não terá salvação! Poucos dias depois, a criança apareceu outra vez. Os frutos estavam luminosos e o menino correu para a árvore. O demônio transformou-se numa cobra e foi para perto do menino. Ele notou a presença da serpente, mas como não tinha medo de cobras, pois conhecia todos os seus costumes, continuou a comer calmamente. O menino estava distraído, quando foi atacado pela serpente. Quando o encontraram, caído, os olhos virados, as frutas jogadas no chão, foi uma tristeza sem tamanho. Todos choravam, inconformados. De repente, o ruído de um trovão cobriu todos os outros sons. Os índios ficaram assustados, pois o céu não apresentava nenhuma nuvem. Somente a mãe do menino compreendeu a mensagem: – a voz de Tupã. Ele quer dar-nos uma compensação. Deseja que plantemos os olhos do meu filho. Diz que deles brotará uma planta milagrosa, cujos frutos nos farão feliz! Os índios atenderam e enterraram os olhos do menino. E deles nasceu o guaraná. Guará, na língua dos índios, significa o que tem vida, gente, e Ná, igual, semelhante. Assim, traduzido, guaraná quer dizer: bagos iguais a olhos de gente.
As plantações de guaraná ganharam novos estímulos da ciência. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu e coloca à disposição dos agricultores, clones de guaraná (estacas para plantio extraídas de matrizes pré-selecionadas). Produto típico da Amazônia, o guaraná tem grande importância econômica para a região como matéria-prima de refrigerantes (que absorve cerca de 70% da produção) e em forma de medicamento usado como energético ou para males do aparelho digestivo. Com os clones, a cultura ganha em produtividade. Cada planta poderá atingir a produção de 1,5 quilo contra os 200 gramas atuais. Segundo André Atroch, a estratégia é pôr no mercado novas opções aos produtores, para que eles escolham a mais indicada. Além de ser resistente à antracnose, a principal vantagem dos clones é a alta produtividade: mais de 1,5 quilo de sementes por planta, ante a média de 200 gramas por planta. Três dos clones apresentam ramos curtos, o que permite obter maior densidade de plantas por hectare. “Os dez clones, somados aos dois lançados no ano passado, garantirão a diversidade genética da cultura no Amazonas, impedindo o avanço da antracnose, que causa perdas totais”, avalia Atroch.
Outra vantagem dos clones é de serem imunes à praga antracnose, causada pelo fungo Colletrotrichum guaranicola, que pode resultar na perda total da produção. Os clones também apresentam precocidade para o plantio, em média dois anos contra quatro das plantas tradicionais. “O processo de melhoramento do guaranazeiro começou em 1973 com o início da escolha de matrizes em campos da Embrapa e de produtores”, informa André Atroch, o coordenador da rede, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.
As principais vantagens destes novos clones, obtidos pelo método de estaquia (reprodução sexuada), são: o tempo de formação da muda clonada é de 7 meses, enquanto que, a muda tradicional, por semente, demora 12 meses para ficar pronta e ir ao campo, os clones possuem precocidade para o início da produção, em média, de 2 anos, contra 4 anos das plantas tradicionais; a produção comercial estabiliza-se após 3 anos do plantio no caso dos clones, e em 5 anos nas plantas tradicionais e a sobrevivência dos clones no campo, após um ano do plantio, supera 90% e, nas plantas provenientes de sementes, geralmente está abaixo de 80%.
Fonte:
http://www.br2.com.br/noticias/ultimas/notemb2111a.html
http://www.cpaa.embrapa.br/produto/guarana/docs/indexbr.html
http://www.estado.estadao.com.br/suplementos/agri/2000/11/15/agri020.html
http://www.fapesp.br/linha59.htm
acesso em janeiro de 2002
http://www.terrabrasileira.net/indmitos/guarana.html
http://www.estadao.com.br/villasboas/guarana.htm
acesso em julho de 2002