Doenças Tropicais

Tártaro Emético

Gaspar de Oliveira Vianna nasceu em Belém do Pará em 1885. Ingressou na FioCruz em 1909, para assumir as pesquisas em anatomia patológica, até então exercidas por Rocha Lima. Ao mesmo tempo em que realiza investigações sobre a doença de Chagas, Vianna descreve em 1911 uma espécie nova do gênero Leishmania, a Leishmania brasiliensis, parasito causador da leishmaniose tegumentar americana ou leishmaniose cutâneo mucosa, doença conhecida vulgarmente como úlcera de Bauru ou “ferida brava”, incidente em diversas regiões do Brasil e da América Latina. Estuda também a ação do tártaro emético no tratamento dessa enfermidade, bem como seu uso na terapêutica do granuloma venéreo.

 

Leishmanioses são doenças inflamatórias crônicas de pele, mucosas ou vísceras, causadas por parasitas protozoários do gênero Leishmania e transmitidas por insetos hematófagos infectados denominados flebótomos. A moléstia não é nova. Foi descrita pela primeira vez em 1903 pelo inglês William Leishman. São consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das seis doenças tropicais de importância mundial e a segunda entre as causadas por protozoários, após a malária. Segundo estimativas deste Órgão (1990), a prevalência já ultrapassou 12 milhões de casos e cerca de 350 milhões de pessoas estão em áreas de risco. Embora seja de notificação obrigatória, acredita se que, para cada caso notificado, existam 4 ou 5 não comunicados. A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) ou Calazar consiste numa enfermidade infecciosa de evolução sistêmica, típica de canídeos silvestres, causada por Leishmania (Leishmania) chagasi e transmitida por Lutzomya longipalpis. Caracteriza-se por febre irregular prolongada, hepatoesplenomegalia, pancitopenia, perda de peso, desnutrição e imunossupressão, que podem levar ao óbito caso não seja instituído o tratamento adequado. A OMS estima uma incidência global de 500.000 casos por ano e, no Brasil, aproximadamente 2000 a 3000 casos. Ocorre em todos os Estados costeiros (Pará ao Paraná) e em Estados centrais como Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Em 1908, durante a derrubada das matas para construção de uma estrada de ferro no interior de São Paulo, surgiu uma doença que acometia os trabalhadores dessa construção: ferida brava, de difícil cicatrização que, em muitos casos, destruía o nariz do paciente, deformando-o horrivelmente. Em 1911, um jovem médico – Gaspar Vianna – descreveu o causador da Úlcera de Bauru denominando-o Leishmania braziliensis e, no ano seguinte, propôs terapêutica eficaz com injeções de Tártaro Emético. Um século mais um ano se passou e  ainda tratamos as leishmanioses com antimoniais (o antimônio embora mais eficaz, é aplicado em injeções que causam dores horríveis. Por sua causa, alguns doentes desenvolvem problemas no coração, nos rins e no fígado). Continuamos mais perto da estaca zero que do “zero defect”. A terapêutica proposta por Gaspar Vianna salvou e continua salvando milhões de vidas na África, Ásia e na própria Europa. A partir dos trabalhos desse genial médico brasileiro, os doentes de calazar – forma visceral e mortal das leishmanioses – passaram a ter esperança de sobrevivência. A única forma de tratamento da leishmaniose no homem é por meio de aplicações de antimônio. Em 1912, o pesquisador Gaspar Viana incorporou o tártaro hermético ou antimonial ao tratamento da leishmaniose, que até então era empírico. O medicamento foi sendo aperfeiçoado até chegar ao antimônio pentavalente, este menos tóxico, comercializado no Brasil, pela Rhodia, com o nome de Glucantime. Empregado no tratamento da leishmaniose, o produto foi amplamente utilizado no Brasil, o que permitiu reduzir o índice de mortalidade (70% a 90%) causada pela leishmaniose visceral ou calazar, e em vários países da África e da Ásia.

Segundo Olympio da Fonseca, “o prognóstico das leishmanioses viscerais, antes da introdução dos antimoniais por Gaspar Viana era sempre altamente desfavorável, a morte sendo de 70% e às vezes atingindo 98%. Após o uso da nova medicação, a mortalidade baixou para 20%”. No tratamento da Leishmaniose Cutâneo-Mucosa as drogas de primeira escolha continuam sendo os antimoniais pentavalentes, ou seja, meglumina antimoniais pentavalentes, ou seja, meglumina antimoniato e stibogluconato de sódio. Em caso de insucesso com estas substâncias pode-se utilizar outras drogas como Anfotericina B e Pentamidina. Todas são de administração injetável, com várias aplicações, dificultando a adesão dos pacientes. Fatores imunogenéticos podem retardar consideravelmente a cicatrização das lesões. As condições eco epidemiológicas da Amazônia não permitem a instituição de medidas profiláticas adequadas. Não existe vacina disponível para uso clínico.

Gaspar Vianna morreu em 1914, aos 29 anos, com apenas seis anos de exercício da Medicina, em consequência de uma contaminação adquirida durante uma autópsia que realizava em um cadáver de um tuberculoso.

 

Fonte:

http://www2.prossiga.br/ocruz/Trajetoria/gloria/gasparviana.htm

http://www4.prossiga.br/chagas/sobrech/sec/eh-584.PDF

http://revista.fapemig.br/2/leishmaniose/

http://www.anbio.org.br/jornal4/pag11.htm

http://157.86.113.18/pages/personalidades/GasparOliveiraVianna.htm

 

acesso em dezembro de 2001

http://servicos.jcruzeiro.com.br/colunas/artigos/20020411ar.shtml

http://www.geocities.com/HotSprings/Spa/7804/arquiv53.htm

http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/leishmanioses.htm

http://www.lincx.com.br/lincx/orientacao/esp_medica/doencas_tropicais.html

http://www.terra.com.br/istoe/1655/medicina/1655_tratamento_segunda.htm

 

acesso em junho de 2002

Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 186