Os resíduos da fabricação de papel podem ser utilizados na produção de blocos cerâmicos. Em sua composição encontram-se 30% de celulose e 70% de caulim, material utilizado na produção de porcelana, o que proporciona blocos com melhor acabamento e maior resistência ao impacto. Além disso, resolve-se o problema de disposição deste resíduo sólido, reduzindo os custos e riscos ambientais para as indústrias de papel. Este é o resultado de uma pesquisa realizada pelo Departamento de Ciências Florestais e pelo Instituto de Pesquisas Florestais (IPEF), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da USP em Piracicaba, em parceria com a Votorantim Celulose e Papel (VCP). Adriana em 1993, ao concluir sua tese de mestrado, iniciou um estudo sobre o material descartado da Votorantim. O estudo demonstrou que os resíduos poderiam servir para o uso das indústrias cerâmicas instaladas na região. Segundo a professora Adriana Nolasco, responsável pelo projeto, o processo de fabricação de blocos com o resíduo é o mesmo utilizado na produção dos blocos convencionais. “A única mudança é a adição de resíduo à argila que deve ser de 10%, para a fabricação de blocos, e 30% para tijolos comuns. O resíduo e a argila são misturados num pátio externo das cerâmicas (onde normalmente fica depositada a argila), sendo movimentado por tratores”, relata. “Depois a mistura é conduzida para um silo misturador, onde o material é homogeneizado e, a seguir passa pela extrusora, onde recebe a forma do bloco. Após a secagem o bloco ou tijolo é queimado”.
De acordo com a professora, o resíduo sai da produção de papel na forma de um efluente. “É feita uma decantação e prensagem, e a fase sólida, que estamos aproveitando, é separada da líquida, que passa por tratamento biológico para redução da turbidez e da demanada bioquímica de oxigênio (DBO), antes de ser descartada”, conta. “A fase sólida é composta por cerca de 70% de caulim, argila de excelente qualidade, 30% de celulose e somente traços de outras substância químicas, todas dentro dos limites estabelecidos pela CETESB, não sendo tóxicas por manipulação ou suspensão no ar”. Devido ao elevado teor de umidade do resíduo (cerca de 63%), o consumo de água para obtenção da plasticidade adequada à moldagem dos blocos diminuiu. “Há redução no tempo de queima e, assim, no consumo de energia, que caiu cerca de 10%. O acabamento é melhorado e o bloco fica mais resistente a quebras durante o transporte e a construção, reduzindo perdas”, diz a professora. A VCP tem encaminhado os resíduos de sua fábrica de Piracicaba, estimado em mil toneladas mensais, para cerâmicas e olarias da região de Piracicaba.
Embora não disponha de estatísticas precisas sobre a influência do uso dos resíduos nos custos, Adriana Nolasco relata que uma das olarias que utiliza o material está vendendo o milheiro de tijolos 12% mais barato. “Mais do que o ganho do consumidor, o principal ganho é o da sociedade, pela melhor destinação do resíduo que, ao invés de ficar em aterros industriais, que ocupam grandes áreas e exigem monitoramento constante pela decomposição do material ao longo do tempo, se transformam em produtos”, afirma. Desde 1999, a Votorantim Celulose e Papel supre a demanda de quatro cerâmicas de Piracicaba, interior de São Paulo, que vem utilizando cerca de 900 toneladas de resíduos desta indústria como insumo na fabricação de tijolos. Segundo a empresa, o reaproveitamento dos resíduos evita gastos com a abertura de valas, a manutenção do terreno e dos efluentes e o trabalho de monitoramento do lençol freático. Com isso a empresa está conseguindo economizar US$ 13,5 mil por ano.
Fonte:
http://www.usp.br/agen/bols/2000/rede596.html
http://www.unilivre.org.br/centro/experiencias/experiencias/388.html
http://www.fapesp.br/ciencia446.htm
acesso em agosto de 2002
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