Ralf Richardson da Silva sabe que é um sujeito excêntrico. “Cada vez que eu faço um projeto me chamam de louco”, ele diz. Só que dessa vez ele foi ainda mais longe: chegou ao gabinete do ministro da Cultura, essa semana, anunciando: “O pirata está morto!”. A convicção de Ralf se baseia numa patente que ele registrou recentemente, um novo conceito de metalização do compact disc usado para armazenar músicas, o conhecido CD. O sistema é simples: cada fabricante de CD injeta os dados de uma maneira; Ralf reclama da venda dos piratas que já ocupam cerca de 60% do mercado nacional. “Na Venezuela, devido a essa atuação clandestina, as gravadoras estão falindo, existindo poucas no país. Sei que está difícil vender 500 mil CDs. Mas com esta nova tecnologia, o artista poderá vender até 3 milhões”, diz.
Ralf inventou uma forma alternativa de fracionar a informação no material, uma forma que permite a mesma reprodução, e além de tudo inviabiliza a cópia. E, ao patentear o sistema, descobriu que nem a fração de informação nem o conceito tinham sido patenteados anteriormente. “Patenteei cada linha que tem o CD”. O cantor e violonista, que é 50% da dupla sertaneja Christian & Ralf, há 18 anos na estrada, diz que sua invenção é capaz de derrubar drasticamente o atual preço de custo do CD, deixando-o num patamar em torno de R$ 4 e tornando-o de difícil concorrência até para o disco de camelô.
Ele patenteou seu conceito no Brasil, Chile e também um depósito PCT. Na verdade, a estratégia do CD de Ralf consiste no barateamento dos custos de produção. O disco pirata é gravado a partir do CD virgem. O CD de Ralf é mais barato de produzir que o CD virgem. E ele pretende comercializá-lo sem a caixinha de acrílico, com as informações técnicas vazadas no disco e em envelopes de plástico. “O Samuel, do Skank, me perguntou: ‘E se eu quiser uma capa?’ Ué, faz a capa, eu disse. Se não houver a boa e velha ganância, ainda assim o CD vai continuar saindo por R$ 4”, ele pondera.
A empresa do cantor já aceitou um pedido de uma grande instituição federal para produzir CDs de brinde, e Ralf inicia sua aventura com uma encomenda de 20 milhões de CDs. “Se a capa fosse assim tão importante, por que milhões de pessoas compram aqueles CDs com um xerox tosco na frente? Eu não quero saber de vender para colecionador, para a classe média. Quero vender para o povo”, diz. O cantor conta que se reuniu com executivos das principais fábricas de produção de CD no País, como a Microservice, a Sonopress e a Videolar. “Eles reconheceram que a minha invenção é a salvação de todos nós”, garante.
“Podemos fazer um CD a R$ 4 para o mercado; e, se o pirata baixar para R$ 3, nós baixamos para 2; e, nesses R$ 4, nós já estaremos tendo 300% de lucro. Os artistas voltarão a vender milhões “. Mas Ralf sabe que a coisa não é tão simples. Pediu para falar com executivos de duas gravadoras. Um marcou e não apareceu. O outro riu. “Se eles forem espertos, eles entram já no negócio. O CD precisa ser mais barato, todo artista está pensando nisso, porque não vende mais disco. É um absurdo o que está acontecendo para a cultura do País, para a cultura mundial.
Se ninguém se interessar, eu vou montar a maior companhia do mundo. Já tem um banco interessado. O sertanejo questiona as contas da Associação Brasileira da Indústria do Disco (ABPD), que define os custos de produção de um CD em um gráfico em seu site. Segundo a indústria, cerca de 10% do valor de um CD é para pagamento de copyright. Outros 18% são destinados ao marketing do produto. E mais 18% são impostos. Ralf é polido, mas acha que esses dados são superestimados. O projeto de Ralf contra a pirataria de CDs chamou a atenção de empresários da TV japonesa NHK, que querem comprar a patente da ideia do sertanejo.
Além do CD, Ralf também patenteou sua invenção para a produção de videogames e DVDs. Sua reunião com as fábricas foi para mostrar um trunfo prosaico: ele analisou a forma de metalização de CDs de cada grande fabricante e descobriu que cada um tem um padrão. “O ministro Gilberto Gil me perguntou se uma fábrica, poderia piratear o CD. Eu respondi que se piratearem, eu saberei quem foi, já que cada um tem um padrão”. O ministro prometeu apoio. “O ministério vai acompanhar e ajudar no que for preciso. É uma novidade. Um produto barato, capaz de competir com os da pirataria”, afirmou o ministro.
Em março de 2005, a Rádio Mídia System apresentou o Semi Metalic Disc (SMD), uma nova alternativa de reprodução musical, que barateia a venda dos CDs. O lançamento oficial foi com os artistas Chrystian & Ralf. Ralf é o detentor da patente, que tem nível internacional: “É um método revolucionário. Fiquei cinco meses no ministério para acertar tudo. A patente é minha e é internacional. Os japoneses quiseram comprar e me ofereceram 150 milhões de dólares. Mas esse negócio é nosso e já vale mais do que isso. Podemos dizer que o SMD é o genérico do CD”, disse o cantor. Em 30 de agosto, o cantor fechou acordo com o Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, para que eles vendam lançamentos em SMD. Desde o início do mês de setembro, os camelôs da capital paulista já estão vendendo os produtos por apenas R$ 4. O valor é impresso na capa do CD.
