De olho no promissor mercado de fontes alternativas de energia, a cearense Sanford Empreendimentos, empresa de engenharia elétrica, vai investir na produção em escala de turbinas eólicas de eixo vertical, com foco no mercado de concessionárias de água, empresas de irrigação, piscicultura, indústrias e condomínios. “Esse tipo de equipamento se adapta a projetos que exigem bombeamento”, adianta o diretor Dirceu Sanford, proprietário da tecnologia, patenteada desde 1999 junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). O projeto técnico começou a ser detalhado há quatro anos, a partir dos cálculos do engenheiro coronel Heraldo Sanford, pai de Dirceu. De acordo com o empresário, o Nordeste tem a maioria da área no semi-árido e o sistema poderá funcionar como alternativa para setores floricultura e fruticultura irrigadas, além da criação de camarão em cativeiro. “Não existe equipamento semelhante no mundo”, afirma.
No futuro, a idéia é testar a eficiência das turbinas eólicas ligadas a geradores elétricos para bombeamento de petróleo em poços terrestres de baixa vazão, comuns na região Nordeste, ar comprimido industrial, dessalinizadores, refrigeração (fabrica de gelo) e médios engenhos. “Creio que isso será possível no prazo de dois anos”, aposta. Sanford trabalha com a perspectiva de iniciar as obras da fábrica, orçada nesta primeira fase em R$ 1 milhão (destinados a estrutura física e equipamentos), ainda em 2004. A prefeitura de Icapui, litoral do Ceará, distante a 192 quilômetros de Fortaleza, já disponibilizou área de 5 hectares para abrigar a indústria. “É o lugar ideal em função do potencial eólico, considerado um dos melhores do Nordeste, segundo avaliação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, diz. O diretor acredita em boas chances de viabilizar o projeto da nova indústria, pois o investidor não precisaria desembolsar recursos. “O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) tem linha de crédito para projetos de energia alternativa e precisamos do aval de parceiros para o projeto”, resume.
Definidos os recursos para a construção da fábrica, o diretor estima que em três meses poderá iniciar a produção. O modelo definido para a fábrica não exige equipamentos sofisticados e tem condições de atender a demanda, independente do volume de encomendas, a partir da estratégia operar com empresas construtoras. No local vai funcionar também um Centro de Pesquisas Tecnológicas, implementado em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a proposta de estudar e fomentar novas tecnologias associadas ao produto. Até agora, foram gastos cerca de U$S 100 mil em pesquisa e desenvolvimento do protótipo. A fase atual contempla ajustes para a construção do primeiro modelo destinado a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), parceira na investida. “É um projeto importante para a companhia e estamos trabalhando para viabilizar o projeto da turbina no próximo ano”, confirma o gerente de energia e automação da concessionária, Renato Walter Rolim Ribeiro.
A Cagece vai destinar R$ 150 mil do montante de R$ 723 mil necessários para a produção. Os demais R$ 573 mil correspondem ao aporte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que já sinalizou para a liberação de recursos, de acordo com Sanford. A soma inclui também gastos com instrumentação e estudos do Parque de Desenvolvimento tecnológico (Padetec). O empresário afirma que a produção em escala vai assegurar redução considerável no preço do equipamento, com preço sugerido de R$ 480 mil. Sanford diz que dependendo da operação, caso de áreas irrigáveis de 25 a 30 hectares destinadas a agricultura, por exemplo, o investimento tem retorno no prazo de três a quatro anos. O modelo de equipamento que será utilizado pela Cagece envolve estrutura de concreto armado e reservatório de água de 400 metros cúbicos na parte superior da estrutura, turbina em aço, com rolamentos nas extremidades do eixo; 12 palhetas (3mx8m) de fibra de vidro preenchida com poliuretano; sistemas de freio a tambor e de bombas d”água e capacidade de 50 mil litros/hora. O equipamento-modelo, com carcaça em concreto armado, de 18,5m de altura e 13m de diâmetro; 12 pilares (0,2mx3m), 5 lajes, vai ser instalado em Iparana, litoral do Ceará.
