Jefferson Resende, intensivista neonatal da Unidade de Neonatologia dos Hospitais Santa Luzia e Regional da Asa Sul – Brasília – DF, desenvolveu um novo equipamento para ressuscitação respiratória que pretende substituir, com vantagens, a bolsa de reanimação auto inflável, tradicionalmente utilizada nesta situação emergencial. O equipamento é uma unidade portátil e de acionamento manual, que controla um fluxo contínuo de gases com até 100% de oxigênio, limitando a pressão de insuflação pulmonar máxima – PIP – e impondo pressão positiva em final da expiração – PEEP. O processo de reanimação poderá ser efetuado sob intubação endotraqueal ou sob máscara facial.
Os dispositivos habitualmente utilizados para prestar assistência ao paciente asfíxico, ou para transporte de paciente que necessita assistência ventilatória em curtas distâncias são as bolsas de reanimação auto infláveis (1,2,3,4). Este equipamento, uma invenção muito antiga (5), acopla, a uma peça de conexão com o paciente uma bolsa auto inflável. A peça contém, geralmente, duas câmaras separadas por um diafragma. A entrada de oxigênio e de ar ambiente é situada na bolsa ou na parte proximal a esta. Quando a bolsa é pressionada, a mistura de gases é direcionada à parte da peça que se liga ao paciente. As principais desvantagens que identificamos na maioria destes equipamentos são a baixa FiO2 que fornecem ao paciente (4), a impossibilidade de impor pressão de insuflação pulmonar máxima – PIP – e volume corrente com controle seguro, levando à hipoventilação em um extremo e escapes de ar em outro, e à ausência de pressão positiva em final da expiração – PEEP. Além do mais, todo o processo de ventilação mecânica manual tem que ser exercido com considerável esforço, que se torna excessivo quando se prolonga.
Com o objetivo de melhorar a assistência ventilatória manual ao paciente asfíxico, definindo e controlando as pressões a serem impostas à via aérea, fornecendo volume de gases necessário à demanda do volume corrente e FiO2 de até 100%, criamos um equipamento que denominamos CFR. Testamos o equipamento no Laboratório de Anestesiologia da Universidade de Brasília, objetivando verificar sua capacidade de impor pressão controlada em nível de alvéolo e movimentar o fluxo respiratório. O equipamento é montado para funcionar acoplado a um monitor de pressão, podendo ser utilizado sob máscara facial ou com o paciente intubado. Para regular, o aparelho deve ser conectado à fonte de gases (oxigênio puro ou em mistura com ar comprimido) existente na Unidade de Saúde, através da inserção de uma mangueira, da fonte à peça número 1. O fluxo de admissão de gases é individualizado, ditado pelo volume minuto, em cada caso. Este fluxo será de, no mínimo, 2,5 a 3 vezes o volume minuto, seguindo recomendação de Ayre e Conway, com o objetivo de evitar reinalação. Este conceito tem uso amplo em assistência ventilatória. Na figura destacam-se os elementos: 1 Entrada de gases ; 2 Via de saída para o paciente ; 3 Válvula PEEP ; 4 Válvula PI ; 5 Entrada para o monitor de pressão
A válvula que define a PIP (no 4) é regulada para o nível de distensão pulmonar máximo que se deseja impor ao paciente; definida esta pressão, o anel no 5 é usado para fixar a pressão no ponto desejado. A PEEP é definida através da regulagem da válvula no 3. O monitor de pressão é conectado ao CFR através da inserção de uma mangueira de conexão ao orifício no 6. Para ciclar o equipamento, o médico assistente pressiona o botão da válvula no 3 de forma intermitente, com a frequência que desejar, procurando adequar o tempo inspiratório de acordo com as necessidades do paciente. Pressionando-se o botão, a pressão dentro do equipamento subirá até o limite definido na válvula da PIP, fazendo com que os gases fluam no sentido inspiratório, distendendo os alvéolos. Ao soltar o botão, a pressão dentro do equipamento cairá rapidamente, até o nível mínimo definido na válvula PEEP; isso fará com que o fluxo aéreo caminhe dos alvéolos para dentro do aparelho, em um movimento expiratório. O fluxo de admissão de gases definido faz com que este gás exalado seja eliminado do equipamento através da válvula exalatória (no 3), impedindo reinalação.
Os modernos equipamentos de ventilação mecânica permitem o controle de variáveis importantes como: o fluxo que é conduzido ao sistema ventilatório; as pressões de insuflação pulmonar máxima (PI) e expiratória final (PEEP); os tempos inspiratórios e expiratórios; a concentração de oxigênio do ar inspirado. Entretanto, em processos de reanimação onde são utilizados os AMBUS, não é possível manter constantes os volumes ventilatórios e as pressões de insuflação pulmonar, submetendo o paciente asfixico a um risco maior de não reversão de quadro, aumentando também a possibilidade de lesões em múltiplos órgãos. O CFR – Continuous Flow Reviver permite o controle do fluxo continuo de gases, dando ao medico o poder de decidir cada variável do processo ventilatório com precisão.
O CFR passou por testes de eficácia e segurança realizados na Universidade de Brasília. Através da utilização de um modelo analógico pulmonar neonatal para avaliação laboratorial de ventiladores, foi comprovada a capacidade do CFR de promover, a nível de alvéolos pulmonares, as pressões definidas em vias aéreas superiores, com correspondente movimentação do fluxo de gases. Feito em alumínio, latão cromado, aço e PVC, o CFR oferece maior durabilidade sendo muito difícil a ocorrência de desgastes em seus componentes principais. Sua manutenção é simples. A limpeza pode ser feita com água e sabão, esterilizando-se a frio numa solução de Glutaraldeído.
O CFR é um ventilador pulmonar mecânico, de fluxo contínuo, ciclado manualmente, pequeno, leve, portátil, que funciona acoplado a uma fonte de oxigênio (puro ou em mistura com ar comprimido), que contém válvulas para se definir níveis desejáveis de pressão de insuflação pulmonar máxima (PIP) e pressão positiva em final de expiração PEEP e que acopla um monitor de pressão. É então um respirador de ciclagem manual, que funciona dentro ou fora de unidades de saúde, bastando à fonte de gases e um profissional de saúde para operá-lo. É fornecido em modelo infantil/neonatal e também modelo para adultos. Suas vantagens em relação às bolsas auto infláveis (ambos), os aparelhos que utilizam tecnologia antiga para promover ventilação pulmonar mecânica manual, são as de permitir definir limites na pressão de insuflação pulmonar, definir concentração de oxigênio no gás de ventilação, chegando a 100%, ser operado por pessoal auxiliar de saúde (sob supervisão), ser fácil e manualmente desmontado após uso para limpeza e desinfecção, sendo remontado sem o risco de montagem errada. Permite ainda que o paciente respire normalmente, conectado ao aparelho, diferente das bolsas, que somente carreiam oxigênio para o paciente na fase inspiratória e sob pressão, e permite a definição da PEEP. Suas aplicações incluem reanimação de recém-nascido em sala de parto, ressuscitação cardim respiratória em unidades de emergência e resgate, seja dentro ou fora de unidades hospitalares, ventilação pulmonar mecânica transitória de pacientes enquanto se aguarda a instalação do respirador automático ou em caso de pane elétrica dentro de UTIs.
Fonte:
J Pediatra (Rio J) 1994;70(6):354-358:novo equipamento, ressuscitação respiratória.
http://www.jped.com.br/conteudo/94-70-06-354/port.asp?Cod=680
Acesso em julho de 2005