Física

Marégrafo Digital

Os comandantes de grandes e pequenas embarcações, desde navios cargueiros a yachts de recreação, e também os engenheiros de obras costeiras e mergulhadores, têm um novo aliado para enfrentar as inconstâncias do mar. É o marégrafo digital, um medidor de nível de marés recentemente desenvolvido no Laboratório de Instrumentação Oceanográfica do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE.

Antes mesmo de ser oficialmente lançado no mercado, o marégrafo, batizado de Digilevel, já teve oito unidades vendidas e seis encomendadas. “A receptividade está sendo muito boa”, diz o velejador e engenheiro elétrico, Fábio Nascimento de Carvalho, chefe do laboratório e um dos autores do projeto. Não é à toa que ao sair do forno o marégrafo criado na COPPE já agita o mercado e atrai clientes de peso, como a Vale do Rio Doce, a Marinha do Brasil, a Portocel (porto de celulose da Aracruz) e a Universidade Federal de Santa Catarina, que já compraram seus marégrafos digitais.

 

Os medidores de nível d’água são imprescindíveis para orientar a entrada e saída de embarcações nos portos e obras de engenharia a beira-mar. Eles também são usados em lagoas, em reservatórios, represas e rios. Para se ter uma ideia, a precisão de um medidor de marés pode garantir a um cargueiro levar algumas toneladas extras de minério, por exemplo, revertendo à empresa alguns milhares de dólares a mais numa só viagem.

O marégrafo serve à rotina de caça às ondas dos surfistas e demais praticantes de esporte no mar. Pode prestar apoio técnico à engenharia civil, mas foi criado originalmente para auxiliar a navegação. Em 1991, o pesquisador Fábio Nascimento e o professor Carlos Eduardo Parente – outro inventor da Coppe – começaram a desenvolver o projeto. ”Queríamos um equipamento que informasse o nível da maré para calcularmos o quanto um navio com carga pode navegar, sem risco de encalhar no porto”, explicou Nascimento. Foram cinco anos aperfeiçoando o aparelho, concluído em 1997. Tanto tempo de testes se justifica. Um erro de três centímetros poderia ocasionar um prejuízo de U$ 50 mil dólares para empresas – isso falando apenas do custo com a operação de desencalhe. Mas valeu à pena o trabalho. Hoje o marégrafo é fabricado por uma empresa de engenharia que atua na área portuária. Custa R$ 8 mil e 10% do valor de cada peça vendida chega aos bolsos dos pais da ”obra”. Entre dez e 15 marégrafos são vendidos por ano. Existem 13 aparelhos instalados em portos pelo Brasil a fora. Só a Marinha possui cinco. O equipamento torna os prognósticos das condições do mar menos sujeitos a falhas.

Até hoje para desempenhar esta função são usados os linígrafos de boia e os marégrafos de pressão, aparelhos baseados em mecânica fina, mas que perdem em precisão e praticidade para o marégrafo digital. O sistema tradicional necessita que alguém dê corda e troque o papel todos os dias. Já o Digilevel pode passar até dois meses sem a interferência de um operador. Além de ter maior autonomia, sua manutenção é muito mais fácil, podendo ser feita a cada dois ou três meses. O aparelho também armazena os dados já digitalizados, o que segundo Fábio é uma das grandes vantagens do marégrafo digital. “O fato de ser digital elimina a interferência de outras variáveis na medição do nível d’água, e o resultado são leituras mais precisas.”

O Digilevel consiste numa régua, montada em módulos de 1,28 metros, onde ficam os sensores, e uma unidade de controle. A régua é mergulhada n’água, protegida por um tubo de material resistente, e a unidade de controle, que lê e armazena os dados através de uma placa microprocessadora, fica na extremidade superior do tubo, fora d’água. Os dados armazenados podem ser transferidos para um aparelho coletor de dados ou diretamente para um microcomputador, através de placa modem e linha telefônica. Portanto, os dados podem ser obtidos de forma on line.

Tudo indica que o marégrafo digital é o substituto natural dos aparelhos usados atualmente. Tanto que existe na Holanda um projeto similar desenvolvido na mesma época em que a COPPE trabalhava com o Digilevel, mas com um diferencial importante: é três vezes mais caro que o nosso. “O Digilevel é uma concepção inovadora, e nosso trabalho daqui em diante será manter atualizado o software e o hardware, pois não vai ser preciso fazer mais nenhuma inovação essencial no projeto”- explica Fábio.

 

Fonte:

http://www.coppe.ufrj.br/planetacoppe.old/arquivo/noticia000162.html

Acesso em março de 2002

http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cidade/2001/11/10/jorcid20011110008.html

Acesso em outubro de 2002

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?Id=K4797202Y6

Acesso em julho de 2010