Arquiteto, Sérgio Rodrigues (1927) tornou-se um grande designer de móveis, a ponto de a enciclopédia Delta Larousse apresentar num verbete “Sérgio Rodrigues, o criador do móvel brasileiro”. De fato, ele quebrou paradigmas em sua atividade e distingue-se com uma linguagem própria, que fez da busca da identidade brasileira um de seus nortes.
Nasceu na Rua Joaquim Nabuco, entre Copacabana e Ipanema. Sua formação escolar vem dos jesuítas: Colégio Santo Inácio. Do lado materno, a família Mendes de Almeida. Do lado paterno, os Rodrigues. Seu avô, Mário Rodrigues (1885 . 1930), advogado, pernambucano, transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1916, iniciando uma trajetória militante como jornalista e intelectual, que lhe valeu muita repressão. Como todo nordestino deixou para os filhos os valores e o gosto pelas coisas da terra, que foram muito bem retratados pelo traço firme e generoso de Roberto Rodrigues (1904 . 1929), pintor, escultor e ilustrador, pai de Sergio. Desde garoto Sergio se apaixonou pelos trabalhos de marcenaria, artesanato e madeira. Como estudante da Faculdade Nacional de Arquitetura, acompanhou o grande desenvolvimento da arquitetura brasileira, sempre notando a nítida defasagem que existia entre a obra arquitetônica e os equipamentos de interiores. Visando compreender as razões desse fenômeno, aprofundou-se em estudos sobre a evolução do mobiliário contemporâneo, tendo sido convidado, em 1949, à assistência de cátedra de Composição Decorativa (ambientação de interiores) como auxiliar de ensino.
Ao iniciar sua profissão foi contratado pelo Governo do Estado do Paraná para participar com outros três arquitetos cariocas, do projeto do Centro Cívico de Curitiba (seu primeiro trabalho como arquiteto . ainda não diplomado). Diplomado em 1952 pela Faculdade Nacional de Arquitetura no RJ (atual F.A.U . UFRJ). Criou a Móveis Artesanal Paranaense, a 1ª loja de arte e mobiliário moderno em Curitiba em sociedade com os irmãos Hauner (designers italianos). Em 1954, Sergio Rodrigues foi contratado para chefiar o setor de planejamento de interiores da Forma S.A., Móveis e Objetos de Arte em São Paulo. Desde então, Sergio iniciou sua pesquisas com desenhos de móveis de vanguarda. Porém, enfrentou obstáculos diante de uma produção que não estava completamente aberta às inovações. Apesar do desestímulo e da incompreensão com relação às suas propostas, Sergio permaneceu na Forma e, aproveitando sua permanência em São Paulo, manteve alguns contatos com Gregori Warchavchik e Lina Bo Bardi, que lhe foram muito estimulantes. Em fins de 1954, desligou-se da empresa.
Em 1955, muito desalentado, voltou ao Rio de Janeiro e contentou-se em desenvolver alguns projetos de arquitetura, embora a vontade de pesquisar e desenhar móvel moderno fosse muito grande, consciente da necessidade de atender às solicitações, ainda muito incipientes, que o mercado fazia do novo móvel. Sergio estava, realmente, alimentando a ideia de criar um espaço onde pudesse desenvolver uma linha de móveis genuinamente brasileira, do desenho ao material utilizado, em contraposição ao que se fazia na época. Diante disso, Sergio decidiu fundar uma loja de móveis para comercializar sua produção mergulhado intensamente na busca de nossas raízes culturais ao nível do móvel. Acompanhando a principal tônica da produção cultural brasileira do período, Sergio atribuiu ao novo empreendimento um nome que sintetizou suas motivações culturais e estéticas: Oca, cujo logotipo também desenhou, sociedade limitada, cujo fim principal era a divulgação do design e designers brasileiros ligados à área de equipamentos de interior, ambientação, cenografia, e etc., com a promoção de eventos culturais periódicos e exposições permanentes de design e obras de arte. A respeito desse nome, Lucio Costa fez as seguintes considerações: “Oca é casa indígena. A casa indígena é estruturada e pura. Nela os utensílios, o equipamento, os petrechos e paramentos pessoais, em tudo se articula e integra, com apuro formal em função da vida. A simples escolha do nome define o sentido da obra realizada por Sergio Rodrigues e seu grupo”.
Assim, em maio de 1955, foi inaugurada a primeira loja da Oca, à praça General Osório, Rio de Janeiro. Na verdade, a preocupação não era de ser um depósito de móveis, como tantos outros existentes à época, mas possibilitar ao cliente uma noção de conjunto, o que levou Sergio Rodrigues a preparar verdadeiros cenários e ambientes no interior da loja. O espaço da loja ficou conhecido como Galeria Oca, pois foi aberto também para a realização de mostras e lançamentos. Além dos desenhos de Sergio Rodrigues, em sua fase inicial, a Oca também comercializou móveis selecionados nas principais fábricas de São Paulo. Com o apoio dos arquitetos que encontravam na loja uma nova opção para a ambientação de seus interiores a boa aceitação comercial, a Oca se desenvolveu rapidamente no mercado.
