No intuito de viabilizar no Brasil a utilização de Terapia Fotodinâmica no tratamento de pacientes com câncer, o médico da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) João Paulo Tardivo criou o RL 50, aparelho utilizado como fonte de radiação luminosa, em substituição à atual tecnologia, que emprega equipamento de laser, com custo aproximado de US$ 150 mil. A Terapia Fotodinâmica é um método de tratamento já conhecido, mas até então inacessível para os padrões econômicos do País. Para aplicá-la são necessários dois elementos básicos: fonte de radiação luminosa e substância fotossensibilizante. Além do equipamento de laser, as substâncias adotadas são as derivadas de hematoporfirina, que podem ser utilizadas na forma de pomada ou injetadas na veia, e cuja aplicação custa em torno de US$ 2 mil (cada).
Em 1995 um grupo de cientistas alemães publicou um trabalho sobre Terapia Fotodinâmica, com a utilização do Azul de Metileno como substância fotossensibilizante, que se trata de uma molécula de fácil obtenção, barata e segura (sem toxicidade). Como os resultados foram satisfatórios, foi escolhido o Azul de Metileno como molécula fotoativa, mas faltava uma fonte de luz que substituísse o laser, tendo necessariamente que ser eficaz e de baixo custo. “Com essa ideia em mente, comecei a busca por um equipamento capaz de emitir a iluminação necessária. Precisava de algo que fosse leve, resistente ao calor, de fácil manuseio e que tivesse ventilação. E o meu primeiro modelo partiu de um secador de cabelos. Retirei tudo que não interessava e fiquei com a estrutura plástica e leve, a ventilação, e adicionei uma lâmpada específica, assim como os filtros específicos. Esse primeiro protótipo ficou pouco elegante, mas a experiência que tinha com o uso de laser me dava confiança de que daria certo”, comentou Tardivo.
O aparelho teve mais dois protótipos até chegar ao modelo final. Denominado RL 50, o equipamento, que tem custo 100 vezes menor que o de laser, foi mostrado a um engenheiro, amigo do médico, que o levou ao setor de Biofísica da Universidade de São Paulo, a fim de promover as aferições necessárias. Durante os testes, foi medido o comprimento de onda emitido pelo aparelho e, por meio do espectrofotômetro, o comprimento de onda absorvido pelo Azul de Metileno. O corante (Azul de Metileno) é injetado diretamente no tumor com uma seringa. A região da lesão fica azulada e passa a ser irradiada pela fonte luminosa. Dessa forma, apenas o corante absorve a energia da luz, fazendo com que sejam formadas moléculas denominadas Oxigênio Singleto, que irão oxidar e provocar danos celulares, responsáveis por matar a célula cancerígena. “O processo também é controlado para que haja uma destruição seletiva. Conseguimos, por esse método, que apenas o tecido doente seja atingido, preservando toda a área vizinha saudável”, explicou Tardivo.
Os resultados comprovaram que, na teoria, o RL 50 e o Azul de Metileno eram perfeitamente compatíveis. O próximo passo foi apresentar um projeto de pesquisa para o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, solicitando permissão para utilização da Terapia em pacientes oncológicos, em tratamento nos ambulatórios da Faculdade e nos hospitais por ela gerenciados. A permissão para os testes foi concedida pelo Comitê de Ética e cinco pacientes assinaram termo de consentimento informado, concordando em participar da pesquisa. Foram tratados casos de tumores superficiais, sem possibilidade de tratamento sistêmico, como por exemplo melanoma metastático de pele, carcinoma baso-celular, carcinoma espino-celular e, ainda, um caso de metástase de pele de carcinoma de mama. Os resultados foram compatíveis com os da literatura atual sobre Terapia Fotodinâmica, com 80% de resposta dos pacientes (60% de cura total e 20% de melhora). A cada aplicação eram feitos o controle fotográfico e a medida da lesão. Os pacientes voltavam a cada 7 ou 14 dias e eram submetidos, em média, a três sessões da Terapia por lesão (variando de acordo com o tamanho do tumor e de sua resposta ao tratamento).
A criação do RL 50 foi fruto da pesquisa do Dr. Tardivo, que a defendeu como tese de mestrado. Os resultados práticos confirmaram a eficácia da Terapia Fotodinâmica com o novo equipamento, que imediatamente foi patenteado. Esse sucesso viabilizou a utilização do método no Brasil, onde a maior parte da população, até então, não teria recursos para custear tal procedimento. Durante a defesa de tese do médico, que aconteceu no último dia 10 de março, o orientador da pesquisa e professor Titular da Disciplina de Oncologia e Hematologia da FMABC, Dr. Auro del Giglio, garantiu que a instituição, através de sua disciplina, destinará um setor específico para este tipo de tratamento, contemplando o tripé que rege a Faculdade (ensino, assistência e pesquisa) e possibilitando que Tardivo e sua equipe ampliem seus conhecimentos sobre o assunto. João Paulo Tardivo é médico, formado pela Faculdade de Medicina do ABC, com especialização em Cirurgia Vascular. Após 10 anos de formação, Tardivo passou a se dedicar ao estudo do laser na medicina e há 17 anos segue essa vertente, principalmente nas aplicações dermatológicas. Além disso, o médico também é Coordenador da Área Vascular da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia.
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