O Brasil é o único país do mundo a ter uma siderurgia de porte que utiliza o carvão vegetal como termo redutor, além do coque. Isso é devido, basicamente às condições geográficas e climáticas, onde uma floresta de eucalipto não precisa mais do que sete anos para se desenvolver. Mesmo assim , a produção de carvão vegetal a partir de florestas homogêneas não se constitui numa atividade rentável e atrativa, porque as usinas integradas que possuem florestas plantadas usam técnicas modernas de manejo do solo e exploração da madeira e mecanização dos fornos. Além disso o carvão corresponde a apenas 33% da madeira enfornada, fatores que acabam elevando o custo final do produto. Só que seu preço no mercado é relativamente baixo, cerca de R$ 100 a tonelada e assim os custos de produção não compensam com o preço de mercado do produto. Uma das alternativas para tornar os custos de produção mais competitivos é a recuperação e valorização do subprodutos resultantes da queima da madeira. A cada tonelada de carvão vegetal são liberados no forma de fumaça, cerca de 200kg de produtos químicos, principalmente alcatrão.
Foi na busca de alternativas para o aproveitamento desses subprodutos, que na década de 80 a Acesita Energética começou a investir na recuperação do alcatrão. Em 1986 a Acesita firmou um convênio com o Departamento de Química da UFMG para o aproveitamento de subprodutos da queima do eucalipto usado como carvão vegetal, desenvolvendo produtos de maior valor agregado, a partir da caracterização da mistura complexa do alcatrão e do ácido pirolenhoso. Iniciava-se o Projeto Carboquímica vegetal, um programa de longo prazo de maturação, devido ao seu caráter inovador e ao número de produtos e processos a serem desenvolvidos. Mais tarde em 1990, a parecria passou a ser gerenciada pela Cia. Aços Especiais Itabira – Acesita. Nesses mais de dez anos as pesquisas resultaram em dezenas de estudos e projetos envolvendo o beneficiamento do alcatrão. “Um aspecto interessante da carboquímica vegetal é que ela permitirá agregar receita ao carvoejamento, e assim, viabilizar a manutenção do modelo de siderurgia a cravão vegetal, mas também reduzir o impacto ambiental da atividade”, afirma a professora Vânya Márcia Duarte Pasa, coordenadora do convênio Acesita-UFMG.
O alcatrão é um co-produto do carvão, mas pode ser considerado também um resíduo industrial cuja potencial de produção chega a 140 mil toneladas/ano somente em usina integradas que tem florestas homogêneas próprias. Esse alcatrão é uma mistura complexa de uma centena de compostos orgãnicos, podendo ser considerada um petróleo verde. Vários desses compostos são importados pelo Brasil, como creosol, matol, cicloteno, siringóis e guaiacóis, produtos de química fina. Além disso os produtos resultantes do alcatrão de eucalipto são isentos de enxofre. Sem falar que quanto maior a rentabilidade das florestas homogêneas, menor será o ataque á matas nativas. Um dos projetos desenvolvidos é o chamado Projeto Resina Verde que reaproveita o piche vegetal, resíduo da destilação do alcatrão, como matéria prima para o desenvolvimento de resinas fenólicas do tipo novolaca, destinada à indústria de commodities. Nesse caso a obtenção de polímeros tornou-se prioridade para os pesquisadores envolvidos no projeto, uma vez que o expressivo volume demandado pelo setor siderúrgico é incompatível com o mercado de produtos de química fina.
Como é um composto termoplástico, as aplicações do piche são inúmeras. No segmento de baquelite por exemplo, a resina verde pode ser usada na fabricação de cabos de panelas, tomadas elétricas e peças moldadas para eletrodomésticos. na indústria de autopeças, serve para moldagem das peças internas como porta-pacotes, forro, laterais internas de auutomóveis e outras. “No caso das autopeças, a resina verde vem de encontro á uma tendência mundial do setor: dar prioridade ao uso de matérias primas não poluentes, recicláveis e de fonte renováveis. inclusive porque estas podem ter preços menores”, afirma o engenheiro José Maria Duarte, gerente do centro de pesquisas da Acesita, em Timóteo, Minas Gerais. Depois de dominado o processo de obtenção da resina e da montagem de uma planta piloto, a Acesita passou a buscar interessados em realizar testes com o produto. na Toro, em São Paulo, foram feitos testes em escala semi-industrial com cerca de 600Kg de resina. O objetivo era testar três diferentes formulações do produto na moldagem de porta-pacotes para automóveis. Conhecida a melhor formulação e feitos os ajustes necessários, as peças protótipos foram comercializadas a título de teste.
Além do Resina Verde, o Projeto Carboquímica vegetal já permitiu o desenvolvimento de outros materiais a parir do alcatrão, entre os quais, formulações de espumas flexíveis e rígidas e elastômeros de poliuretanos. no caso das espumas, os CFCs – agentes de expansão que aggridem a camada de ozônia – são substituídos por água. O resultado é um produto totalmente ecológico, que usa eucalipto como matéria prima e água como agente de expansão. Outros estudos buscam desenvolver materiais carbonosos avançados, na forma de esponjas de carbono ativado e fibras curtas de carbono. Mesmo tendo desenvolido a tecnologia e dimensionado o mercado, agora a empresa busca um parceiro na área química para a implantação industrial do projeto, uma vez que não é negócio central da Acesita.
Fonte: Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 140
acesso em agosto de 2003
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