Fármacos

Insulina Vegetal

 

A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) constatou que vegetais como o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e pelo menos outras 17 espécies vegetais produzem insulina. Até então, acreditava-se que apenas os animais vertebrados possuíam essa capacidade. A pesquisa que levou ao fato é coordenada pelo professor José Xavier Filho, que já requereu o pedido de patente do processo de extração da insulina vegetal.

A descoberta aconteceu por acaso, em 1988. A aluna de doutorado Antônia Elenir Amâncio de Oliveira isolava proteínas de sementes de plantas resistentes ao ataque de insetos. A professora Olga Machado verificou a seqüência de uma proteína do feijão-de-porco isolada por Elenir, e verificou ser idêntica a de insulina bovina. Xavier revisou e repetiu todos os procedimentos de isolamento e identificação da proteína, confirmando os resultados.

“A insulina é extraída a partir de um pó preparado das partes das plantas e sementes. A retirada é feita com soluções aquosas de tampões (soluções de acidez constante) normalmente utilizadas para extração de proteínas de plantas”, explica Xavier. Para a produção de 1g de insulina, são necessários 4,8kg de casca de semente de feijão-de-porco. “Um paciente de diabetes precisa de injeções diárias com quantidades de insulina que variam de acordo com suas necessidades, algo em torno de 1,5mg a 2mg”, afirma.

O pesquisador observou que algumas plantas utilizadas pela medicina popular no controle de diabetes também possuem insulina. É o caso da pata-de-vaca (Bahuinia forficata) e do feijão-de-corda (Vigna unguiculata). Entretanto, Xavier não conhece estudos que confirmem a eficácia desses vegetais contra a diabetes. Constatou-se que até mesmo o feijão comum (Phaseolus vulgaris) também tem insulina.

Para comprovar a eficiência da insulina vegetal, o pesquisador aplicou-a em camundongos diabéticos. Os níveis de açúcar das cobaias baixaram tornando-se normais. Os resultados do experimento já foram apresentados à comunidade científica. O professor e seu grupo também redigiram um artigo enviado à revista britânica Nature, a mesma que publicou o texto sobre o seqüenciamento do genoma da bactéria Xylela fastidiosa. “Eles não publicaram nosso artigo. O mesmo ocorreu com a revista Science”, revela.

Xavier disse que um pesquisador norte-americano, membro da Academia Nacional de Ciências do EUA, recusou-se a publicar o artigo alegando que só o faria se fosse apresentado o gene. Para ele a cautela é exagerada. “Se há uma proteína, deve necessariamente haver um gene, ressalvados os casos de contaminação, o que foi excluído logo no início do nosso trabalho. Na verdade, não é tão complexo apresentar o gene. As pesquisas para se clonar o gene da insulina de plantas estão em desenvolvimento no meu e em outro laboratório em colaboração”, garante. O texto foi publicado na revista Protein and Peptide Letteres, mas os periódicos científicos mais importantes do mundo continuam refratários a ele.

Atualmente, são realizadas pesquisas em outros países no sentido de se obter vegetais transgênicos que produzam insulina. “Circulam rumores de que pesquisadores nacionais vêm tentando expressar o gene da insulina humana em embriões de sementes. Há também sugestão (na Internet) de produção de insulina em sementes de canola”, comenta Xavier.

Fonte: http://www.radiobras.gov.br/abrn/c&t/2000/materia_220900_5.htm 

acesso em fevereiro de 2002