Uma técnica de cirurgia cardiovascular que reduz em até 50% as complicações pós-operatórias de pacientes com problemas cardíacos foi apresentada e teve sua eficácia comprovada na Unifesp. A série de procedimentos desenvolvida pelo cirurgião Ricardo de Carvalho Lima permite operar artérias localizadas atrás do coração sem a necessidade de desviar o fluxo de sangue para fora do corpo – a chamada circulação extracorpórea (CEC). Segundo Lima, a cirurgia cardiovascular sem CEC é muito importante, por exemplo, para pacientes idosos, que têm a taxa de mortalidade reduzida de 8% a 16% para menos de 4% com o emprego da técnica. “A CEC é um procedimento agressivo ao organismo. Quando podemos fazer a cirurgia sem adotá-lo, reduzimos significativamente riscos de complicações pós-operatórias como lesões pulmonares e cerebrais”, diz.
A técnica desenvolvida por Ricardo Lima consiste, literalmente, em levantar o coração do paciente e deixá-lo com a ponta fora do pericárdio (membrana que envolve o órgão) enquanto a cirurgia é realizada, controlando as alterações no ritmo dos batimentos. Enquanto isso, o cirurgião pode operar as artérias que irrigam o coração, melhorando o fluxo de sangue. O procedimento, chamado “ectopia cordis temporária”, parte de uma ideia simples que não era posta em prática devido à dificuldade em evitar uma queda na pressão arterial – o que não ocorre no procedimento adotado por Lima. “Conseguimos levantar o coração sem causar hipotensão”, explica o médico. Cirurgião avaliou 616 casos – Para ter seu trabalho de doutorado validado por uma banca de especialistas, Lima mostrou os resultados da aplicação da técnica em 616 cirurgias realizadas desde 1991 – a maior parte no Unitórax – Real Hospital Português, em Recife, onde trabalha. Onze foram feitas na Universidade de Buffalo, em Nova York, onde foi utilizado um aparelho medidor de fluxo sanguíneo não disponível no Brasil para tornar patente a eficácia das operações realizadas.
Segundo o cirurgião Tomas Salerno, professor da Universidade de Buffalo, em Nova Iorque, a técnica desenvolvida por Lima se tornou internacionalmente conhecida. “Hoje a chamada “sutura de Lima” está sendo adotada em vários centros de saúde de todo o mundo”, diz. A possibilidade de realizar cirurgias cardiovasculares sem CEC foi descoberta há 18 anos pelo chefe da disciplina de Cirurgia Cardiovascular da Unifesp, Ênio Buffolo. Mas a técnica ainda não permitia a realização de cirurgias na parte de trás do coração, o que limitava o número de casos em que podia ser utilizada. “Lima foi responsável pela continuação de um dos maiores avanços desenvolvidos na cirurgia cardíaca moderna”, afirma o professor titular de Cirurgia e chefe da Divisão de Cirurgia Cardiotorácica da Universidade de Buffalo, de Nova Iorque, Tomas Salerno, que fez parte da banca avaliadora.
Procedimento permite operar artérias posteriores do coração sem desviar fluxo de sangue. A técnica de Lima é utilizada em cirurgias que tratam casos da chamada angina do peito, ou aterosclerose coronariana. O problema ocorre quando as artérias coronárias _ responsáveis pela irrigação do músculo cardíaco – funcionam de forma insuficiente, deixando o órgão mal oxigenado e em más condições para fazer circular o sangue pelo corpo. Um dos tratamentos para melhorar o fluxo é a ponte de safena, em que um fragmento de uma veia da perna (a safena) é retirado e colocado em substituição ao trecho da coronária obstruído. Quando o a região mal irrigada está na parte de trás do coração, o acesso para o cirurgião fica dificultado.
Fonte: http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed136/pesqui0.htm
Acesso em janeiro de 2003