No enorme pátio do terminal de cargas, centenas de contêineres se alinham sobre o concreto. De repente, surge a necessidade de embarcar rapidamente um deles, num navio que vai deixar daqui a pouco o porto. Na concessionária de automóveis, o cliente apressado pede um veículo com exatamente um jogo de acessórios. Sabe-se que há um automóvel assim em estoque, mas onde exatamente ele está? Mesmo na era da informática, localizar um objeto específico entre dezenas ou centenas de outros semelhantes continua a ser um problema, que consome muito tempo em depósitos e terminais. A solução está sendo preparada no Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “Nosso objetivo é localizar coisas”, diz o professor Wilhelmus Adrianus Maria Van Noije, chefe do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli. Usando um sistema semelhante ao pager público, explorado por empresas de telecomunicações para encontrar pessoas, o grupo de Van Noije está preparando um dispositivo que, emitido um sinal, fará com que o objeto procurado responda com um som ou uma luz, facilitando sua localização.
O projeto une o Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli e a empresa Microline Multiplexadores de RF, de propriedade do professor Sílvio Ernesto Barbin, do Departamento de Engenharia e Telecomunicações e Controle, também da Poli. O sistema trabalha com uma base de dados, acumulada em um computador, que recebe as características de cada objeto e aciona o envio de um sinal de rádio até o objeto, quando se quer localizá-lo, fazendo emitir um sinal sonoro ou luminoso. Quando um objeto entra no pátio, é registrado no banco de dados. Para um contêiner, podem ser usados na diferenciação, por exemplo, a empresa proprietária e a origem; para um automóvel, seus acessórios. Para localizar o objeto, basta procurá-lo na lista do computador e enviar uma mensagem. O software codifica essa mensagem e envia, por um transmissor, o sinal de rádio que ativa o dispositivo de aviso. O transmissor possui uma antena pequena, instalável com facilidade.
“O dispositivo colocado no objeto também pode ter um display, semelhante ao dos pagers pessoais, no qual poderá aparecer uma mensagem, como leve este veículo para a plataforma tal”, explica o engenheiro eletricista e aluno de pós-graduação Gustavo Adolfo Cerezo, que está fazendo sua dissertação de mestrado sobre o sistema. O display abre caminho para outros tipos de uso, como, por exemplo, em hospitais. Uma mensagem enviada pelo sistema pode avisar rapidamente operadores e enfermeiros sobre a necessidade do envio de um equipamento para outra ala ou outro andar. O professor Van Noije cita outras utilidades, como em controle ambiental. O aparelho pode ligar e desligar, a distância, sistemas de iluminação e de ar-condicionado. Na agricultura, pode acionar sistemas de irrigação. Numa indústria, tem potencialmente importantes funções num pátio de carga e descarga. O motorista de um caminhão, ao entrar no pátio, poderá receber um equipamento desenvolvido pelo grupo, através do qual será informado pelo sistema quando chegar sua vez de carregar ou descarregar e como chegar ao local adequado. Atualmente, esse trabalho é feito por alto-falantes ou por meio de um funcionário que procura, a pé, o veículo indicado.
Os criadores do sistema já pensam no futuro. Atualmente, o sistema básico é unidirecional, isso é, transmite apenas num sentido, mas nada impede que seja instalado um transmissor específico, no próprio objeto, permitindo, assim, que se torne bidirecional, transmitindo e recebendo. Outra aplicação futura pode ser o acompanhamento de veículos de transporte e a localização de veículos roubados. “Isso seria possível com a integração de equipamentos para a captação de sinais do sistema GPS”, diz o professor Van Noije. O sistema GPS é uma rede de satélites que permite a localização de um objeto, parado ou em movimento, por meio da latitude e longitude.
Fonte: http://www.fapesp.br/tecnol46.htm
acesso em maio 2002