Automóveis

Sabiá 4

Alunos da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e da Federal de Itajubá (Unifei) são os únicos representantes brasileiros na 18ª edição da Shell Eco-Marathon, competição mundial que premia protótipos de veículos com o melhor design, o maior aproveitamento de combustível e a melhor performance. O Sabiá 4 foi desenvolvido no curso de Projeto de Produtos da UEMG e já foi premiado duas vezes na competição. Em 1994, o Sabiá 1 recebeu o Prêmio de Honra do Design e em 2000 foi condecorado com a menção especial para equipe estrangeira.

Em 2002, a parceira com a Unifei teve como objetivo a criação de um modelo com desempenho superior aos protótipos anteriores. Segundo o coordenador da iniciativa, professor Jairo Drumond, o Sabiá 4 pode alcançar até 800 km com um litro de combustível. Na prova na França, o carro contudo atingiu apenas cerca de 480 quilômetros com apenas um litro de gasolina. Apesar do desempenho de fazer inveja a qualquer carro popular, que faz no máximo uns 15km/l, o carro brasileiro perdeu de longe para um protótipo francês, que percorreu 3.492 quilômetros com um litro de gasolina. O coordenador do trabalho pela Unifei, Laércio Caldeira, afirma que houve alguns problemas técnicos e apontou a diferença de investimentos para esse tipo de pesquisa. Enquanto o carro brasileiro custou entre R$ 20 a R$ 30 mil, o vencedor teve investimentos de US$ 250 mil. Para Caldeira, uma das principais conseqüências do baixo investimento foi a composição da estrutura da carroceria. A idéia inicial era montá-la em fibra de carbono, o que daria ao veículo um peso de 40 quilos. 

Os veículos que participam da prova não se assemelham aos de passeio – a inspiração vem dos carros de fórmula 1. O desenvolvido pelo grupo brasileiro tem um computador de bordo que monitora o consumo de combustível, lugar para apenas uma pessoa, altura máxima de 1 metro, largura de 1,10m e comprimento de 2,80m. A participação no campeonato começa com uma avaliação de segurança, feita por uma comissão que verifica frenagem, entre outros itens. Com a aprovação, os veículos são autorizados a participar de treinos e prova, que consiste em percorrer seis vezes um circuito de 3.200m na cidade de Nogaro. O protótipo, construído com recursos de empresas locais e apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), levou nove meses para ficar pronto. Para desenvolvê-lo associou-se a experiência dos alunos de design da UEMG, com a programação visual, e da Unifei, encarregados das partes mecânica e eletroeletrônica. O carro foi montado com um motor especial importado da japonesa Honda, e carenagem em fibra de vidro. A idéia de Caldeira é buscar um projeto com a Embraer para o uso da fibra de carbono, mais leve e resistente, usada em aviões e helicópteros. 

Mas mesmo com o apoio de algumas empresas de Minas Gerais, só foi possível fazer a carroceria em fibra de vidro, o que aumentou o peso do carro em mais 43 quilos. “Com essa mudança, reduzimos pela metade o desempenho do protótipo”, disse. Caldeira afirmou também que, como a equipe brasileira foi prejudicada por um problema mecânico que travou um pouco o veículo – problema reconhecido pela própria Shell – a empresa aceitou realizar um novo teste do prótótipo aqui mesmo no Brasil, com a medição de técnicos do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). Ele disse, no entanto, que o protótipo brasileiro despertou pelo seu design, considerado arrojado pelas demais equipes. Caldeira conta que a equipe foi assediada pela mídia européia, tanto que a programação visual do veículo foi matéria no maior canal de televisão da França, o CN1. “Sem sombra de dúvida, tínhamos o melhor design”, aponta. “Mostramos uma tendência inovadora”, completa. “A troca de informações sobre a tecnologia junto a algumas equipes e o intercâmbio com outros pesquisadores foi de extrema importância para o aprimoramento do nosso trabalho”, afirmou Caldeira. Pintado em amarelo metálico, cor que destaca seu desenho, o veículo pesa 45 Kg e tem 3,95 metros de comprimento e 1,20 de largura. O Sabiá 4 foi desenhado pelos estudantes a partir de linhas geométricas retangulares e com frisos bem definidos, seguindo o estilo de design chamado de new edge. As formas do protótipo também foram influenciadas pelo trabalho do arquiteto italiano Rafaello Berti, que projetou a Prefeitura de Belo Horizonte e a Santa Casa. 

Durante o evento, os carros são obrigados a completar seis voltas no circuito em menos de 51 minutos e com a menor quantidade de gasolina possível. Uma série de elementos, como o computador de bordo que controla o motor e evita a combustão desnecessária, foi implantada pelos estudantes para ampliar a autonomia do veículo brasileiro. O princípio da prova: seja com 3 ou 4 rodas, em madeira ou em fibra de carbono, o veículo deve percorrer seis voltas do circuito (3636 Km) num tempo máximo de 51 e 56″, ou seja, uma velocidade média de 25 Km/hora, com um consumo mínimo de combustível (gasolina, gasóleo ou GPL). O consumo é de seguida medido e, por uma regra de três expresso em quilómetros /litro. Os concorrentes vêm de todas as regiões de França, mas também da Bélgica, Espanha, de Portugal, do Brasil e mesmo do Japão, como os vencedores de 2001. Eles encontram-se no circuito de Nogaro (Gers) no ambiente de uma competição de desportos mecânicos, com controles técnicos, “briefings”, medições … A única diferença, mas que é importante, é que em vez de andarem em velocidade têm de consumir um mínimo de combustível. 

Caldeira espera que os preceitos de desempenho e qualidade mostrados nas provas acelere os investimentos das empresas automobilísticas em quesitos como a rentabilidade, hoje em torno de 13km/l na cidade com carros 1.0. “Se nós conseguimos fazer, por que eles não podem?”, questiona. Os passos já começam a ser dados. “A Audi lançou na Europa um carro de alumínio que pesa entre 700kg e 800kg. Com certeza já dá uma bela reduzida no consumo”, conclui. Já a fibra de carbono, que é um material aeronáutico, é outra possível promessa. “Obviamente sai caro, mas é uma questão de melhorar a tecnologia de produção para abaixar os preços”, analisa Caldeira. 

Fonte: 
http://www.terra.com.mx/Automovil/articulo/094269/
 
http://www.uvb.br/br/atualidades/noticias/052002/automovel_desenvolvido.htm
http://www.shell.pt/pt-pt/content/0,6472,37558-70227,00.html
 
http://galileu.globo.com/
 
acesso em julho de 2002
http://www.radiobras.gov.br/ct/materia_050702_6.htm
 
acesso em setembro de 2002
 
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