Em 1965 o Exército brasileiro, no intuito de nacionalizar equipamentos de rádio utilizados pela tropa, decidiu determinar à Diretoria de Fabricação do Exército, na época dirigida por um experiente engenheiro militar, Gen. Francisco de Paula e Azevedo Pondé, que desenvolvesse na Fábrica de Material de Comunicações (FMCom, localizada no Caju/RJ, próximo ao Arsenal da Guerra), a ela subordinada, um protótipo de um equipamento de comunicações de campanha, capaz de substituir o modelo americano em uso, denominado “handie-talkie”, bastante volumoso, pesando 3,2 Kg e ainda a válvulas, de difícil aquisição. O modelo a ser apresentado devia ser totalmente em estado sólido, ter menor volume e menor peso, dispor do mesmo número de canais e ter o mesmo alcance do modelo americano.
A FMCom recebeu com seriedade o desafio que lhe era feito. Os jovens oficiais engenheiros, recém-chegados do IME, muito se alegraram em fazer uso de seus conhecimentos. Os velhos funcionários, receberam a notícia com entusiasmo, vendo a possibilidade da fábrica renascer das cinzas do passado e mostrar ao Exército suas reais possibilidades. Iniciados os trabalhos em maio de 1965, verificou-se logo a necessidade de se estruturar a fábrica, pois a mesma dispunha de poucos recursos. Foram adquiridos equipamentos de medidas radioelétricas, osciloscópios, construído um laboratório de análise e pesquisas, construída uma gaiola de Faraday, adquiridas câmaras de temperatura e salinidade, tanque de imersão para provas sob a água, equipamentos para testes e vibração e recuperada a Oficina de galvanoplastia que teve a capacidade aumentada para mil ampéres.
Em novembro de 1965 o projeto elétrico estava pronto, entretanto muito ainda restava por fazer, já que a confecção da caixa e a antena apresentavam sérios problemas, pois não se dispunha de fundição sob pressão, o que foi solucionado através do parque industrial paulista, ficando o projeto da caixa por conta da firma Metalúrgica Kalindus, de um engenheiro húngaro, Andras von Kalman, cujo trabalho foi excelente. Quanto à antena, somente depois de muitas pesquisas foi encontrada uma fita metálica em condições de atender às especificações. Somente em 1967, após muitos testes de campo, o protótipo foi dado como concluído, sendo entregue ao Instituto Militar de Tecnologia, na Praia Vermelha/RJ, para análises e aprovação. O início da fabricação data de 1968, recebendo a denominação de EB-11 ERC-104. O seu volume era bem menor do que o correspondente americano, pesava pouco mais de 2 kg e tinha o mesmo alcance. O número de canais ficou limitado a 38, em vez dos 42 da estação americana, pois a ferrite nacional, fabricada na época, por um alemão em São Paulo não tinha o mesmo desempenho da americana, atenuando a faixa nas extremidades, o que no entanto foi aceito pelo Estado-Maior do Exército. O equipamento atendeu plenamente, na sua época, à finalidade para o qual foi construído, tendo sido bem aceito pela tropa.
Em 1975 o Governo Federal, atendendo a imperativos administrativos, resolveu criar a Indústria de Material Bélico do Brasil – Imbel, através da lei 6227 de 14 de julho de 1975. Nesta reestruturação, a FMCom foi extinta em 1977, cedendo lugar à Fábrica n04, vinculada à Imbel.
Desafiando o lento desenvolvimento industrial brasileiro no início do século passado, a Fábrica de Material de Transmissões, FMT, posteriormente designada Fábrica de Material de Comunicações, FMC, vem, desde 04 de outubro de 1939, superando os obstáculos, tendo sempre como marca o pioneirismo e o grande esforço de sua equipe de engenheiros e funcionários. Em 1977, a FMC foi extinta, e juntamente com as outras fábricas do Exército, foram reunidas em uma nova empresa estatal, denominada Indústria de Material Bélico do Brasil, IMBEL. Dessa forma, nascia a Fábrica de Material de Comunicações e Eletrônica, FMCE, substituindo e ocupando as mesmas instalações da fábrica militar. Tendo fabricado diversos equipamentos amplamente empregados em nosso Exército, tais como, os rádios ERC-104, ERC-105, ERC-620, telefones AF1, AF2 e AF3, sistema Genesis e Computador Palmar Militar. Acompanhando a tendência mundial em defesa, hoje, a FMCE desponta no emprego de novas tecnologias para produção de rádios digitais e definidos por software, garantindo o domínio nacional de comunicações seguras e confiáveis.
Fonte: acesso em agosto de 2002
História Geral das Telecomunicações no Brasil, Henry Barros, cadernos da TELECOM Vol. 1 , 1989, página 116
http://www.imbel.gov.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=25&Itemid=112
acesso em setembro de 2009