“A partir dessa operação vamos avaliar o desempenho do equipamento e definir com maior segurança os modelos para produção”, assinala. O monitoramento ficará com o Padetec, encarregado de acompanhar o trabalho durante o ano. “Em 30 dias de operação já teremos condições de avaliar a produtividade e, se for o caso, corrigir eventuais falhas”, acrescenta. A turbina eólica de eixo vertical tem como diferencial o sistema de defletores que direcionam o vento para a parte produtiva do rotor móvel. Segundo o empresário, o equipamento também utiliza o princípio do tubo Venturi no acionamento da turbina, assegurando grande rendimento, e maior velocidade do vento. “Além disso, funciona com ventos fracos, pode ser protegida de grandes velocidades e é silenciosa”, enumera. O projeto da Sanford voltou a cena em novembro passado, durante o workshop Brasil-Canadá – Oportunidades de Cooperação em Inovação Tecnológica, promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Finep e governo do Canadá -, que mostrou interesse pelo equipamento. “Recebemos o convite para apresentação em Montreal, em maio do próximo ano, quando haverá uma rodada de negócios com empresários canadenses do setor de energia sustentável”, adianta.
Sanford planeja acertar parceria de representação no Brasil, com fabricante turbinas eólicas de eixo horizontal (tri-pá) para geração de energia elétrica, nos moldes das turbinas instaladas no litoral cearense. “Esse é um novo negócio que vai acrescentar ao empreendimento que estamos iniciando. Os investimentos do governo brasileiro em energia alternativa, previstos para até 2007 e com foco no Nordeste, são substanciais.” O trabalho da empresa começou em 1998, com testes de concepção construtiva desenvolvidos em Fortaleza e no Rio de Janeiro, envolvendo 5 protótipos. Em 1999, o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), ligado ao BNB, liberou recursos da ordem de R$ 60 mil via Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundeci), contemplando um dos protótipos. Em maio do ano passado, a proposta foi selecionada para a 1ª Etapa do Edital CT-Energ/Empresas: Finep 02/2002. Dados da empresa apontam que, em avaliação preliminar feita via concessionárias de água e energia elétrica, secretarias de irrigação, Petrobras e fábricas de bebidas, o potencial de consumo é de 200 turbinas eólicas de eixos verticais nos próximos 5 anos. A soma não inclui exportações.
A patente de invenção PI9901726, refere-se a “ROTOR EÓLICO DE EIXO VERTICAL” e componentes quem formam um conjunto de equipamentos denominado “REEV”, para uso de aproveitamento da energia Eólica, e tendo como finalidade o bombeamento dágua, geração de energia elétrica e refrigeração. Este equipamento é composto de: Rotor, Carcaça, reservatório dágua, estrutura e sistema eletro mecânico.
O litoral nordestino tem o maior potencial eólico do País, concentrado principalmente nos Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. Foi esse fato, aliado ao apoio recebido pela prefeitura de Icapuí, que cedeu um terreno para a instalação da fábrica nas dunas, que definiu o município como sede do empreendimento. A estrutura será erguida a uma altura de 30 metros acima do nível do mar e a dois mil metros da praia, localização totalmente beneficiada pela confluência dos ventos. Em princípio, as novas turbinas eólicas serão utilizadas no bombeamento de água para salinas, viveiros de camarão e agricultura irrigada e, posteriormente, para a geração de energia elétrica, ar comprimido industrial, poços de petróleo em campos terrestres, pequenos engenhos, desestabilizadores e, inclusive, fábricas de gelo.
O novo sistema, tipo sagônio, ou seja, com defletores que direcionam o vento para a parte útil da turbina, aumentando seu rendimento, terá capacidade para bombear 50 mil litros de água/hora. Segundo Dirceu Sanford, diretor operacional da Sanford Empreendimentos (empresa que concebeu o projeto), a vantagem da utilização das turbinas de eixo vertical em relação as de eixo horizontal é que, além da incidência de força dos ventos ser maior, o eixo que aciona as máquinas fica no solo, facilitando a desativação do gerador e das bombas em caso de problemas. Em meia hora, está pronta para funcionar outra vez. No sistema horizontal, como o gerador fica em cima, é preciso inclinar a torre e desmontar todo o equipamento. As turbinas deverão ser lançadas no mercado em março do próximo ano contando com financiamento do BNDES e do BNB, com potência de 20 a 50 cavalos. Os equipamentos estão em fase de levantamento de custos devendo ter os preços definidos apenas em março de 2005, aproximadamente, quando a fábrica já deverá estar funcionando.
Fonte:
JORNAL GAZETA MERCANTIL DATA: 08/12/03 ON-LINE “Sanford inicia aposta em turbinas de eixo vertical”
http://www.noolhar.com/opovo/economian/396594.html
acesso em setembro de 2004
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