O desejo imperioso de conceber um móvel que expressasse a identidade nacional levou Sergio a desenhar uma de suas mais importantes obras: a Poltrona Mole, cujo embrião surgiu em 1957. Sergio organizou a exposição Móveis como Objeto de Arte, e a poltrona Mole não foi nada bem recebida. Um ano após o lançamento, a Oca recebeu várias encomendas da poltrona, que foi ganhando seu lugar no mercado. Não era a peça mais vendida da loja, mas apresentou certa evidência no show-room; afinal, ela burlava os padrões reinantes: aos delgados e elegantes pés-palito ela apresentou a grossura e robustez da madeira brasileira. Nesse sentido, Sergio antecipou a “estética da grossura” que, posteriormente, foi à base de alguns movimentos da vanguarda engajada nos anos 60. A partir daí, foram feitos os primeiros estudos do SR2 .
Em 1961 participou, a convite do então governador Carlos Lacerda, do “4º Concorso Internazionale Del Mobile” em Cantú (Itália), com uma poltrona de grande conforto, baseada na poltrona Mole de 1957. O primeiro prêmio obtido com este produto num concurso entre mais de 400 convidados de 35 países, colocou o Brasil em posição de destaque no cenário mundial de design. “(…) único modelo no concurso com características atuais, apesar da estrutura com tratamento convencional, não influenciado por modismos e absolutamente representativo da região de origem.” A indústria “ISA”, de Bergamo, a produziu e exportou para diversos países, com o nome de “SHERIFF”. Robusta e extremamente confortável, a Mole é composta de estrutura rígida em madeira maciça torneada e encerada, e elaborada na técnica construtiva tradicional, com cavilhas. Percintas em couro sola, independentes, são dispostas de tal modo que botões torneados permitam regular seu comprimento, adaptando a “cesta” às condições anatômicas do usuário.
É preciso lembrar que a busca da aproximação entre o desenho da mobília moderna e certos objetos da cultura brasileira, como a rede, foi uma temática que esteve presente também na obra de Lina Bo Bardi. Além da Oca, Sergio criou nos anos 60 outra loja, diferenciando-se por vender móveis produzidos em série e a um custo mais reduzido: a Meia-Pataca. Esta foi uma experiência importante, do ponto de vista de processos de produção. Até então, os móveis que ele desenhou eram produzidos quase que artesanalmente, pois a exuberância criativa de seus desenhos criou problemas para a industrialização.
Em 1962 iniciou a utilização do Sistema SR2 com a construção do Iate Clube de Brasília, da Diretoria de Rotas Aéreas, e a convite do reitor Darcy Ribeiro, de dois pavilhões para hospedagem de professores e restaurante na Universidade de Brasília. Usando o mesmo sistema, criou projetos de residências e clubes em Goiânia. Criou linhas especiais de mobiliário para a Universidade de Brasília, para os ministérios, entidades financeiras, (Banco do Estado da Guanabara, Ipeg, etc…), associações comerciais e industriais, sede das Empresas Bloch no Rio de Janeiro. Instalou a loja Brazilian Interiors, em Carmel (U.S.A.) que expunha permanentemente modelos de sua criação. Foi editor de ambientação e decoração das revistas Senhor e Joia. Artigos para várias publicações especializadas entre elas a revista “Módulo”. Depois de treze anos de atividades, Sergio se desligou da Oca, passando a se dedicar mais à arquitetura; porém, isso não impediu que ele seguisse como designer independente, com seu estilo original e uma produção sempre crescente.
Arquitetura de interiores, ambientação, mobiliário e decoração de residências apartamentos do presidente, diretores e funcionários do BANCO CENTRAL em Brasília. Projetos executados para casas de Praia e campo. Modelos especiais para o Teatro Nacional de Brasília. Linhas de móveis para produção industrial. A poltrona Kilin (prêmio IAB/RJ), assim como quase 50 modelos de diversos períodos, atualmente são produzidos artesanalmente sob sua supervisão e projetos de arquitetura de residências, hotéis, escritórios. Nos anos 80 e início deste decênio cresceu a atividade e a produção atingiu cerca de 1.000 peças, reiterando-se o papel decisivo que ela representa na história da mobília no Brasil. Projeto de mobiliário e ambientação para hotéis (cinco estrelas) em São Paulo e Cuiabá, restaurantes, residências etc. Revitalização do Sistema SR² de casas pré-fabricadas. Passados os históricos tempos de Cantú, na Itália, em 1988 recebeu o “Prêmio Lápis de Prata”, em Buenos Aires, Argentina, pelo conjunto de sua obra. Em 1991, o MUSEU DE ARTE MODERNA – RJ, realizou a primeira grande retrospectiva de sua produção moveleira, apresentou 80 modelos selecionados do período (1954 a 1991) com o nome de “FALANDO DE CADEIRA”, numa área de 1500 metros quadrados. Desenvolvimento do Sistema SR² com a montagem de 10 protótipos. Palestras, como convidado em escolas de arquitetura e desenho industrial e cursos profissionalizantes.
Em sua trajetória de arquiteto, “desenhador de móvel”, artista e criador, Sergio Rodrigues chega nesse limiar de século com uma obra madura e quantitativamente vasta, continuando genuinamente a tradição dos grandes artesãos brasileiros da madeira e ao mesmo tempo marcando a transformação do móvel e dos padrões de uso e de gosto no setor. Como diz mestre Lucio Costa: “Generoso, em vez de se refestelar na sua fabulosa poltrona, continua ativo, não para”.
Fonte: http://home.ism.com.br/~sr2/bio-meit.htm
http://www.peccatumcapitale.com.br/orgulho/objetobrasil.htm
http://www.objetobrasil.com.br/panorama.htm
http://www.zaz.com.br/istoe/comport/149618.chtm
http://www2.uol.com.br/casaclaudia/curso/curso5/1a.html
acesso em maio 2002
http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artecult/design/pioneiro/sergior/index.htm
acesso em setembro de 2002