Fitoterápicos

Ipê Roxo

O Ipê-Roxo é tido como um poderoso auxiliar no combate a determinados tipos de tumores cancerígenos. É usado também como analgésico e como auxiliar no tratamento de doenças estomacais e da pele. No passado, foi largamente utilizado no tratamento da sífilis. A árvore do Ipê-roxo é alta e tem como característica as flores tubulares arroxeadas. Os estudos ainda não comprovaram suas propriedades anticancerígenas. A substância com propriedades terapêuticas é encontrada na casca. A extração predatória, realizada durante anos, quase levou a espécie à extinção.

A história científica desta “árvore buquê”, começa na Argentina em 1847 com a publicação do livro “La Vegetacion del Noroeste de la Província de Entre Rios”. A árvore é da família das Bignoniaceas, alta, decidual, comumente de 25-30 metros de altura e 60-80cm de diâmetro na altura do peito. O tronco é mais ou menos reto cilíndrico porém, com frequência é levemente tortuoso; o fuste é longo de 15 ou mais metros de altura; casca externa grossa de cor grisáceo parda, escura ou quase negra, com fissuras longitudinais finas, profundas e espaçadas. Sua inflorescência singular com tirso multi-floral nascendo em ramos afilos com lenho adulto, densamente tomentoso de cor rosa arroxeada, densamente pubescente formando nos galhos bolas de flores, ás vezes muito próximas, o que levou os botânicos que a descreveram a chamá-la pela primeira vez de “árvore buquê”. Por causa da cor e da forma de suas flores a árvore é também popularmente conhecida como: Ipê de flor roxa, Ipê preto, Ipê uva, Piúva. O sucesso da primeira expedição, levou o governo da jovem República Argentina a fazer outras viagens ás províncias de Santa Fé, Corrientes e Entre Rios. Em homenagem ao presidente, Jorge Avellaneda, que governava o país na época, (1846-1852), os botânicos a registraram com o nome de avellanedae. Nas expedições, a presença de diversos ipês, de flores roxa ou amarela, os “Lapachos”, como são chamados em espanhol, chamavam a atenção dos botânicos pela beleza da florada e pela dureza do lenho.

 

No Brasil da segunda metade do século passado o médico botânico Von Martius já relata o uso do Ipê contra a sarna, no Piauí e em seu livro “Systema de Matéria Médica Vegetal Brasileira”, sugere o nome de Tecoma imperdiginosa. No entanto os botânicos reunidos no Primeiro Congresso Botânico Internacional ,(1910), convencionaram chamá-la de Tabebuia imperdiginosa. Martius afirma em seu livro que a casca da árvore é adstringente, mucilaginosa e tem sabor amargo. “Usa-se o cozimento em lavagens, banhos e injeções contra as empingens, inflamações artríticas por debilidade, leucorréia e catarro da uretra”.

Outro ipê mencionado por Martius como medicinal na mesma obra é o Tecoma ipê, que no mesmo congresso botânico da anterior ficou com a denominação oficial de Tabebuia avellanedade, Lorz. & Grisen. Martius comenta em sua obra sobre o uso medicinal deste segundo ipê: “Dá-se o cozimento adstringente da casca, que também abunda em mucilagem, em gargarismos contra as úlceras sifilíticas da garganta, e em fomentações, contra as empingens. O uso das folhas é o mesmo que o da casca, mas é mais brando, e é útil na blenorragia dos olhos; unta-se o suco espremido de fresco em casos de espasmo das pálpebras”.

