Anéis, pulseiras, brincos e colares cobrem as paredes de uma pequena loja às margens do rio Amajaú, afluente do Negro. São bijuterias finamente acabadas, feitas de sementes e cascas de coco entrelaçadas por cipós. As oficinas onde são confeccionadas movimentam a comunidade de Itaquera, a povoação mais remota do estado de Roraima, a 1.100 km de barco de Boa Vista. Pela delicadeza das peças, as bijuterias de Itaquera são conhecidas como “joias da floresta”. As 22 famílias da vila estão envolvidas na produção das peças. Os artesãos de Itaquera criaram uma associação que organiza a produção e comercializa as peças. Boa parte é vendida para dois misteriosos italianos que aparecem por lá de vez em quando. Dizem os ribeirinhos, que eles levam as peças para serem vendidas na Europa. O que sobra, é vendido em feiras e lojas de Boa Vista e Manaus.
No Acre o atual governo do Estado, têm nas mãos o compromisso de implantar e desenvolver o conceito de desenvolvimento sustentável, que se preocupa fundamentalmente com a cidadania das populações que habitam a região como os seringueiros, índios, ribeirinhos, agricultores, pecuaristas e outros. Num pequeno atelier localizado nas imediações do Parque Capitão Ciriaco, o lugar não poderia ser mais apropriado para o oficio, funciona a oficina do design de joias César Farias, conhecido por desenvolver verdadeiras peças de arte, como anéis, colares, brincos, pulseira, todos confeccionados a partir de sementes da floresta, entre elas o açaí, mumuru, anaja, tucumã, jatobá, pataua, e principalmente as mais resistentes, como uma das mais nobres, a jarina.
Resultado do polimento das sementes de jarina, o marfim vegetal, também conhecida como tagua em espanhol, fruto de uma palmeira amazônica encontrada, principalmente, no sudoeste do estado do Amazonas e, no estado do Acre, nos vales dos rios Purus, Acre, Antimari, Iaco, Caeté, Maracanã e Gregório, e que existe no Equador, Peru e Colômbia, vem se constituindo num rico mercado, movimentando cerca de U$ 50 milhões por ano com sua exportação, principalmente para os Estados Unidos. Com características físicas semelhantes às do marfim de origem animal é utilizado na confecção de joias, artesanato e objetos funcionais, como os massageadores e tarrachas de violão. O design César Farias é um dos pioneiros na utilização da jarina para a criação de joias e outros objetos. Seu primeiro contato com a semente foi por meio de um ambientalista, mas na época, ele conta que não deu a importância devida à semente. Foi a partir de sua participação em um curso de lapidação em metais nobres, em Goiás, que César se deu conta da importância do marfim vegetal. A denominação de marfim-vegetal é perfeitamente justa, pelas suas propriedades e semelhança com o Marfim- animal, graças às quais tem sido usado em seu lugar. Essa preciosa palmeira é originária do Sudoeste do Amazonas e parte do Acre, sendo encontrada nos vales dos rios Purus, Acre, Antimari, Iaco, Caetê, Macauã, Juruá, Muaco, Paraniru, Gregório Jurupari e Paranacá.
César Farias, que tem tradição de ourives herdada da família, conta que tudo começou há quinze atrás, bem antes de ecologia virar moda e que na época que resolveu partir para a linha de desenvolvimento de produtos com sementes foi considerado um visionário. “Na época as pessoas achavam que eu estava doido e muitos diziam: ‘você tá deixando de trabalhar com metais nobres para trabalhar com sementes?’. Não liguei e continuei acreditando na potencialidade das sementes. Hoje me sinto muito feliz porque faço parte dessa vanguarda. Hoje tem muito de moda. Uns dizem que é fashion. É e muito mais”, diz o design. Para ganhar o mercado, o design optou por mesclar suas peças com metais nobres como ouro e prata, mas com a preocupação de que o produto não perdesse a sua essência, ajustando-o aos moldes de joias alternativas com design aprimorado.
Preocupado com o desenvolvimento sustentável, César Farias acredita na importância das sementes não apenas como uma questão de mercado, mas como um instrumento que alia rentabilidade com a construção da cidadania e preservação do meio ambiente. “Vamos citar um exemplo da semente do açaí. Hoje tenho uma encomenda de uma tonelada de sementes furada e polida, para São Paulo . Essas sementes são catadas aqui mesmo no Mercado Novo, naquele lixão que infelizmente é despejado no rio Acre. A gente vai lá pega toda essa matéria prima, que seria lixo, para transformar em jóia”, diz César.
Com o apoio da Agência de Negócios do Acre e Sebrae-Acre, o empreendimento Joias da Amazônia, marca desenvolvida por César Farias, se encontra num momento importante dentro do novo mercado. Quebrando o preconceito o design partiu para aprimorar sua pesquisa com as sementes, e resolveu a partir daí tornar seu trabalho reconhecido em outros lugares do país, e no exterior. Participou de feiras internacionais, uma em Córdoba, na Argentina, outra em Saragoza, Espanha, além de eventos importantes no Brasil, como a Feira da Providência, UD (Utilidades Domésticas) e uma das últimas a Amazontech 2002.
Fonte: http://www.joiabr.com.br/noticias/notic195.html
http://www.pagina20.com.br/20102002/especial.htm
http://www.jornalatribuna.com.br/w111.html
acesso em outubro de 2002
http://www.amazonlink.org/apurina/port/joias.htm
acesso em março de 2003
http://www.cezarfarias.hpg.ig.com.br/
acesso em abril de 2003