“Esse valor de R$ 4 é impresso na capa. Isso só eu posso mudar. Em qualquer lugar do mundo o valor será esse. É para evitar mudança de preços”, acrescentou. Uma das diferenças do SMD para o CD é a gravação da ficha técnica no próprio produto. A novidade vem sem encarte e com embalagem simples. A capacidade do SMD é de até 70 minutos de áudio ou cerca de 500Mb de dados. “Tem gente que achou que o SMD teria apenas 3 ou 4 músicas. Esse é o mínimo, mas o SMD pode ter até 25 faixas, como é o caso de um produto que vamos lançar só de músicas punk. Então, você vê, é a mesma coisa que o CD”, disse Ralf. O SMD é também a maior distribuição do mercado fonográfico, pois somente em São Paulo são 23 mil pontos de venda cadastrados pela prefeitura.
“Pode-se dizer que eu sou o maior vendedor de piratas legalizados do mundo .Faço isso pela arte! A população tem que ter acesso a arte. Vamos entrar para a história com isso”, acrescentou. A lista de artistas que já disponibilizaram seus trabalhos em SMD é grande. Além de Chrystian e Ralf, bem como Syang, estão Baranga Rock, Exaltacruz, Jailor, J. Guilherme & Gabriel, Klauss, Marcelo & Gabriel, Mariane, SinS, Terminal Guadalupe e Zenicodemus. “Tem vários outros artistas que eu conheço que estão esperando acabar seus contratos com as gravadoras para aderir ao SMD”, disse. Quem também aderiu à técnica foi a cantora Syang. A bela gravou seu novo disco, que tem produção de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, e disponibilizará nas bancas no sistema SMD.
Em breve, novos formatos também serão disponibilizados no mercado. Segundo Ralf, estão na lista o SMDV – Semi Metalic Disc Video e o SMDG – Semi Metalic Disc Game. O SMDV é o novo formato de mídia para a reprodução de DVDs. Possuindo as mesmas características técnicas do DVD e a mesma qualidade, o SMDV será comercializado entre R$ 12 e R$ 15 – hoje o preço médio de um DVD é de R$ 40. Já o SMDG é uma nova mídia para os jogos de vídeo game. O produto, com as mesmas características e qualidade do tradicional, assim como o SMD e o SMDV, irá reduzir consideravelmente o preço ao consumidor final
A Microservice -maior fabricante de CDs, DVDs e games na América Latina- assina em agosto de 2007 um contrato de exclusividade por 20 anos com o cantor sertanejo Ralf pelo uso da patente do SMD (Semi Metalic Disc). Essa tecnologia, segundo a empresa, permite colocar nas lojas produtos a preços de camelô. “Os preços serão impressos nos produtos”, afirma Isaac Hemsi, diretor-geral da Microservice. Há duas explicações para a diferença de até 80% entre o preço de CDs, DVDs e games convencionais e os gravados em SMD. Os discos comuns têm ligas metálicas reduzidas pela metade na versão SMD. “Só aí já vai uma queda de 30% no custo”, afirma o cantor Ralf, que obteve a patente com a ajuda de especialistas e o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2003.
A redução do preço aumenta porque, pelo contrato, artistas e desenvolvedores de software abrem mão das margens de lucro por disco para recuperá-las com o volume de vendas. “A ideia é retomar o que se perdeu com a pirataria”, diz Hemsi. A Folha apurou que a Nintendo, uma das maiores fabricantes de games do mundo, está prestes a fechar um contrato para lançar seus cinco jogos de maior sucesso em SMD. O preço seria equivalente a R$ 15. Nos camelôs, eles são vendidos por até R$ 18, e, nas lojas, o consumidor chega a desembolsar até sete vezes essa cifra.
Ralf procurou ajuda de amigos especialistas em informática e começou a desenvolver o SMD. O projeto ficou pronto em 2003, quando conseguiu um contato no Ministério da Ciência e Tecnologia. “O governo viu ali uma chance de combater a pirataria”, diz. Com o apoio público, ele obteve a patente mundial. Ele afirma ter pago R$ 3 milhões pelos registros em mais de uma dezena de países. As pretensões da Microservice e do cantor Ralf são grandes. Como a patente do SMD é mundial, qualquer cliente interessado, no Brasil ou no exterior, terá de recorrer aos serviços da Microservice e de Ralf. No mundo, as perdas anuais com a pirataria giram em torno de US$ 5 bilhões.
Fonte: http://musica.terra.com.br/interna/0,,OI232721-EI1267,00.html
acesso em dezembro de 2003
http://www.chrystianeralf.com/cr-home.htm
acesso em julho de 2004
O ESTADO DE S.PAULO, 12.12.03 – Caderno 2, “Músico patenteia invenção que, garante, torna CD oficial mais barato do que o do camelô”, JOTABÊ MEDEIROS
Tecnologia reduz preço e pode combater pirataria, Folha de São Paulo JULIO WIZIACK DA REPORTAGEM LOCAL 29/08/2007
http://www.geek.com.br/modules/noticias/ver.php?id=2675&sec=7778
http://ofuxico.uol.com.br/Materias/Noticias/noticia_2673.htm