Pimenta Longa (Piper hispidinervum) é uma planta invasora encontrada no Vale do Acre (AC). É uma planta arbustiva, rústica, muito exigente em luz e água, encontrada com freqüência em áreas de capoeira. Das folhas e dos talos finos é extraído um óleo essencial com alto teor de safrol. O safrol é um componente químico aromático utilizado pela indústria como matéria prima na manufatura de heliotropina (fixador de fragâncias) e butóxido de piperolina (agente sinergístico nos inseticidas e pesticidas naturais à base de Piretrum).
Até o momento a Piper hispidinervum só foi encontrada no Vale do Acre. Esta espécie tem alta concentração de teor de safrol (acima de 90%) que é obtido através do óleo essencial extraído das folhas e talos finos da planta por meio de um processo de destilação. No estado do Acre foram identificadas outras duas espécies, a Piper aduncum e a Piper hispidum. No entanto, a concentração de safrol encontrada nestas plantas é tão pequena que inviabiliza a escala comercial do produto.
Na década de 70, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) identificaram plantas aromáticas na região Amazônica e, entre elas, estava a pimenta longa. O INPA catalogou a espécie, mas os trabalhos de domesticação da planta, realizado pela Embrapa, só começaram 20 anos após a sua descoberta. Até o início da década de 90, o Brasil era o principal produtor de safrol quando obtinha o produto extraído da Canela de Sassafrás (Ocotea pretiosa Mezz) no sul do país. No entanto, a produção não sustentável criava o perigo iminente de extinção da espécie. Foi aí que, em 1991, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu a exploração da Canela de Sassafrás. De uma hora para outra, o Brasil passou de principal produtor mundial para importador. Em todo o mundo, o consumo de safrol excede 3 mil toneladas/ano, mas a oferta do produto encontra-se comprometida.
Hoje, os únicos produtores mundiais de safrol são China e Vietnã que usam os mesmos métodos destrutivos que eram empregados no Brasil na época da Canela Sassafrás. Tal prática compromete a oferta de safrol natural a longo prazo. Neste contexto, a pimenta longa é uma fonte alternativa de safrol natural que pode ser explorada de forma não destrutiva, pois o óleo essencial contra-se na copa da planta que rebrota com facilidade após o corte.
O Acre é, atualmente, um canteiro natural de pimenta longa. Quem garante é o pesquisador da Embrapa, Flávio de Araújo Pimentel, que estuda a viabilidade econômica da espécie no Estado. “Esse produto alternativo foi encontrado unicamente neste Estado”, explica Pimentel. O pesquisador da Embrapa está convicto que a pimenta longa é uma das saídas econômicas rentáveis. A pimenta longa foi descoberta em 1972. Um equipe de pesquisadores, financiada pelo Museu Emílio Goeldi, percorria a Amazônia em busca de plantas aromáticas quando descobriu a espécie. De acordo com os pesquisadores, toda planta aromática produz safrol – o óleo essencial à indústria de cosméticos – e o butóxido de perpirolina, um agente cinergético capaz de fomentar a produção do princípio ativo de inseticidas biodegradáveis.
O botânico Guilherme Maia, do Museu Emílio Goeldi, foi quem fez a pesquisa sobre a pimenta longa. De caule fino, folhas grandes e cuja fruta lembra uma pimenta comprida, de sabor amargo e aparentemente rejeitada pelos animais, a pimenta longa tem um cheiro forte. Além de se reproduzir com facilidade, a espécie é bem melhor que a canela-sassafrás. A pimenta longa produz 4,5% do óleo e a sassafrás chega a apenas 1,5%.
Desde 1992, a Embrapa pesquisa a pimenta longa com o objetivo de transformá-la uma alternativa produtiva para a agricultura familiar na Amazônia com um sistema de cultivo que agregue valor através do processamento primário no campo. Dados preliminares de pesquisas realizadas na Embrapa Acre revelam que a pimenta longa pode atingir a produtividade anual de até 200 kg por hectare de óleo essencial com mais de 90% de teor de safrol. O resultado é mais que atraente para o pequeno produtor, pois o preço no mercando nacional e internacional oscila entre US$ 5 e US$ 8 por quilo.
Os trabalhos de pesquisa estão sendo desenvolvidos na Embrapa Acre, Embrapa Amazônia Oriental (PA), Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), em parceria com a Associação de Produtores Unidos Vencedora (Aspruve), Associação de Produtures Acorda Jabuti. Não se sabe ainda como a planta se comportaria em outras regiões e se manteria vantagens para exploração comercial. A fecundação é cruzada e por isso a coleta de sementes requer técnica adequa a para garantir as caraceterísticas genéticas da planta quando a produtividade e resistência a pragas e doenças.
Mas, a suspeita de que o safrol teria propriedades cancerígenas já vem proibindo o uso do produto em alimentos e diretamente em fragrâncias. Hoje, existem no Acre cerca de cinco mil hectares de pimenta-longa plantada e manejada com tecnologia desenvolvida pelo Museu Goeldi e repassada pela Embrapa. Em Igarapé-Açu a proporção do plantio é bem menor. O incentivo ao cultivo de pimenta-longa também é visto ainda com reserva, já que o safrol é a molécula precursora do alucinógeno conhecido como Êxtase. “Assim como as plantações de pimenta-longa podem levar o Brasil a ser um dos maiores produtores de safrol para uso cosmético, também poderá levá-lo a se tornar uma nova Colômbia, abastecendo a produção de Êxtase”, pondera Guilherme Maia do Museu Goeldi.
Fonte: http://www.abifina.org.br/foco4.html
http://www.embrapa.br/pimentalonga/faqs.htm
http://www.estado.estadao.com.br/jornal/suplem/agri/97/08/27/agri417.html
http://www.radiobras.gov.br/abrn/c&t/1998/materia_131198_1.htm
http://www.biotecnologia.com.br/bio/bio15/15_c.htm
acesso em fevereiro de 2002
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