Apesar de já ser muito utilizada por médicos e farmacêuticos no Brasil, o Ipê, Tabebuia avellanedare, Lorz & Grisen alcança os meios científicos mais avançados da época através de um trabalho apresentado pela República Argentina na Exposição de Filadelfia, em 1876. No trabalho apresentado pelo governo argentino, no capítulo XV, página 272, estava a apresentação de um corante vegetal descoberto pelo fitoquímico argentino Max Siewert. Escreve Siewert sobre sua descoberta: “Um novo extrato ácido de uma árvore da família Bignoniaceae, da espécie Tabebuia, chamada vulgarmente de Lapacho. A este ácido denominei ácido lapacico.” No momento da exposição, o fitoquímico argentino achava que este ácido era um glicosídeo e que adicionado ao ácido sulfúrico formava o ácido lapacônico. Até o ano de 1876 nada sabiam os fitoquímicos europeus sobre este ácido, afinal não havia sido publicado qualquer trabalho a respeito desta planta na Europa, o que causou curiosidade e interesse em fitoquímicos dos mais diversos países do velho mundo.

Certa vez uma paciente terminal com câncer de útero sonhou que um monge lhe apareceu, e disse para ela procurar o remédio para a sua doença em uma árvore chamada Pau d’arco. A paciente assustada, mas recordando do sonho, contou a um parente que trabalhava pesquisando plantas medicinais. O parente, fitoquímico, resolveu seguir o sonho, e procurar o remédio no cerne do Pau d’arco. Estamos em 1956 e os Anais da Sociedade de Biologia de Pernambuco publica as primeiras observações sobre a ação antimicrobiana do lapachol. No Instituto de Antibióticos da Universidade do Recife os pesquisadores Oswaldo Gonçalves de Lima, Ivan Leôncio d’Albuquerque, Marisa Pinheiro Machado, Evans Silva e Gerson Pereira Pinto escrevem: “No curso de nossas pesquisas no campo dos antimicrobianos de plantas superiores, foi constatado que extratos etanólicos e acetônicos de amostras da madeira de construção denominada Pau d’arco (Tabebuia spp) apresentam forte ação inibidora contra gram-positivos (Baccilus subtilis e M. pyogenes v. aureus). Posteriormente verificou-se que as soluções obtidas oferecem, por concentração, abundante messe de substância cristalizada de cor amarela ouro, identificada, em seguida, como lapachol [2-hidróxi-3-(3-metil-2-butenil)-1,4-naftoquinona], composto cuja descoberta e estudo, nos fins do século passado, representam um dos capítulos mais brilhantes da história da fitoquímica”.

Escreve a revista O Cruzeiro em outubro de 1967: “Está cientificamente comprovado que o lapachol, substância abundantemente encontrada no ipê e isolada pelo professor Oswaldo Gonçalves de Lima, tem ação anticâncer já em fase de experimentação pré-clínica nos Estados Unidos, conforme comunicação oficial do Dr. Jonatham Hartwell, pesquisador norte-americano, assistente extraordinário do National Cancer Institute, órgão do governo dos EUA”. No corpo da matéria Dr. Oswaldo, reclama que a imprensa está distorcendo as suas declarações e explica: “Fui convocado pela Comissão da Câmara, por indicação do deputado Breno da Silveira, para uma exposição dos trabalhos que vimos fazendo sobre antibióticos e câncer . . . O meu maior cuidado foi em relação ao ipê. Há muito venho trabalhando em substâncias antimicrobiana, sobretudo em relação ao Lapachol e derivados, encontrados abundantemente no Ipê. Cheguei a descobrir que a planta, sob a forma de extrato, apresenta ação antimicrobiana, sendo o Lapachol a substância que mais fortemente apresenta esta forma de reação. Afirmei na exposição que os nossos estudos em relação à atividade anticâncer dos extratos da parte do líber (entrecasca) e do cerne (casca) do ipê revelaram resultados inconclusivos, isto é, inibições em tumores experimentais, resultados inconstantes e marginais, resultados estes que não podem ser cientificamente divulgados”. O Dr. Jonathan Hartwell por outro lado, fez uma afirmação de que ele, havendo pesquisado com espécies de Bignoniaceae, do gênero Tabebuia (é o gênero dos ipês), descobriu que os seus extratos tinham ação anticâncer em animais experimentais e que, ademais, havia isolado da planta uma substância ativa anticâncer, o Lapachol.

O Laboratório Estatal de Pernambuco (Lafepe) advertiu em fevereiro de 2004, por meio de notificação extrajudicial, a empresa Roberg Alimentos e Medicamentos da Natureza, sediada em Votorantim (São Paulo), por uso indevido da marca Lapachol, que pertence à instituição pernambucana desde 1978. Desde então, o Lafepe vem renovando o registro de marca, cuja última concessão foi dada em 9 de setembro de 2003, com prazo de validade de 10 anos. O Lapachol é o nome de marca do princípio ativo naftoquinona, um produto extraído do ipê roxo, com reconhecida ação anti-inflamatória, analgésica, antibiótica e antineoplásica (ataca qualquer tumor, benigno ou maligno). O produto é distribuído também nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em 1969, o laboratório passou a produzir e comercializar Lapachol, como auxiliar no tratamento do câncer. Atualmente, a estatal pernambucana tem acordo com o Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, na pesquisa de ensaios clínicos em seres humanos em tratamento de câncer, primordialmente o câncer de próstata.

Fundado em 1967, o Lafepe desenvolveu e comercializou nove produtos nos últimos três anos e tem duas patentes registradas. O Lafepe teve mais de R$ 100 milhões de faturamento bruto em 2003, tendo dispendido 0,09% desse total em P&D. Com 695 empregados, há 16 deles alocados na área de P&D, que conta com uma coordenadoria específica, encarregada da execução da pesquisa científica dentro da indústria farmacêutica e do desenvolvimento de novos medicamentos de diferentes classes farmacológicas, incluindo ativos consagrados e aqueles ainda em estudos iniciais, como a maioria dos fitofármacos.

O botânico Theodoro Meyer, da Universidade de Tucuman, da Argentina, conseguiu isolar importantes componentes do ipê-roxo, como a quinona, cujo efeito germicida pôde ser comprovado. A quinona possui uma estrutura semelhante a da vitamina K6, que detém efeito adstringente que auxilia o metabolismo do fígado na produção de protombina e de outras substâncias que participam da coagulação sanguínea. Estas propriedades da quinona, presentes no ipê-roxo, ajudam a explicar seu poder anti-inflamatório e na dissolução de tumores. O primeiro contato que Meyer teve com o ipê-roxo foi com os índios callawaya, descendentes dos incas. O poder de cura dos callawaya, segundo disse o médico, é conhecido em todo o mundo. Eles já catalogaram cerca de mil plantas medicinais. O conhecimento sobre elas é passado de geração a geração. Durante a construção do Canal do Panamá, por exemplo, estes índios foram chamados para curar dezenas de operários vitimados pela febre amarela. Com os curandeiros da tribo, chamados de “Senhores do Saco de Remédios”, Meyer aprendeu que, pelos conhecimentos indígenas, o ipê-roxo é considerado uma das principais “plantas mestras”. E era indicada para uma ampla variedade de doenças, como câncer, leucemia, diabetes e reumatismo. O botânico argentino, desde então, devotou toda sua atenção aos experimentos relacionados ao ipê-roxo.

Tentou levar adiante o conhecimento que obtivera ao longo de anos. Não obteve sucesso, porém. Em 1972, morreu frustrado pela falta de aceitação de seus experimentos por parte da medicina ortodoxa.

 

Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/edicao/especial/plantas/jui8.html

acesso em junho de 2002

http://www.tomdaservas.com.br/iperoxo.htm

http://www.mysteredange.hpg.ig.com.br/poemas_pagin/ipe.htm

acesso em outubro de 2002

http://histoeplmed.2x.com.br/medicamento.htm

http://www.noolhar.com/opovo/brasil/167178.html

acesso em dezembro de 2002

http://www.finep.gov.br/premio/folhas_inovacao_premio_2004/nordeste_tela.pdf

acesso em julho de 2005

Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 248

JORNAL GAZETA MERCANTIL DATA: 09/02/04 ON-LINE Em defesa da marca